Por que o golfe atrai tantos executivos? ?O green é um ótimo canal de relacionamento com os clientes?, diz Fernando Pinto de Moura, diretor geral do Banco Alfa, assíduo nos campos verdes. ?Um número cada vez maior de empresas e executivos está descobrindo isso.? A bolinha branca começa a ocupar o espaço que pertencia às quadras de saibro do tênis. O golfe tornou-se um estilo de vida, misto de esporte e conforto ao ar livre, num processo natural que nasceu na Europa, invadiu os Estados Unidos e agora desembarca com força no Brasil.

Há, hoje, no País, cerca de 15 mil praticantes de golfe e 62 campos oficiais ? cifra que dobrou na última década. Existem outros 20 campos em construção, além de 60 projetos em estudo. O green público da Federação Paulista de Golfe já revelou 1.500 atletas. Brotam, ainda, inúmeros cursos para crianças. O esporte movimenta, anualmente, US$ 200 milhões ? valor tímido diante do mercado americano (apenas a bilheteria dos eventos do PGA Tour gera mais de US$ 800 milhões ) ?, mas respeitável e promissor. Estima-se que 10 mil pessoas vivam do golfe no Brasil. DINHEIRO elaborou um guia para desvendar o esporte, com um mapa dos melhores campos do mundo, as dicas para iniciantes e veteranos, além de uma galeria com o equipamento básico. Boa tacada!

 

Golfe é sinônimo de Tiger Woods. Aos 21 anos, em 1997, ele conquistou o mais importante torneio dos Estados Unidos, o Master. Desde então, vem sendo apontado como o melhor do mundo. Ele praticamente reinventou o esporte, com um swing único e precisão inédita no green. Agora, Tiger começa a mostrar seu talento também em um outro campo: o milionário universo das celebridades esportivas.

Em sete anos de carreira como profissional, Tiger brilhou como ninguém. Com 50 conquistas, arrematou US$ 41 milhões. Um recorde histórico dentro do gramado. A cifra, apesar de relevante, representa pouco mais da metade do que ele deve acumular em um único ano com contratos publicitários. Em 2003, mais de US$ 70 milhões devem ir para os bolsos do jogador, por meio de parcerias com a American Express, Buick, Rolex e Nike. A fabricante de calçados pagou mais de US$ 100 milhões por um acordo de cinco anos com a estrela. Os números o põem, atualmente, como o esportista que mais fatura no mundo, à frente de lendas como Michael Jordan e fenômenos como Michael Schumacher.

US$ 70 milhões
É a quantia que Tiger Woods
deve ganhar em 2003 apenas
em contratos de publicidade
US$ 100 milhões
Foi quanto a Nike pagou por cinco anos com o Pelé do golfe. Ele é, hoje, o principal garoto-propaganda da marca
US$ 41 milhões
É o total já faturado pelo
craque em prêmios por
vitória na carreira

A explosão de Tiger Woods, e o marketing a ele atrelado, remete ao o que ocorreu com a NBA e o próprio Michael Jordan há 20 anos. Na época, a liga americana já era celeiro de craques mas não movimentava nem um décimo das cifras da atualidade. Michael então surgiu, fechando milionários contratos e arrastando multidões às quadras. O efeito Jordan foi fundamental para atrair os investidores e alavancar o crescimento da NBA. O golfe tenta chegar lá. Se depender da obstinação de Tiger Woods, o caminho deve ser curto e rápido. Filho de pai negro e mãe tailandesa, Eldrick ? que só mais tarde ganharia o apelido Tiger ? é um negro que venceu em um esporte elitista, atavicamente dominado por brancos. Seria um exagero dizer que ele teve uma infância pobre, mas certamente tudo que ganhou até hoje, ele deve ao esporte. Mas que fique claro que o golfe também deve muito a ele. O tradicional jogo só ganhou expressivo destaque na imprensa internacional nos últimos anos graças a seus feitos. Se depender de suas tacadas e de seus contratos, o golfe ainda agradecerá muito ao jogador. E Tiger continuará sendo a cara do golfe, numa proporção maior até do que Pelé significou para o futebol. 

Glossário
Caddie: carregadores de tacos que acompanham
os jogadores pelo campo.
Driver: nome do taco usado para longas distâncias.
A primeira tacada se chama drive.
Handicap: pontuação geral dada a cada jogador. Jogadores
com handicap baixo precisam de um número menor de tacadas
para acertar os buracos. A pontuação, que vai de zero a 40, serve
para igualar dois jogadores de níveis diferentes.
Hole-in-one: jogada em que o buraco é acertado com uma única tacada.
Putter: taco utilizado quando a bola já se encontra muito próxima ao buraco. Essa tacada se chama putt.
Swing: Balanço do corpo para dar a tacada na bola.

