12/07/2013 - 6:07
Desde agosto de 2010, nada menos que três executivos se revezaram na cadeira de presidente da ALL Logística, que administra uma parte importante da malha ferroviária brasileira e cuja receita líquida somou R$ 3,6 bilhões em 2012. O fato de cada um deles ter ficado, em média, 11 meses no posto não significa que a companhia de logística esteja mal das pernas ou tenha se transformado em um local no qual um profissional que se preze não queira ficar. Bem ao contrário. Praticante da cultura de meritocracia disseminada no Brasil pelo trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, a ALL se tornou uma espécie de reserva de caça prioritária, onde eles têm recrutado executivos para algumas das missões mais importantes e estratégicas dos negócios que vêm adicionando ao portfólio de sua 3G Capital Partners.
Esse movimento ganhou mais velocidade a partir de 2008, ano que marca o início do agressivo movimento de aquisições globais da 3G. A lista inclui ícones do mercado consumidor americano, como a cerveja Budweiser, a rede Burger King e, mais recentemente, o ketchup Heinz, em parceria com o megainvestidor americano Warren Buffett. ?Nossa política de formação de pessoal acabou fazendo da empresa uma espécie de celeiro do mercado?, afirma Pedro Roberto Oliveira Almeida, diretor de pessoas e relações institucionais da ALL. ?Mas esse nunca foi nosso objetivo.? O fato é que o reconhecimento dos mentores, em particular, e do mercado, em geral, com relação à qualidade do time de executivos da ALL começa a preocupar seus acionistas.
Até porque Alexandre Jesus Santoro, o atual CEO, é o terceiro executivo a ocupar o posto em menos de 12 meses. Quem puxou a locomotiva dos CEOs foi o carioca Alexandre Behring Costa, que se desligou em 2004 da empresa ferroviária. Alex, como é mais conhecido, trocou a Vila Oficinas, em Curitiba, local que abriga a sede da concessionária, pela Terceira Avenida, em Manhattan, onde começou a dar expediente no posto de estrategista da 3G. O mais recente a embarcar no trem da 3G foi Eduardo Pelleissone, que saiu da ALL no dia 1º de junho. Ele se incorporou ao time de veteranos da empresa de logística, que inclui ainda Paulo Basílio, recrutado pelo novo manda-chuva da Heinz Company, e Bernardo Hees, que entre 2004 e 2010 também ocupou o comando da empresa.
À exceção de Hees, todos ingressaram na ALL como estagiários. O temor do atual comando da ALL é não conseguir formar executivos no mesmo ritmo da necessidade de reposição das peças, especialmente nos postos-chave, e acabe perdendo sua identidade. Apesar de pontuar que o turnover é um movimento saudável, Almeida deixa claro que existe a preocupação com a saída sistemática de executivos e que isso fez acender a luz amarela. ?Estamos no limite de perdas?, diz. Para evitar que mais talentos sejam cooptados, os controladores da ALL (leia-se GP Investimentos e BNDES, além de fundos de pensão) decidiram agir. A primeira providência foi recolocar Almeida para cuidar da divisão de recursos humanos, área na qual ele atuou logo no início da formação da empresa, resultado da privatização da antiga Malha Ferroviária Sul, em 1996.
Jorge Lemann (foto) começou a recrutar executivos da ALL em 2004.
O primeiro foi Alexandre Behring
Mesmo não tendo concluído ainda o desenho do novo pacote de incentivos, Almeida explica que o foco será na intensificação de valores da companhia (veja quadro ao final da reportagem) que tem como ponto central a meritocracia. ?Estou desenhando um programa que inclui não apenas a formação de profissionais como também sua retenção,? conta. E é nesse ponto, segundo Gustavo Coimbra, diretor do Unique Group, consultoria executiva em alta gestão, baseada no Rio de Janeiro, que a ALL se diferencia. Sua cultura corporativa é tão hermética que, praticamente, inviabiliza o recrutamento de executivos experientes no mercado. ?A empresa deveria ser mais flexível?, afirma.
Segundo ele, a operadora logística se tornou, na prática, vítima de seu próprio sucesso. ?O mercado está aquecido e o risco de perder bons profissionais é maior nesses momentos.? Mas dinheiro pode não ser o bastante para que a ALL seja bem-sucedida em sua tarefa de evitar a saída de novos funcionários graduados e manter os atuais. ?A remuneração é o terceiro item na lista das prioridades de quem planeja mudar de emprego?, diz Paulo Oliveira, professor de gestão e estratégia de pessoas da BBS Business School, de São Paulo. De acordo com o responsável pelo RH da ALL, outros pontos também serão atacados, como a retomada do programa de qualidade total.
É que as três últimas trocas na gestão coincidiram com movimentos importantes, como o fim das operações na Argentina, além de dificuldades operacionais, como o atraso na licença ambiental para duplicação do trecho Campinas-Santos, no Estado de São Paulo, que fizeram com que caísse a qualidade do serviço. Resultado, a ALL que já foi vista como um exemplo positivo no setor entrou na mira do órgão regulador, que agiu atendendo queixas feitas por clientes da empresa. ?Estamos retomando todos os programas de qualidade total?, afirma o diretor da ALL. ?Nosso objetivo é dar um salto nessa área. Os problemas mexeram com os brios da moçada.? O primeiro movimento foi uma agenda de visita a clientes, iniciado por Alexandre Santoro, logo após assumir o cargo de CEO.