04/07/2014 - 20:00
Um terremoto abalou a confiança do 1,3 bilhão de usuários do Facebook, a maior rede social do planeta, nos últimos dias. O epicentro foi a divulgação de que, em janeiro de 2012, a empresa de Mark Zuckerberg conduziu uma pesquisa, em parceria com as universidades da Califórnia e de Cornell, e publicada pela PNAS, uma das mais influentes revistas científicas do mundo. No estudo, 700 mil usuários do Facebook, escolhidos aleatoriamente, tiveram o fluxo de posts de suas páginas alterado sem que soubessem – e, portanto, sem seu consentimento.
Para um grupo, houve mais exposição de mensagens positivas. Outro recebeu mais mensagens negativas. Um terceiro, de controle, recebeu uma dose balanceada de posts. O objetivo era testar se as redes sociais também permitiriam o chamado “contágio emocional”, fenômeno estudado por psicólogos, que consiste na capacidade de uma pessoa “contaminar” o humor de outra para melhor ou para pior. O resultado, beirando o senso comum, comprovou a suspeita. Quem recebeu mais posts positivos passou a publicar, também, mensagens mais otimistas – e vice-versa.
Ondas de choque vindas de vários grupos de ativistas atingiram o Facebook, desde a revelação. “Ratos de laboratório” é a expressão mais usada pela imprensa americana para designar a forma como a rede teria tratado seus usuários no caso. A parcela mais alarmista dos críticos enxergou ameaças reais de que o Facebook pudesse manipular as massas, apenas alterando o conteúdo dos posts que exibe, tornando-se, assim, um novo poder no cenário global. A parcela mais ponderada dos críticos questiona a ética do estudo.
Afinal, é correto manipular as emoções de alguém para fins científicos, sem que a pessoa concorde explicitamente? Enquanto Zuckerberg sumiu de cena, a diretora de operações da rede, Sheryl Sandberg, a pessoa mais poderosa do Facebook depois de seu fundador, deu a cara a bater, afirmando que o estudo serviu de subsídio para futuros produtos. Segundo ela, a única falha da empresa foi divulgá-lo “de modo muito pobre”. E apenas por esse lapso de comunicação é que deveria desculpar-se. Muitos viram na declaração de Sheryl uma demonstração do descaso com que o Facebook trata seus usuários.
Mas vamos ao problema central: o Facebook não é um Woodstock virtual, em que reinam o desapego material e as amizades verdadeiras. É uma empresa listada na bolsa eletrônica Nasdaq e tem contas a pagar. Somente no ano passado, seus custos e despesas operacionais somaram US$ 5,068 bilhões, um incremento de 11% sobre 2012. De algum lugar, o Facebook precisa tirar dinheiro para pagar seus funcionários e toda a estrutura que sustenta as interações entre seus usuários. Como lembrou o jornalista americano Andrew Lewis, há alguns anos, se você não está pagando pelo produto, é sinal de que o produto é você.
Quem sustenta as despesas de Zuckerberg são os anunciantes, que geraram uma receita de mais de US$ 7 bilhões em 2013. E quem paga quer resultado. Para alcançá-lo, o Facebook, como toda empresa, busca melhorar o retorno a seus parceiros, pesquisando o comportamento de quem utiliza a rede. É verdade: todos devem ser avisados e concordar, claramente, em participar de experiências. O Facebook deve melhorar muito no quesito transparência, se não quiser que sua credibilidade seja arruinada. Mas não podemos nos iludir: mesmo lá, o que vale é o velho princípio do “amigos, amigos; negócios à parte.”