Yards: No golfe, as distâncias são medidas em jardas, ou yards,
em inglês. Cada jarda equivale a 91,40 centímetros. A única exceção é a Europa, onde a referência é o metro.

Aquecimento
 Repetição
Antes de iniciar a partida, repita os movimentos do balanço do corpo, até acertar o ritmo e o traçado ideal para a tacada precisa. Firme a cintura e os pés no chão. Olhe atentamente para a bolinha na grama. Os costados das mãos, ao pegar o taco, devem estar virados um para o outro. O ombro esquerdo deve estar próximo ao queixo. Rapidamente, leve o taco para cima, como se tivesse cortando o ar. A repetição lhe dará segurança no decorrer do jogo. Funciona como o aquecimento de um nadador nos momentos que antecedem o
mergulhar na piscina.
Velocidade da grama
 Calibragem
Pergunte aos responsáveis pelo campo se o green de treinamento tem a mesma espessura do restante do campo. Se a resposta for positiva, ponha as bolas em variadas distâncias e calibre as tacadas próximas aos buracos.
Verifique o tipo de areia
 Diferenças
Tome um tempo para checar a espessura da areia
nos bancos. É fofa? Úmida? Quanto mais solta for
a areia, maior deverá ser a amplitude da tacada, com
braços erguidos ao máximo.
Conheça as marcações
 Distâncias
As marcas indicam a medida, em jardas,
até o green. O número à esquerda aponta
as jardas até o início do green (194). À
direita, até o ponto mais distante. No
exemplo ao lado, a diferença é de 34 jardas.
Fuja dos obstáculos
 Estudo
As emboscadas no percurso são
a principal fonte de frustração do
golfista. É fundamental ter em mãos
um mapa do campo. Reserve um
tempo para estudá-lo atentamente.
 Água
Mas se você não tiver um mapa,
o ideal é perceber o tipo de
vegetação que costuma cercar
os espelhos d’água. O ideal, portanto,
é lançar a bolinha com mais força.
Tome nota
Cinco conselhos úteis
EXPERIÊNCIA:
Converse com as pessoas que já jogaram no campo. Eles saberão indicar os buracos mais difíceis, as armadilhas no percurso rumo aos buracos.
ARQUITETURA:
Procure se informar a respeito do estilo do profissional que desenhou o campo. Ele tende a traçar um gramado com muitas oscilações?
CLIMA:
Se o tempo estiver ruim e chuvoso, jogue de modo conservador. O golfe é um esporte que deve ser praticado em parceria com o ambiente.
EQUIPAMENTO:
Certifique-se, antes de entrar no gramado, se está levando a variedade necessária de tipos de tacos, para tacadas curtas ou longas
EGO:
Se você está se sentindo confiante, arrisque cada vez mais. Uma das graças do golfe é buscar os limites – é o que o torna fascinante.
COLABORAÇÃO:
Walison Ferreira Rogério, instrutor
da Federação Paulista de Golfe.

A paisagem repleta de coqueiros e bancos de areia já era bem conhecida. Fernando Pinto de Moura, diretor-geral do Banco Alfa de Investimentos, mirou por cima de uma árvore no meio do campo Comandatuba Ocean Course, dentro do Hotel Transamérica, na Bahia. A tacada foi perfeita. Obediente, a bola traçou no ar o mesmo caminho que fizera no dia anterior, quando Moura treinava naquele mesmo par. A bola caiu no gramado, desceu lentamente pela inclinação do terreno e entrou certeira no buraco. Naquele Torneio do Rei da Espanha de 2000, ele fora o único a acertar um buraco com uma única tacada, o que no golfe leva o nome de hole-in-one. O feito foi comemorado por todos ao longo do resto daquele dia. ?O golfe é a arte da repetição. Só precisei fazer o mesmo movimento do dia anterior?, gosta de repetir Moura.

Quem olha o executivo de camisa pólo andando no gramado dificilmente conseguiria adivinhar qual foi o motivo que o levou a jogar golfe. Seus pais não praticavam o esporte. Aos 43 anos ele jamais fizera um swing. Seu primeiro contato só foi acontecer em 1986. Então vice-presidente sênior do Chase Manhattan Bank, elegeu o golfe para se aproximar de grandes empresários e executivos de multinacionais, pessoas de alta renda que poderiam se interessar pelos serviços financeiros prestados pela sua empresa. O banco, então, começou a patrocinar torneios pelo Brasil ? a mesma estratégia que hoje é utilizada por empresas como Samsung, Duke Energy, Mercedes-Benz, Dinners Club, Impsat, Vuarnet, Deutsche Bank e General Motors. Mas isso não era o suficiente. Três anos mais tarde, Moura alistou-se nas classes de final de semana no Gávea Golf and Country Club, no Rio de Janeiro. A tática deu certo. ?Muita gente que conheci no campo acabou virando meu cliente depois?, revela.

