11/05/2012 - 6:00
DINHEIRO ? Qual a avaliação do sr. sobre o ambiente de negócios no Brasil?
SINGER ? O brasileiro tem uma tremenda energia criativa. É difícil de descrever, mas é fácil de sentir essa energia. Você a vê na música, no esporte, na arte, nos bares, nas ruas, na dança e em vários momentos do dia a dia do brasileiro. Vocês acham que isso é uma coisa comum, mas escute bem o que eu estou dizendo: não é. Vários países desenvolvidos adorariam ter essa energia. A criatividade faz parte do processo de inovação. As pessoas confundem e acreditam que inovação é uma questão meramente tecnológica. A inovação tem a ver com entender o que os consumidores querem, contar histórias, design, música, alma… Enfim, o ambiente aqui é vibrante. Os empreendedores precisam de grandes problemas. A definição de um empreendedor é que ele enxerga uma oportunidade onde a maioria vê um problema. E o Brasil tem muitas oportunidades.
DINHEIRO ? O que o governo poderia fazer para estimular essa energia criativa?
SINGER ? A meta do governo deveria ser a seguinte: sair do caminho dos empreendedores, deixá-los fazer o que sabem fazer, entender quais são os problemas deles e parar de colocar obstáculos.
DINHEIRO ? É mais fácil ser empreendedor em Israel?
SINGER ? Como regra, é muito difícil ser um empreendedor. E isso vale para todo o planeta. Aquele que empreende sempre tem uma grande ideia, que a maioria das pessoas definiria como frouxa ou muito arriscada. Esse alerta tem um fundo de verdade, pois muitas start-ups falham. Os empreendedores têm que passar por essa resistência, mas também não é só uma questão de ser apenas teimoso ou esperto. A diferença de um empreendedor para alguém com apenas uma boa ideia é a persistência, a coragem de assumir riscos e capacidade de fazer. Israel tem um ambiente amigável para empreendedores. Lá, eles são também uma pequena fração da população. O diferente é a compreensão das pessoas. Não é vergonhoso falhar.
DINHEIRO ? Que fator é mais importante para Israel ser bem-sucedido nesse processo?
SINGER ? Um conceito-chave a ser observado é que inovação não é só uma ideia. É também fruto de dois outros ingredientes: determinação e disposição de arriscar. Grande parte do livro é dedicada a explicar por que Israel tem mais desses ingredientes do que outros lugares. Diria que os três principais fatores são: 1) o país inteiro é uma start-up. Foi necessário muita força de vontade, tomar decisões arriscadas e determinação para que Israel virasse um país; 2) é uma região de imigrantes, que, por sua vez, são muito determinados e capazes de assumir riscos; 3) o Exército, e isso pode soar um pouco estranho. Israel é exposta à alta tecnologia por causa da questão militar. É comum um israelense sair do Exército e usar essa experiência para criar uma empresa. Há também um impacto cultural. Nas Forças Armadas, as pessoas aprendem a trabalhar em equipe, a liderar e a cumprir missões.
As Forças Armadas foram importantes para disseminar o empreendedorismo em Israel.
DINHEIRO ? Na América Latina, o Exército ainda tem sua imagem vinculada às ditaduras militares e sofre restrições de parte da opinião pública. Isso poderia comprometer o empreendedorismo de um país como o Brasil, por exemplo?
SINGER ? No Brasil, dificilmente o Exército teria o papel de estimular a inovação. Na verdade, não indicamos isso para outros países, nem gostaríamos que fosse assim para nós mesmos. Não desejaríamos estar em meio a esse conflito e gastar tanto dinheiro no setor de Defesa. Cada país tem seu caminho para inovação e isso tem de ser feito pela sua própria força, cultura e história. Mesmo Israel vai ter de aprender um novo caminho. Um dia o país vai parar de receber tantos imigrantes, menos pessoas vão servir ao Exército. Todo país tem de pensar no que faz melhor do que os outros. Talvez a vocação de um seja a tecnologia, mas não se dê tão bem em outras áreas, como marketing, vendas, administração e atendimento ao consumidor. O Instagram, por exemplo, não teve grande inovação tecnológica. Foi mais uma questão de design.
