28/08/2002 - 7:00
Quem encontra Luiz Alberto Garcia no fundo de uma sala de aula da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, talvez não faça idéia de que ali, em meio a livros e apostilas, está um dos empresários mais bem-sucedidos do País. E mais: um dos poucos brasileiros a figurar no ranking dos mais ricos da América Latina, com patrimônio estimado em US$ 1 bilhão. Garcia é o principal acionista do grupo Algar. Ele voltou aos bancos escolares por um único motivo: todos os funcionários de sua companhia têm de fazer pelo menos um curso de atualização por ano. ?Esta é a regra e eu não sou exceção?, diz. Pode não ser neste caso, mas comparado a seus pares Garcia é sim um administrador diferente. A começar pela maneira informal de falar e se vestir. Terno e gravata, nem pensar. Prefere as roupas esportivas, mais condizentes com seu estilo de vida ? adora uma partida de tênis e sempre que pode vai ao litoral praticar vela oceânica. Na empresa, passa apenas o tempo necessário, normalmente das 9 às 18 horas. E é capaz de tomar decisões que deixariam qualquer capitalista de cabelo em pé. ?Já demiti um presidente da empresa porque ele trabalhava demais?, conta Garcia. ?A pessoa tem de aprender a delegar, ter equipe em vez de tentar resolver tudo sozinha.? No comando do grupo hoje está um executivo afinado com as regras de Garcia. José Mauro Leal Costa assumiu o leme em 1999 e conduziu a Algar novamente à rota dos lucros. A companhia, que passou três anos com as contas no vermelho, se prepara agora para crescer em quase todas as frentes de negócio ? que não são poucas. A estratégia inclui até a abertura de capital.
O império da família Garcia, que fatura R$ 1,5 bilhão ao ano, engloba de centrais de call center a empresas de táxi aéreo, passando pelo complexo turístico Pousada do Rio Quente, em Goiás, e fazendas de gado e soja. Para este ano, a previsão é aumentar entre 10% e 15% o faturamento. Depois de vender sua parte na ATL e na Tess, operadoras de telefonia celular do interior paulista, e sair de uma dívida de R$ 2 bilhões, a Algar ganhou fôlego financeiro para apostar nas opções certas. ?Hoje, 20% das receitas vêm de novos empreendimentos?, afirma Leal. Entre eles, a ACS, braço da holding no setor de call center. A companhia investiu R$ 47 milhões para dobrar sua capacidade de atendimento e incluir novos nomes na carteira de clientes, onde já constam empresas do porte de TAM, American Express e Monsanto.
Outros R$ 200 milhões serão aplicados nos próximos dias para aumentar a presença do grupo no processamento de soja. ?É o momento certo. O farelo e o óleo de soja devem ter um ótimo preço no próximo ano?, diz Antonio Bueno, analista da Bolsa de Mercadorias e Futuros. Até para a Pousada do Rio Quente sobrará algum. Garcia e o sócio dele no empreendimento, a goiana Gebepar, irão investir US$ 40 milhões no negócio. E não é tudo. Muito mais pode vir, basta que a abertura de capital do grupo se concretize no próximo ano. Com a venda de parte das ações, a Algar pretende contar com as mesmas armas financeiras de seus grandes concorrentes, especialmente os de telecomunicações. Hoje, a CTBC, operadora de telefonia fixa e celular, que atua em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo, representa quase 70% das receitas do grupo. ?É o segmento com o qual mais me identifico?, revela Luiz Garcia. Talvez porque tenha sido o primeiro engenheiro da empresa.
Pé no freio. Formado em engenharia elétrica, ele sempre procura se manter atualizado sobre as inovações tecnológicas. ?Arrisco até alguns palpites?, diz. Apesar do interesse em uma ou outra área, o presidente do conselho da Algar evita interferir no dia-a-dia do grupo. Discutir negócios não é o seu forte, mas em compensação ele pode ficar horas falando sobre a história do grupo ou de suas aventuras como velejador. Com os negócios caminhando bem, o empresário pensa em diminuir ainda mais o ritmo de trabalho. ?Queria me dedicar a projetos pessoais. Mas não há nada definido?, diz ele. Vale lembrar que a CTBC nasceu assim. O pai de Garcia havia prometido parar de trabalhar aos 50 anos. Mas assumiu o projeto de montar uma rede de comunicações ligando Uberlândia ao resto do País para melhorar o comércio da região. Acabou também garantindo o futuro de seus herdeiros.