O golfe cresce
12%
ao ano no brasil

Moura e sua mulher, Maria Cecília Duarte, moram no condomínio São Fernando, a 30 km de São Paulo. Toda semana a dupla freqüenta o São Fernando Golf Club, localizado dentro dos muros do residencial. Uma única e rápida volta com o banqueiro em seu carrinho vermelho Yamaha pelo gramado num sábado à tarde já é suficiente para vê-lo cumprimentar uma dúzia de pessoas. Muitas delas também parceiras de Moura no jogo (no golfe não há ?adversários?, apenas ?parceiros?). O Banco Alfa patrocina o torneio anual promovido pelo clube e plantou placas discretas em alguns pontos do percurso. O contrato com o clube também inclui um prêmio que é dado para todos os que acertarem um buraco com uma tacada a menos do que o ideal: um vale-compras de R$ 200 na lojinha ao lado do bar.

Aos 61 anos e com handicap 15, o executivo domina todas as regras do esporte. Das mais gerais, como não usar calça jeans, às mais sutis. Fazer mais do que dois swings antes de acertar a bola não é recomendado. Começar uma partida falando sobre negócios é terminantemente proibido. ?Quando as pessoas descobrem que você trabalha num banco, elas naturalmente tocam num assunto de trabalho?, diz Moura. Com sua experiência no relacionamento pessoal, ele chega a comparar o comportamento das pessoas dentro e fora do campo. ?Na maioria das vezes, pessoas mais agressivas no golfe são também mais ousadas na hora de investir. Mas isso não é uma regra válida para todos?, diz. Como camiseta pólo é imprescindível, Moura tem no seu armário modelos de três cores diferentes, todas com o logotipo do Banco. Tantas regras, contudo, não lhe tiram o gosto pela atividade. Pelo contrário. O executivo gosta de falar sobre a tradição que obriga o jogador que acertar um hole-in-one a pagar uma rodada de champanhe para todos os que estiverem no bar do clube (segundo ele, existem até casos de pessoas que pagam um seguro para não serem pegos de surpresa). Quando acertou o buraco em uma única tentativa no Comandatuba Ocean Course, a conta do bar saiu alta: R$ 1,5 mil. Mas nada de reclamações. ?Sou um apaixonado pelo golfe e por todas as suas tradições?, resume.

MELHORES DO BRASIL
Os golfistas já têm ótimas opções em São Paulo, Rio e Bahia

O fascínio do golfeEquipamento básico
A marca de TigerA primeira vez
Dicas de percursoGrandes tacadas
Volta ao planeta em 7 camposMelhores do Brasil

COMANDATUBA OCEAN COURSE ? TRANSAMÉRICA
Una, Bahia

18 buracos
6.426 jardas
Taxa de uso: R$ 124/dia
Tel: (0xx73) 686-1039/1122

Um dos mais bonitos do Brasil, localiza-se dentro do Hotel Transamérica, entre o mar e a Mata Atlântica. Fundado em 16 de dezembro de 2000, é o maior campo de resort da América do Sul. A construção da obra idealizada por Dan Blankenship foi acompanhada de perto por biólogos.

SÃO FERNANDO GOLF CLUB
Cotia, São Paulo

18 buracos
6.746 jardas
Taxa de uso: R$ 195 a 370/dia
Tel: (0xx11) 4612-2544/2741

Pelas suas medidas amplas, o campo arquitetado por Kuther Koontz é muito utilizado em competições profissionais. Fundado em abril de 1954, é tido com um dos mais difíceis do País. Fica dentro de um condomínio de casas de alto padrão e o acesso só é permitido na companhia de sócios.

ITANHANGÁ GOLF CLUB
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro

27 buracos
6.427 jardas
Taxa de uso: R$ 200 a 250/dia
Tel: (21) 2494-2507

Obra do arquiteto Arthur Morgan Davidson, este clube ganhou fama em 2000 por sediar o primeiro torneio PGA European Tour no País. Conhecido como um dos mais completos campos brasileiros, o Itanhangá tem um gramado plano, com buracos abertos em curvas sinuosas do traçado. As árvores, a paisagem ao fundo e o vento contínuo o transformam também num cobiçado passeio. Abriga a elite do Rio de Janeiro.

GÁVEA GOLF AND COUNTRY CLUB
São Conrado, Rio de Janeiro

 
18 buracos
5.903 jardas
Taxa de uso: R$ 350/dia
Tel: (0xx21) 3322-4141

 

VOLTA AO PLANETA EM 7 CAMPOS
DINHEIRO selecionou alguns dos mais respeitados
clubes de golfe nos Estados Unidos, Europa e Austrália.
Deve-se enfrentá-los pelo esporte mas também pela
oportunidade de conhecer paisagens de tirar o fôlego.

