A sorte cai do céu? Cair, cai, mas dá para aumentar as chances dela despontar à sua frente. É um bom atalho na rota dos lucros. Durante quatro anos, o psicólogo inglês Richard Wiseman, da University College London, estudou a história de 400 pessoas que se consideram muito sortudas ou tremendamente azaradas. No grupo dos afortunados, ele identificou comportamentos semelhantes, uma leva de pontos em comum a uni-los. O levantamento resultou em um livro, The Luck Factor (O fator Sorte), best-seller entre homens de negócios e do mundo financeiro na Europa e nos Estados Unidos. ?A sorte está sempre por perto?, disse Wiseman à DINHEIRO. ?Atraí-la pode ser uma excelente estratégia para aumentar os ganhos nos investimentos.?

A primeira iniciativa é abrir a porta para que a sorte brote quando você menos espera. Wiseman notou que, entre os bem-sucedidos com o acaso, impera a falta de rotina. Os agraciados pelas boas coincidências da vida estão sempre dispostos a conhecer produtos novos, gostam de variar os caminhos de casa para o trabalho e também sempre diversificam as aplicações. A carteira financeira mescla renda fixa, ações, imóveis e até investimentos mais exóticos, como aplicar na criação de avestruz. A segunda constatação, e o estudioso inglês a considera crucial, é que os felizardos realizam constantes consultas à própria intuição. Em geral, as decisões não são tomadas apenas em função dos números e indicadores técnicos. Critérios subjetivos, como as premonições e os sonhos, também são considerados, inclusive no racional setor das finanças.

Evidentemente, o despertar de situações inesperadas entra no capítulo do imponderável. Cabe, no entanto, no sobe-e-desce das apostas com dinheiro, lembrar o batido chavão: ?Quem não arrisca, não petisca?. O médico paulista Benedito Fittipaldi e sua mulher, Nívea, donos da Kolplast, empresa de equipamentos médicos, sabem bem o que é isso. ?Se não tivesse apostado na minha intuição teria perdido um ótimo negócio?, diz Fittipaldi. Em 1988, quando teve o tino de produzir aparelhos médicos descartáveis, foi taxado de lunático. Todos os instrumentos eram de metal e ninguém cogitava a utilização do plástico. Nenhuma distribuidora do setor aceitou representar o seu produto nas vendas para hospitais e laboratórios. ?Mas sentia que a idéia era viável?, lembra. Entre inúmeras negativas do mercado, as suas sensações favoráveis foram confirmadas por pura sorte. Ao passar despretensiosamente em frente ao laboratório Fleury, um dos maiores da capital paulista, Nívea teve a sacada fundamental para fazer a empresa deslanchar. Resolveu entrar e apresentar os equipamentos de plástico direto para o seu cliente final, dispensando os intermediários. O casal se encaixa numa das descobertas do estudo inglês: Wiseman verificou que a sorte está, muitas vezes, associada a atitudes ousadas. Hoje, a Kolplast exibe com orgulho o título de pioneira no setor e faz sucesso no Brasil e no exterior.

E qual seria a atitude incorreta de Fittipaldi? Se ele se considerasse um investidor azarado, teria apenas lamentado a primeira recusa e, em seguida, desistiria do negócio. ?Ficar na lamúria é o mesmo que dar adeus para a sorte?, diz Wiseman. ?É uma postura proibitiva para quem quer ser um afortunado.? A estratégia de manter o otimismo também já funcionou de maneira positiva para o administrador de empresa Ricardo Nogueira. Em 2001, no final do mês de agosto, ele foi surpreendido por uma dívida no financiamento do seu apartamento. Não tinha jeito, teria que resgatar o dinheiro que estava aplicado em ações para quitar a prestação. Nogueira confessa que ficou um pouco chateado por perder os rendimentos do investimento, mas se sentia bem. Afinal, tinha condições de quitar a dívida. Duas semanas depois, as bolsas de valores de todo mundo desabaram em função dos atentados terroristas nos Estados Unidos. ?Tive muita sorte?, comemora. Desde então, o investidor passou a levar as suas impressões em conta na hora de resolver problemas financeiros. Para desenvolver as técnicas que podem atrair a sorte, o inglês Wiseman montou um roteiro de conduta que está disponível no seu site www.luckfactor.co.uk. Um dos primeiros passos é enumerar quantas vezes você se deu mal nos investimentos. Depois, sugere o psicólogo, faça uma lista com os motivos prováveis que o levaram ao prejuízo ou à falta de sorte. Com essas informações, é possível vigiar diariamente os comportamentos azarados. Assim, conclui Wiseman, você saberá como evitá-los nas próximas vezes. Toc-toc-toc na madeira.