A palavra de ordem agora nos serviços essenciais é racionamento. O primeiro, quase inevitável por conta do verão mais rigoroso dos últimos anos no País, é o de água. Já está acontecendo em algumas cidades paulistas e pode se alastrar perigosamente, afetando inclusive a realização da Copa do Mundo, segundo prognósticos sombrios de alguns analistas. Nesse caso, mais que a falta de planejamento, pesam os incontroláveis fatores climáticos. Mas há outro tipo de racionamento, ou de escassez recorrente, ainda mais temido e que voltou a tomar vulto com o apagão generalizado da semana passada, que deixou sem luz cerca de seis milhões de pessoas em 11 Estados. 

 

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Nos meios oficiais, a expressão racionamento de energia é exorcizada. Não pode sequer ser mencionada. Ainda mais em se tratando de ano eleitoral, com o reforço de um evento internacional que trará os olhos do mundo para cá. A possibilidade desse tipo de racionamento é categoricamente negada pelas autoridades. A presidenta Dilma, que já foi ministra de Minas e Energia, tomou, desde o início de seu governo, a iniciativa de garantir que não existiriam riscos de abastecimento durante a sua gestão. Teve até atitudes ousadas, como a de promover um desconto generalizado da tarifa na virada de ano. No intervalo de tempo de seus primeiros três anos de mandato ocorreram mesmo assim vários episódios de falta de luz, todos eles justificados como sendo fruto de problemas ocasionais nas linhas de transmissão. Nunca na geração. Ocorre que na ponta das usinas a situação não é tão boa como se prega. 

 

Faltam investimentos para modernização de sistemas e substituição de equipamentos. Os projetos de pelo menos duas dezenas de novas unidades geradoras não saíram do papel. Estão com o cronograma atrasado. E essa desconfiança sobre a real capacidade de fornecimento energético nacional começa a afetar inclusive a decisão de investidores e empreendedores de colocar recursos em novas plantas fabris e outros tipos de negócio por aqui. As falhas na política setorial são muitas e de diversas ordens. As principais apostas de aumento de produção, com a entrada em funcionamento das usinas de Jirau e Rio Madeira, só devem se concretizar em 2015. E isso se até lá não acontecerem novos atrasos. Todos sabem, nenhum país pode almejar crescimento sustentável sem o suporte energético. E o Brasil, dado o seu potencial na área, deveria estar bem longe desse problema.