Em outubro de 2011, Carlos Ghosn, até então presidente da aliança Renault-Nissan, veio ao Brasil para anunciar o investimento de R$ 4,1 bilhões do grupo no País. A DINHEIRO acompanhou a agenda do executivo brasileiro em encontros com autoridades, empresários e eventos.

Abaixo você confere a entrevista exclusiva que Ghson deu ao repórter Rafael Freire, abordando as estratégias das montadoras para o País, projeções e sua rotina.

“O Brasil é um dos pilares do nosso crescimento” 

por Rafael Freire

Em sua passagem por Foz do Iguaçu, no Paraná, onde participou do lançamento do Renault Duster, na terça-feira 4, Carlos Ghosn, CEO mundial do grupo Renault-Nissan, concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO:

Qual é a importância do Brasil para o grupo Renault-Nissan?

Os integrantes do BRIC, que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, são os motores de nosso desenvolvimento. O único país dessa lista no qual ainda não tínhamos feito investimentos mais pesados era o Brasil. Agora estamos fechando esse ciclo, incluindo o Brasil como um dos pilares de nosso crescimento.

O aumento do IPI interfere nos planos da companhia?

As montadoras vão investir no Brasil, não interessa o que aconteça. Não há jeito de abastecer o mercado sem fabricação local. Estamos em um jogo no qual as regras são ditadas pelos governantes. A decisão de exigir um índice de nacionalização de 65% também é bastante razoável. Se você comparar, na China e na Índia essa exigência chega perto dos 90%.

Por que a Renault-Nissan aposta mais nos veículos elétricos do que nos híbridos?

Acreditamos que o mercado precisa de soluções tecnológicas com zero de emissão de poluentes e total independência dos motores a combustão. Estimamos que, até 2020, 10% de nossas vendas sejam de carros elétricos.

A empresa vai lançar algum modelo elétrico no Brasil? 

No meu encontro com a presidente Dilma, disse que só ofereceríamos esses carros no Brasil se o governo concedesse incentivos, como acontece nos EUA, no Japão e em vários países da Europa, onde existe um subsídio, em torno de US$ 7,5 mil, no preço final do carro. Sabemos que esse desconto, concedido ao consumidor, não vai durar para sempre, mas é importante para consolidar essa tecnologia. Em 2010, foram fabricados 73 milhões de automóveis no mundo e apenas 22 mil tinham motor elétrico. Com essa quantidade, você não consegue praticar um preço baixo.

Como o sr. vê a ascensão das montadoras chinesas no mercado mundial?

Como uma evolução natural. O mesmo aconteceu com os japoneses e com os coreanos. A entrada dos chineses aumenta a concorrência mundial, mas não nos pegou de surpresa. Tenho certeza de que eles vão desenvolver sua tecnologia e entrar em outros mercados, inclusive no europeu. Tudo isso já está previsto nas estratégias da Renault-Nissan.

Quais são os principais desafios de comandar duas montadoras com culturas tão diferentes?

O essencial é saber respeitá-las, tanto na maneira de lidar com as pessoas,  como nas estratégias de gestão e comunicação. Tenho residência no Japão e na França e passo cada mês em um lugar. Eu me adaptei bem, pois tinha um bom conhecimento das duas empresas.

Como sua família lida com isso?

As crianças foram educadas em escolas internacionais. Por isso a língua natural deles é o inglês, o idioma usado nas reuniões em família.