DINHEIRO ? O Instagram foi comprado por US$1 bilhão pelo Facebook. O que o sr. pensa desse negócio?
SINGER ? Para o Facebook, o Instagram valia isso porque o compartilhamento de imagens é central para a rede social. E foi o valor de US$ 1 bilhão que levou Kevin Systrom, o criador da empresa, a vendê-la. Normal.
DINHEIRO ? Os EUA também são amigáveis para os empreendedores?
SINGER ? Muita gente fala isso, mas as start-ups basicamente surgem de uma subcultura chamada Vale do Silício, que tem uma atmosfera bastante parecida com a de Israel.
DINHEIRO ? Que outras nações são boas para empreender?
SINGER ? Não consigo apontar nenhum outro país inteiro que tenha as mesmas condições. Há algumas regiões aqui ou ali, como Boston e Nova York, nos Estados Unidos, Berlim, na Alemanha, e Londres, na Inglaterra. Em breve boas novidades devem vir da China, Índia e, talvez, do Brasil. Pode ser até que já haja start-ups nesses países em desenvolvimento, só que fora do radar dos investidores.
DINHEIRO ? Como entrar de vez no radar dos investidores?
SINGER – Há um processo natural em cada lugar. Israel também ficou fora do radar, no começo dos anos 1990. O que pode ajudar são histórias de sucesso. Elas são muito importantes tanto para chamar a atenção de pessoas do Exterior quanto para legitimar as demandas dos empreendedores.
DINHEIRO ? Haveria sinergia em uma parceria Israel-Brasil?
SINGER ? Acredito que o Brasil dê muita abertura a Israel. A melhor coisa a fazer é reunir as forças de países distintos. Quando diferentes culturas são combinadas, o resultado é inovação. Com dois países, você consegue se beneficiar da força de cada um.
O Facebook, rede social de Mark Zuckerberg, comprou a start-up
Instagram por US$ 1 bilhão.
DINHEIRO ? O que as empresas brasileiras poderiam aprender com as israelenses?
SINGER ? Há um tipo de técnica universal para start-ups que vale tanto para Israel como para o Vale do Silício, que é um processo de aprendizado constante. Você descobre que precisa estar focado no problema certo, não só na solução. Aprende a entender o mercado e os seus rumores, a cometer erros e a consertá-los rapidamente, para logo depois vir com novas ideias.
DINHEIRO ? O sr. menciona no livro que a China não tem um ambiente de hostilidade contra os judeus, o que estimula convênios com Israel. Isso faz o ambiente de negócios chinês realmente atrativo? Como enfrentar as dificuldades de liberdade de expressão?
SINGER ? Não vou entrar no assunto das atribulações históricas entre judaísmo, islamismo e cristianismo. A diferença é que o Oriente não faz parte desse círculo. A China é fascinante porque é um exemplo pouco comum de Estado, com governo centralizador e, mesmo assim, com um mercado em tremenda atividade. Geralmente, governos fechados têm problemas com economias vibrantes.
DINHEIRO ? Como frear a tão temida fuga de cérebros?
SINGER ? Só há um meio de lidar com isso: tornar-se tão atraente que não tenha importância se a pessoa sair do País. Com isso, a fuga de cérebros vira uma circulação de cérebros. Pessoas vão e voltam o tempo todo. Em Israel, o setor de tecnologia ficou tão forte que muitos vão para o Vale do Silício e depois voltam. O processo de circulação é bom para o país, pois as pessoas trazem novas ideias e inquietações. Só é ruim se o processo for de mão única.
DINHEIRO ? Alguma start-up chamou sua atenção recentemente?
SINGER ? São tantos bons exemplos vindos de países tão diferentes que seria injusto listar uma ou algumas. Daqui a dez ou 20 anos, o lugar de onde surgem as start-ups vai mudar bastante. Não sei qual país vai ser líder, mas, em vez de termos dois grandes polos, ou seja, Estados Unidos e Israel, haverá criações em todos os lugares. Israel e o Vale do Silício terão que trabalhar duro para ficar no topo.