Fabio Alperowitch, sócio-fundador da Fama Investimentos tem razão quando, em entrevista recente, disse que “O ESG no Brasil é extremamente superficial”. Quando não é superficial é reduzido a carbono.

O problema central é que as empresas simplesmente não se prepararam. Por exemplo, no Brasil o conceito de racismo ambiental é pouco compreendido, em parte porquê compreendermos que o racismo é uma coisa e o meio ambiente é outra, dois sistemas estanques que não se comunicam.

+ Sustentabilidade não é só carbono

Não raro ouvimos a justificativa de que o problema não é racial, mas sim social, como se fosse possível separar as duas coisas. O racismo é um produto da sociedade, ou seja, é um problema social.

Esse raciocínio cartesiano, separando o tecido social em caixinhas, gera um problema quando tratamos de questões complexas, as quais por natureza são interseccionais.

Não é por menos que se reúne o meio ambiente, o social e a governança.  Os três termos juntos compõe a sustentabilidade.

Por exemplo, quando se trata das questões sociais, com uma rápida pesquisa na literatura, observa-se alguns drivers importantes como o acesso à moradia, a aquisição da casa própria, o tempo de deslocamento ao trabalho e o socorro financeiro de baixo custo. A imensa maioria das empresas não tem programa nenhum que trate desses temas junto aos seus colaboradores.

Essas questões impactam diretamente a vida do colaborador e consequentemente sua performance.  Como moradia e transporte caminham juntos, vamos colocar uma lupa nesse tópico.

Segundo levantamento da SPTrans, 57% dos passageiros de ônibus na cidade de São Paulo são jovens negras, sendo que as melhores regiões da cidade com melhor infraestrutura e mais transformadas pelo mercado imobiliário para construção de prédios na capital são, em grande maioria, habitadas por pessoas brancas e de classe média ou alta.

A maior parte da população negra vive em áreas menos estruturadas, com casas autoconstruídas e em conjuntos habitacionais, portanto muito mais vulneráveis as mudanças climáticas.

Uma condição climática brusca pode provocar um apagão de colaboradores, logo deveria ser apontada na matriz de risco da empresa e, se afeta a sustentabilidade do negócio, no radar do conselho de administração, o qual deve agir para garantir que a diretoria adote medidas para mitigar esses efeitos entre os colaboradores da companhia e consequentemente no negócio.

Entretanto, seguimos apenas nos maravilhando com ditos resultados da descarbonização, que aliás, é importante, mas está muito longe do todo. Poderíamos ao menos ser mais honestos e substituir ESG por C, elemento que representa o carbono na tabela periódica.