26/11/2003 - 8:00
Um francês bebe sozinho 75 litros de vinho por ano. Um croata, 58. Um suíço, 49. E um brasileiro, 1,8. Convenhamos: se você fosse um grande produtor mundial, com US$ 700 milhões de faturamento, investiria num mercado de copos historicamente tão vazios? A Distell, maior produtora de bebidas da África do Sul (incluindo o famoso licor Amarula), também se fez essa pergunta. E não demorou para encontrar a resposta num relatório recente da Wines of South Africa (Wosa), organização que promove os vinhos sul-africanos ao redor do mundo. Diz o documento que o
Brasil tem o quarto maior potencial de crescimento para os vinhos
da África do Sul. À nossa frente, só China, Reino Unido e Bélgica. ?Então fizemos as malas e viemos para cá?, diz Werner Swanepoel, gerente-geral do braço latino-americano da Distell, recentemente inaugurado em São Paulo.
Uma vez estabelecido, o desafio do executivo agora é provar ao consumidor local que na África do Sul ? o maior expoente do chamado Novo Mundo da enologia ? são feitos vinhos tão bons quanto na França ou na Itália. Se depender dos especialistas nacionais, está aí algo que não deve dar muito trabalho. ?Sou fã de carteirinha dos vinhos sul-africanos?, diz Arthur de Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers. ?A qualidade é excepcional e o preço, melhor ainda. É difícil encontrar produtos com custo-benefício tão interessante.? Fabricante dos premiados Tukulu e Fleur du Cap, a Distell traçou a estratégia de fazer o consumidor brasileiro vencer o eventual preconceito e experimentar o produto.
O primeiro passo ? tornar os rótulos da companhia conhecidos do grande público ? já foi dado. A companhia fechou uma parceria com o Grupo Pão de Açúcar. Não é comum a indústria do vinho vender diretamente ao varejo, sem a presença de atacadistas ou importadoras. ?Mas cortar intermediários significa conseguir preços melhores para o consumidor?, explica Patrícia Maltez, gerente de negócios da filial. ?O Nederburg, um vinho de R$ 80, será vendido por R$ 40 no Pão de Açúcar.? Mas que a palavra ?popularizar? não venha à cabeça de ninguém. Patrícia avisa que os vinhos de butique da Distell estarão nas cartas dos restaurantes mais refinados do País, ao lado dos melhores bordeaux e borgonha. O plano é levar sommeliers de casas tradicionais para conhecer as 14 vinícolas da empresa na África do Sul. O primeiro foi Manoel Beato, do Fasano (SP).
O mercado brasileiro de vinhos importados é de 2,8 milhões de caixas ao ano ? ou R$ 200 milhões. ?Queremos 10% desse total em três anos?, diz Swanepoel. A Distell também está assumindo no País a comercialização do Amarula, que é o seu produto mais conhecido no mundo. O licor vende 48 mil caixas anuais por aqui (R$ 25 milhões). Swanepoel acha pouco. Ele vê espaço para pelo menos 60 mil caixas em 2004. Por isso, está fazendo uma dobradinha com a Baccardi para distribuir o produto em maior escala. O Amarula, embora seja a ?cara? da Distell em 87 países, representa apenas 8% de sua receita de US$ 700 milhões. O grosso (60%) vem dos vinhos. E, como diz a música infantil, é com eles que a marca do elefante (estampado no rótulo do Amarula) pretende incomodar muita gente.