31/05/2006 - 7:00
Linha de montagem em Cotia (SP): Ermírio adquiriu a Lobini há seis meses e agora quer ampliar a produção
Antônio Ermírio de Moraes Filho, 52 anos, não vai correr as próximas Mil Milhas de Interlagos.
Participou das duas últimas edições, mas uma contusão no joelho o afastará por uns tempos das pistas. ?É uma pena?, diz ele. ?Eu adoro isso?. Entenda por ?isso? tudo o que envolve velocidade, motor, pistas, pneus, mecânica. O herdeiro do grupo Votorantim, primogênito de Antônio Ermírio, é alucinado por carros. Tem quatro na garagem: uma BMW e um Porsche dos anos 70, um Cadillac 51 e um Lobini H1 turbinado.
Processo artesanal: Funcionários preparam carro que será exportado para Inglaterra e EUA
Para quem não conhece o tal Lobini H1 vale a apresentação: design inglês inspirado na Lotus, portas estilo ?tesoura?, motor volkswagen GolfGTI 1.8 turbo, suspensão holandesa, fabricação brasileira. Um carro esportivo nacional, montado num galpão modesto em Cotia, na Grande São Paulo. ?Mas o galpão de Cotia está ficando pequeno. A idéia é levar a fábrica ao complexo automotivo que estou montando em Cabreúva?, afirma Antônio Ermírio de Moraes Filho. Sim, o mesmo colecionador de carros e amante da velocidade assumiu o controle da montadora Lobini em dezembro passado. E acaba de criar um complexo automobilístico de R$ 100 milhões que será erguido em Cabreúva, a 80 km da capital paulista, num terreno de 2 milhões de metros quadrados ? duas vezes o tamanho do autódromo de Interlagos.
O complexo, batizado de SP Races, é uma sociedade de Ermírio Filho com o grupo Projeção, pertencente à família Derani (ex-proprietária de um terço das ações da Ripasa, fabricante de papel). ?Conheci o Antônio em eventos automobilísticos?, conta Walter Derani, o dono da Projeção. ?Havia uma carência de espaços para quem gosta de correr e por isso decidimos criar o complexo?. Os sócios vão aplicar, inicialmente, R$ 42 milhões em Cabreúva. Mas os investimentos podem chegar a R$ 100 milhões com as novidades que Ermírio e Derani estão planejando. O empreendimento terá pistas de corrida com 15 configurações diferentes (para moto e automóveis), pista de testes para montadoras, kartódromo, escola de pilotagem, hotel, shopping center, centro de convenções e condomínio residencial. ?Os parceiros para o resort, o shopping e o condomínio ainda não foram definidos. Temos algumas propostas, mas ainda muito embrionárias?, comenta Ermírio. O SP Races começará a ser construído assim que os sócios receberem a aprovação da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. ?A partir da aprovação, temos condições de colocar as pistas e galpões em funcionamento num prazo de 12 meses?, afirma Derani. A expectativa é que o empreendimento fature R$ 100 milhões em cinco anos.
Ermírio, ao centro, reúne a equipe da Lobini em Cotia: “Em breve, montaremos os carros no complexo de cabreúva”
É exatamente nos galpões da SP Races que Ermírio quer montar a nova fábrica da Lobini. ?Temos que aumentar a produção. Hoje, conseguimos montar um carro por mês em Cotia mas nossa idéia é chegar em 2007 com capacidade para seis carros e atingir 10 unidades em dois anos?, diz o empresário. A expansão é necessária. O carro, desenhado pelo inglês Graham Holmes (ex-projetista da Lotus) e que custa R$ 168 mil no Brasil, vem fazendo sucesso no circuito mundial. A Lobini já tem contratos de exportação engatilhados nos EUA e enviou, na quinta-feira 25, o primeiro carro para a Inglaterra, um modelo novo do Lobini H1. Está prevista ainda uma versão Coupé do veículo, que também deve emplacar no exterior. ?O mercado externo vai absorver grande parte de nossas vendas?, afirma Ermírio. ?Mas primeiro precisamos ajustar todo o processo fabril da empresa?.
Assim que assumiu a companhia, o empresário contratou os serviços da Fundação Vanzolini, ligada à USP, para que ela analisasse o processo produtivo. Os técnicos da entidade estão lá em Cotia, anotando tudo e desenvolvendo um método para deixar a fabricação mais dinâmica. Ermírio também quer voltar a conversar com fornecedores de peças, tintas e motores para estreitar o relacionamento. ?Percebemos que 90% do tempo perdido na produção decorre da falta de componentes. Isso não pode acontecer?. O nome de família, admite o empresário, deve facilitar as negociações com os parceiros. Outra medida será dar mais visibilidade à marca. Na quinta-feira 25, o empresário obteve o sinal verde dos organizadores do Salão do Automóvel para levar suas máquinas ao Anhembi. O evento acontece em outubro. Ele também quer os carros Lobini participando mais de provas automobilísticas. Técnicos da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) serão os responsáveis pela criação de um Lobini próprio para corridas. A parceria foi firmada há poucos meses.
O herdeiro da Votorantim deu o toque gerencial que faltava à Lobini. Nascida do sonho do advogado José Orlando Lobo (que hoje detém 15% da empresa), a montadora viveu os últimos cinco anos movida à paixão. Uma paixão que agora Lobo e Ermírio querem transformar em algo maior. Mas um aviso: a montadora não vai perder suas características. A produção continuará artesanal. Foi isso que atraiu Ermírio. ?Comecei cliente e virei sócio, exatamente pelo apelo exclusivo e artesanal da marca?, diz o empresário. ?Por que iria mudar. Ajustar a produção, sim. Perder as raízes, jamais.? Ermírio Filho conta que desde cedo aprendeu a admirar o mundo dos motores. Chegou a namorar uma garota cujo pai era diretor da Caterpillar. ?Arrumei um estágio na companhia, mas meu pai vetou. Disse que eu deveria trabalhar na Votorantim?, lembra Ermírio Filho. E lá se foi o garoto para a empresa da família. Fez carreira. No total, trabalhou 22 anos na divisão metalúrgica. Em 2000, um acordo de acionistas colocou a família no Conselho de Administração e Ermírio Filho virou vice-presidente do Instituto Votorantim, cargo que exerce até hoje. ?Mas faltava graxa na minha vida?, brinca o empresário. O próximo passo? ?Criar uma empresa de eventos. Quero trazer o mundial de motovelocidade para Cabreúva?.
Colaborou Flávia Tavares
O parque SP races
Principais características do complexo que será erguido em Cabreúva, interior de SP
Divulgação
Investimento
Pode chegar a R$ 100 milhões
Tamanho
Dois milhões de metros quadrados
Instalações
Pista de corrida com 15 configurações diferentes; kartódromo; pista de testes para montadoras, hotel, shopping, centro de convenções, condomínio residencial
Expectativa de público
Cinco mil pessoas por fim de semana
Expectativa de faturamento
Atingir R$ 100 milhões em cinco anos