16/05/2012 - 21:00
A indústria brasileira está alarmada. Nas últimas décadas, o setor viu sua participação no PIB diminuir de quase 30%, de meados dos anos 1980, para 14,6%, no ano passado, o menor nível desde o início do surto de industrialização do País, a partir de 1956, no governo JK. O PIB cresceu pouco em 2011, apenas 2,7%. Mas o consumo das famílias aumentou mais, passando de 40%, e a produção industrial teve uma expansão de míseros 0,3%. Quem olha apenas os números da indústria – ou ouve os seus representantes, especialmente os de São Paulo – pode pensar que o Brasil voltou às chamadas “décadas perdidas” do fim do século 20. Mas os números de consumo, renda e emprego mostram uma realidade diferente.
A Alemanha é um país que não tem custos baixos, como a China, e mesmo assim conseguiu
manter uma base industrial.
O fato é que a indústria perdeu mesmo espaço na economia brasileira. E isso parece irreversível. Medidas paliativas, como a redução de IPI para geladeiras e máquinas de lavar roupa, financiamentos com juros subsidiados e mesmo a compensação de créditos tributários, ajudam a dar a impressão de que o governo está fazendo alguma coisa, mas não mudam de forma significativa a realidade. E a realidade é que o Brasil importa cada vez mais produtos industrializados. Por isso o consumo cresce e a indústria patina. Na balança comercial, o excelente desempenho do preço das commodities escondeu, nos últimos anos, uma conta de importações que crescia num ritmo muito maior do que o das exportações, e garantiu saldos comerciais consideráveis.
Agora, que o preço das commodities está em queda, as fragilidades ficam mais que explicitadas. Sem as commodities para contrabalançar, a balança comercial já começa a sentir os efeitos. No primeiro quadrimestre do ano, as importações aumentaram 4,8%, as exportações subiram 2%, e o superávit caiu 33,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Não adianta chorar. A não ser que o Brasil promova o fechamento dos portos, como vem fazendo a Argentina, o maior fluxo de importações decorre justamente da melhora da capacidade de consumo do brasileiro. Num mercado internacional mais competitivo, todos os vendedores estão de olho nos poucos compradores.
Fechar as fronteiras para garantir mercado brasileiro às empresas brasileiras, como prega o governo, não é a solução. O que a indústria brasileira precisa é investir em inovação para desenvolver um produto competitivo de verdade. Não protegido, competitivo. O real valorizado – realidade que só começou a mudar no mês passado – pode tornar a tarefa mais difícil, mas não impossível. Um bom exemplo é a Alemanha. Um país que não tem custos baixos como a China – nem mão de obra barata nem moeda desvalorizada artificialmente – e mesmo assim conseguiu manter uma base industrial competitiva ao longo do tempo.
Apesar da importância do mercado financeiro, sua indústria representa 28% do PIB, cresceu quase 7% no ano passado e foi responsável, via exportações, por tirar a Alemanha da recessão, em 2010. No centro de uma região que vai ficar estagnada, com vários países em recessão, a Alemanha deve crescer 0,6% neste ano. Como a terra de Goethe e de Angela Merkel conseguiu se manter competitiva em meio a uma região tão cara? A resposta pode estar no indicador de pesquisa e desenvolvimento. No ano passado, o governo e as empresas alemãs investiram 2,82% do PIB em pesquisas e desenvolvimento, uma proporção que só é ultrapassada pelos gastos da Coreia, Cingapura e Estados Unidos. No Brasil, os gastos nessa área foram equivalentes a 1,16% do PIB.