O fascínio do golfeEquipamento básico
A marca de TigerA primeira vez
Dicas de percursoGrandes tacadas
Volta ao planeta em 7 camposMelhores do Brasil

Cypress Point Club
Pebble Beach, Califórnia,
Estados Unidos

 
18 buracos
6.524 jardas
Taxa de uso: US$ 1.000/dia
Tel: (00xx1) 831-6242223

O microclima da Califórnia, território de alguns dos melhores campos do mundo, com clima quase sempre quente e iluminado, assegura o gramado liso, sem imperfeições. Os especialistas dizem que o buraco 16 é um dos mais complicados em todo o planeta ? a sorte é que para alcançá-lo o jogador tem diante dos olhos o oceano, ao pé do desfiladeiro. Fundado em 1929, o Cypress Point atraiu uma leva de outros clubes para a Califórnia.

Royal County Down
New Castle, Irlanda do Norte

36 buracos
7.037 jardas
Taxa de uso: US$ 100/dia
Tel: (00xx44) 284-3723314

As Montanhas de Mourne brotam ao longo do gramado. É um típico gramado de golfe irlandês, repleto de pontos cegos numa trajetória de 36 buracos. Bancos de areia fofa são armadilhas freqüentes. As dificuldades transformaram o Royal County num dos greens prediletos dos profissionais europeus. Para quem gosta de unir esporte ao turismo, é passeio obrigatório nos meses quentes do verão europeu.

Augusta National
Golf Club
Georgia, Estados Unidos

 
27 buracos
7.270 jardas
Taxa de uso: sob consulta
Tel: (00xx1) 706-6676000

Pense em Winbledon ou Roland Garros. O Augusta é o equivalente, para o golfe, a estes dois templos do tênis. É um dos mais exclusivos clubes do mundo. Recentemente, seus sócios recusaram o título a Bill Gates. Mas é possível, sim, acompanhar as tacadas no green histórico. Atenção: mulheres não são aceitas, o que já tornou o clube alvo de maciças campanhas das entidades de defesa da democracia e igualdade entre os sexos nos Estados Unidos.

St. Andrews, antigo campo
Fife County, Escócia

 
18 buracos
7.061 jardas
Taxa de uso: US$ 90/dia
Tel: (00xx44)(1334) 466666

Uma única informação ajuda a entender a importância do St. Andrews: há relatos de partidas em 1400, 600 anos atrás. De lá para cá, o campo escocês viveu o inferno e o paraíso. Durante mais de 100 anos, seus criadores lutaram contra o banimento do esporte, imposto pelos reis. A alegação: o golfe incitava à perda de tempo, à falta de preparo para a guerra. Foi pioneiro no desenho do campo com 18 buracos, em 1754. É fundamental para quem gosta de mergulhar em recantos históricos.

Pine Valley Golf Club
New Jersey, Estados Unidos

18 buracos
6.987 jardas
Taxa de uso: US$ 110/dia
Tel: (00xx1) 856-7833000

Fundado em 1913, é um dos campos mais procurados pelos americanos, amadores e profissionais reputados como o gênio Tiger Woods. Seu desenho é obra do arquiteto e golfista amador George Arthur Crump. Ele tinha um plano de vida e o tirou do papel com maestria: aliar vistas magníficas a um green diferente de todos os outros até então construídos nos Estados Unidos. Em Pine Valley não há mais que dois buracos sucessivos na mesma direção, o que torna o trajeto difícil.

Quinta do Lago Golf Club
Algarve, Portugal

18 buracos
5.870 jardas
Taxa de uso: US$ 100/dia
Tel: (00xx351) 289-390700

Palco do Open de Tênis de Portugal, respeitado torneio europeu, a Quinta do Lago, iniciativa do brasileiro André Jordan, empreendedor bem-sucedido no Algarve, é pioneiro na região. Há dois percursos à margem da ensolarada reserva natural de Rio Formosa. A hospedagem na Quinta é uma agradável alternativa.

Royal Melbourne Composite
Melbourne, Austrália

18 buracos
6.598 jardas
Taxa de uso: sob consulta
Tel: (00xx61) 613-95986755

É obra do arquiteto americano Alister Mackenzie, uma espécie de Michelangelo dos campos de golfe, sinônimo de qualidade e surpresas ao longo dos greens. O trajeto atual, utilizado nos grandes torneios, foi rabiscado por Mackenzie numa visita à Austrália, em outubro de 1926. Desde então, e apesar de reiterados protestos, os sócios do Royal recusam-se a alterar o percurso, em respeito ao meio ambiente. Aceita mulheres e crianças a partir de 14 anos de idade.