12/07/2013 - 6:07
Wall Street prendia a respiração na sexta-feira, 18 de maio de 2012. Depois de resistir a dezenas de ofertas, Mark Zuckerberg, fundador e principal acionista do Facebook, finalmente condescendera em abrir o capital de sua empresa. O Initial Public Offering (IPO) levantou US$ 16 bilhões e foi considerado um marco no mercado. Foi o maior lançamento do ano e o mais vultuoso IPO de uma empresa de internet desde sempre. O evento contou com uma participação recorde de pessoas físicas. Os pedidos foram tantos que travaram a bolsa eletrônica Nasdaq. Às vésperas do lançamento, analistas americanos chegaram a prever que os papéis, vendidos a US$ 38, chegariam a US$ 60 em um ano.
Passados 14 meses, o Facebook vem mostrando força. A empresa divulgou a adesão do bilionésimo participante em setembro de 2012 e divulgou um faturamento de US$ 1,45 bilhão no primeiro trimestre deste ano. Mesmo assim, Wall Street continua não curtindo. Os papéis chegaram a US$ 40,25 no lançamento e passaram a cair sistematicamente. Até a terça-feira 9, quem houvesse investido US$ 100 teria amargado uma queda de 33%. Será que o Facebook ficou obsoleto? Parte da explicação para a baixa é técnica. ?A maioria das ações recua logo após a abertura de capital?, diz o experiente gestor de recursos Dório Ferman, sócio do banqueiro Daniel Dantas. Segundo ele, um IPO tem uma distorção estrutural.
Os investidores que querem comprar ações podem antecipar seus pedidos, mas aqueles que pretendem apostar na baixa não têm como fazer isso. ?Quando as ações chegam ao mercado, há uma concentração de ordens de venda, o que derruba os preços?, diz Ferman. Se os fundamentos forem sólidos, as cotações se recuperam. Não foi o que ocorreu com a empresa de Zuckerberg. Discussões tecnológicas à parte, a baixa se deve à insegurança dos investidores. Eles desconfiam da capacidade da rede social de capturar uma fatia relevante da propaganda virtual nos dispositivos móveis, o que realmente interessa e dá dinheiro na internet. Segundo a consultoria americana eMarketer, toda a publicidade virtual movimentou US$ 102 bilhões em 2012, um crescimento de 20,1% ante 2011.
Para este ano, espera-se uma verba de US$ 116 bilhões, avanço de 16%. Já a publicidade em smartphones e tablets cresce de maneira explosiva. Ela mais que dobrou, de US$ 4 bilhões em 2011 para US$ 8,8 bilhões em 2012 e deve duplicar novamente neste ano, para US$ 15,8 bilhões. O Facebook fica em segundo lugar na divisão total das verbas publicitárias, mas muito longe da liderança. Sua fatia em 2012 foi de modestos 4,1%. Os links patrocinados da concorrente Google fizeram-na abocanhar 31,4% desse total. Não por acaso, suas ações subiram 50,8% desde maio do ano passado. A diferença é ainda mais expressiva na propaganda em dispositivos móveis, onde o Google ficou com 56% e o Facebook com 13%.
À medida que a importância de smartphones e tablets crescer, haverá menos espaço para a empresa de Zuckerberg. ?A maior fatia desse bolo vai continuar com o Google?, avalia o analista canadense John Koetsier, do site VentureBeat. A rede social Google Plus, pela qual a empresa de Larry Page concorre diretamente com o Facebook, é vista pelos analistas como mais eficaz para operar com dispositivos móveis. O mesmo raciocínio vale para o LinkedIn, fundado por Reid Hofmann e voltado para contatos corporativos. Seu porte é uma fração do Facebook ? a companhia do sorridente Hofmann faturou US$ 325 milhões no primeiro trimestre, ante US$ 1,45 bilhão do sorumbático Zuckerberg ?, mas suas ações subiram 91,2% desde a estreia do concorrente no pregão.
Menor, mas concentrado e dedicado a um público corporativo, o LinkedIn é visto como mais capaz de rentabilizar seus cliques. No caso do veterano Yahoo!, as recentes aquisições de start-ups pela CEO Marissa Mayer sustentaram uma alta de 71,3% nos papéis. Ao comprar o microblog multimídia Tumblr por US$ 1,1 bilhão em maio passado, Mayer mostra sua disposição em crescer no mercado. É arriscado dizer que o Facebook está obsoleto, ainda mais em um ramo tão mutável quanto o da tecnologia. Dos dez analistas que acompanham suas ações, seis recomendam a compra. No entanto, nunca o cartaz ?Ande depressa e quebre coisas?, onipresente na sede do Facebook, foi tão atual. Algo que Zuckerberg terá de fazer se quiser manter-se na liderança.