31/03/2004 - 7:00
Na segunda-feira 22, o chanceler Celso Amorim selou em Pequim um acordo estratégico para a economia brasileira. Ficou acertado que a Chiná irá investir nada menos que R$ 10 bilhões na expansão da malha ferroviária brasileira. Na viagem, Amorim também preparou o terreno para a missão presidencial que, em maio, desembarca na capital chinesa, com 200 empresários. O resultado da viagem de Amorim revela um novo estágio nas relações entre Brasil e China. Antes, o gigante asiático era visto como uma ameaça. No imaginário empresarial, era o país dos salários aviltantes, da pirataria, do contrabando e dos quinquilharias vendidas a R$ 1,99 nas lojas do País. Essa China ainda existe, mas a brisa que hoje sopra de lá é outra. Com 1,3 bilhão de habitantes e um PIB que há mais de uma década cresce 9% ao ano, a China transformou-se no responsável direto pela alta dos preços dos produtos exportados pelo Brasil, como a soja, o minério de ferro e o aço, e também num grande investidor. Basta ver o caso da ZTE, que está alocando US$ 500 milhões numa fábrica de equipamentos de telefonia.
Ficará em Sumaré, no interior de São Paulo. ?O mercado de consumo brasileiro, assim como o chinês, é extremamente promissor?, disse Yin Yimin, o presidente da empresa, à DINHEIRO. ?Nossas economias são complementares?. Um sinal disso foi a expansão de 80% nas exportações brasileiras para a China em 2003, que chegaram a US$ 4,5 bilhões. E o único pedido dos chineses ao chanceler Amorim foi a reclassificação do país, que oficialmente não é considerado pelo Brasil uma ?economia de mercado?.
Preços em alta. A relação entre Brasil e China tornou-se tão intensa que hoje faz parte do centro da estratégia das empresas nacionais. É o caso da Vale do Rio Doce, que tem contratos de parceria com a chinesa Bao Steel e já mandou 13 executivos para lá. Os chineses já compram 31 milhões de toneladas de minério de ferro, o que equivale a 21% da pro-
dução total. ?O crescimento extra-
ordinário da China produziu a maior alta dos preços internacionais em vinte anos?, conta Nelson Silva, diretor comercial da mineradora. Outro setor que se beneficia da expansão do consumo chinês é o mercado de alimentos. No setor
de carne bovina, o Brasil exportou US$ 100 milhões no ano passado. Para garantir o suprimento, o grupo Husbandry, maior importador de carne da China, já avisou que pretende arrendar um frigorífico no Brasil. ?Eles estão esperando o melhor momento para fechar um
bom negócio?, conta Pedro Bordon Neto, da BF Alimentos, um dos maiores frigoríficos nacionais. O efeito China na economia mundial
tem sido tão vasto que o Banco Interamericano de Desenvolvimento previu, na semana passada, que as compras asiáticas serão responsáveis pela expansão de 1% do PIB da América Latina. No Brasil, estima-se que as importações chinesas já agreguem 0,75%
por ano à produção nacional.
Pelo menos uma vez por mês, há uma missão comercial chinesa desembarcando no Brasil. Uma das mais recentes trouxe empresários do setor químico, que se reuniram no Hotel Jaraguá, em São Paulo, com colegas brasileiros. Com o auxílio de intérpretes, os mascates chineses ofereciam seus produtos. ?Os insumos deles são muitos baratos e não devem em qualidade para os de nenhum lugar do mundo?, aponta Dawson Buim Arena, da Logos Química, fabricante de componentes para química fina. É assim que os chineses fazem negócios. Assinam parcerias com empresários locais. É o que está acontecendo com a MB Madeiras, que está prestes a fechar uma joint-venture com uma empresa de lá. Os sócios da China vão entrar com recursos para um projeto de manejo florestal no Pará, onde haverá reflorestamento e o corte apenas das árvores adultas. De início, serão enviados cerca de 10 mil metros cúbicos de madeira para a China. ?O potencial é incalculável?, diz Marcos Schlickman, gerente-geral da empresa. Até a produtiva agricultura brasileira está na mira dos chineses. ?Há grupos interessados na soja?, conta Charles Tang da Câmara de Comércio Brasil-China. Hoje, a China é o maior consumidor mundial do grão ? na casa das 20 milhões de toneladas por ano. O Brasil foi o maior fornecedor, com quase um terço do total. Por isso, o Banco Santos acabou de abrir um escritório em Xangai, com mandato para procurar investidores chineses que desejem aplicar no setor de logística para exportação da soja brasileira. Não faltarão interessados.