10/04/2002 - 7:00
Está chegando ao mercado uma nova gestora de fundos que vai ter a cara do antigo banco Garantia, o estilo agressivo que marcou o Garantia e o núcleo das mesas de operações do Garantia. Só não terá o mesmo nome. A empresa é o novo projeto de Eric Hime, Fernando Prado, José Ricardo de Paulo, o Ricardinho, e Luiz Alberto Rodrigues, o Careca. Os quatro comandavam a tesouraria do Crédit Suisse First Boston (CSFB), que incorporou o Garantia em 1998, e deixaram o banco no último dia 1º com os bolsos recheados. Eles receberam em março um prêmio próximo de US$ 300 milhões, por ter permanecido no banco desde a sua compra até o fim do ano passado e por ter batido metas de lucros. Como DINHEIRO antecipou com exclusividade em novembro passado, eles embolsaram a bolada, anunciaram ao banco que estavam de saída e fizeram uma proposta aos ex-patrões para comprar o nome do mais marcante banco de investimento dos anos 90. Mas os suíços preferiram enterrar a marca a vê-la renascer pela mão de seus ex-funcionários. Só não podem impedi-los agora de competir pela administração de fundos.
No início, porém, a área de choque será pequena. O novo negócio de Hime, Prado, Ricardinho e Rodrigues não será um banco. Eles farão apenas aquilo em que se destacaram: aplicar dinheiro agressivamente. Segundo pessoas próximas a eles, a nova empresa será um hedge fund ? um fundo arrojado, que não se prende a nenhum tipo de ativo e que busca tirar proveito de oportunidades em qualquer mercado. Coisa viável apenas com equipes de administradores de ponta. Um rumor de que o Garantia estava para voltar agitou operadores com esse perfil. ?Cheguei a receber currículo de gente que estava interessada em trabalhar lá?, conta um headhunter. Não é certo, porém, que nem mesmo os quatro dissidentes do CSFB vão estar juntos no projeto. Há a possibilidade de apenas três participarem do projeto.
Quem quiser apostar no talento dos ex-tesoureiros do Garantia vai ter que esperar. O modelo de empresa que os sócios têm citado para amigos é o da JGP, aberta por Paulo Guedes e André Jakurski logo após deixarem outro banco da mesma geração, o Pactual. Como na JGP, o novo fundo nascerá fechado para investidores. Fará crescer inicialmente apenas a fortuna dos próprios sócios. Começará a aceitar o dinheiro de clientes apenas após ter acumulado um bom histórico de resultados. Mas não deverá correr atrás de investidores. Confiantes em seu prestígio, eles esperam que o dinheiro vá até eles. O sistema deverá ser praticamente de adesão.
A relação entre os quatro e o CSFB não chegou ao ponto de conflito, mas a saída trouxe alívio para os dois lados. Suas Ferraris estacionadas na garagem do prédio do banco e seus computadores turbinados sobre suas mesas de trabalho combinavam cada vez menos com o estilo contido que o grupo suíço está implantando em seus braços por todo o mundo. Só na semana passada 300 foram demitidos nos Estados Unidos. Gente como Hime, Prado, Ricardinho e Rodrigues era cara demais e extravagante em excesso para os novos tempos. Para os quatro, por sua vez, os novos tempos de remuneração limitada e autonomia reduzida eram pouco estimulantes. Nas últimas semanas eles chegavam tarde para trabalhar e saíam cedo, muito ao contrário dos tempos de Garantia, quando davam expedientes de até 15 horas por dia. Sinal de que era hora de mudar.