04/03/2009 - 7:00

CAIXA FORTE: a empresa repassou R$ 2,5 bilhões em impostos e dividendos à União
ESQUEÇA A IMAGEM DO velho paquiderme estatal, símbolo de corrupção de governos diversos. Os Correios faturaram no ano passado R$ 11,5 bilhões, um recorde na história da empresa. Os números são enfeitados ainda por um aumento de 13% na receita operacional, retorno sobre o patrimônio líquido de 28,3% e um lucro de R$ 800 milhões. Com o resultado, R$ 2,5 bilhões foram repassados aos cofres públicos a título de dividendos e impostos. O responsável pela façanha é um mineiro de 45 anos, sem filiação partidária, que está no cargo desde julho de 2006. Carlos Henrique Custódio é o segundo mais longevo presidente dos Correios – e o homem à frente de um grupo que pretende dar novas funções e gerar mais negócios para a empresa. Embalado por uma pesquisa elaborada pela Forbes, a qual apresenta os Correios como a primeira colocada em respeitabilidade entre as empresas de correios do mundo e a segunda do ramo de logística, Custódio está trabalhando para ampliar os serviços oferecidos pela estatal e transformá-la em mais do que uma mera entregadora de cartas. “A UPS e a Fedex têm braços em todo o mundo”, argumenta Custódio. “É mais do que hora de estendermos nossas atividades pelo menos para os países do Mercosul.” A referência às gigantes do setor não é apenas citação. Custódio gosta de afirmar que enquanto o correio americano teve um prejuízo de US$ 2,8 milhões no ano passado e a alemã DHL encerrou sua operação nos Estados Unidos, demitindo mais de nove mil funcionários, os Correios contrataram quatro mil pessoas, chegando a 115 mil empregados, e exibem um caixa de R$ 4 bilhões. “Temos dinheiro para investir e é por isso que estamos discutindo uma reformulação neste modelo de gestão que já está aí há 40 anos”, afirma, referindo- se ao aniversário da estatal, em março. Custódio adianta que um dos novos negócios em discussão é o marketing direto. Com o cadastro de clientes espalhado por todo o Brasil, os Correios poderiam vender às empresas listagens adequadas ao perfil de consumo de cada cliente. “Uma estrutura refinada dessas vale ouro para qualquer grande empresa”, justifica. Outra ideia em discussão no grupo interministerial, com representantes dos ministérios da Fazenda, do Planejamento, das Comunicações e da Casa Civil, é atuar como facilitador do microcrédito, utilizando os carteiros como agentes de financiamento. Embora embrionária – e, portanto, sujeita a críticas -, a ideia vai ao encontro da política federal de intensificar o consumo nos rincões do País.
REFORÇO DE PESSOAL: a empresa contratou 4 mil pessoas em 2008, enquanto rivais demitiram
O bom momento financeiro dos Correios vem de uma boa gestão de contratos. Com a adoção do pregão eletrônico em todas as compras feitas pela estatal, os preços de referência caíram 20%, em média. Na área de recursos humanos, houve um sério programa de combate ao desperdício, cortando 50% das horas extras. “Tivemos uma economia de R$ 60 milhões no ano passado”, atesta Pedro Magalhães, diretor de RH dos Correios. “Isso vai voltar para a população em forma de melhoria do serviço.” Para que isso aconteça, Magalhães prevê que dentro de seis ou sete meses haverá um concurso público para a contratação de sete mil carteiros. A média salarial subiu nos últimos três anos, de R$ 1,8 mil para R$ 2,3 mil. Com os benefícios, chega a R$ 3 mil. “Passamos a dar mais valor ao Excel do que ao Word”, brinca Custódio. Essa forma de pensar, que valoriza mais os números do que as palavras, está sendo levada em consideração num setor que já deu muitas dores de cabeça ao governo: a Rede Postal Noturna. Fonte de acusações de corrupção no passado, Custódio está colocando na ponta do lápis os custos e benefícios de manter uma estrutura cara e que oferece serviços aquém do que a direção dos Correios gostaria. Uma das ideias aventadas pelo ministro Hélio Costa, a de adquirir aviões próprios, vem perdendo força pouco a pouco. Para Custódio, é preferível a extensão do serviço para todo o dia, em vez de voar apenas nas madrugadas. Ele acredita que, assim, poderia ganhar mais dinheiro e cortar custos desnecessários. É uma filosofia que tem se mostrado cada vez mais acertada dentro de uma estatal, que vive seu melhor momento financeiro.