Socorrooooooooo! Eu tentei de tudo
quanto é jeito baixar o terceiro episódio, mas não consigo! Alguém tem um link para baixá-lo???
A súplica, extraída do site de relacionamento Orkut, está na comunidade Lost Brasil, um dos mais de mil grupos de discussão sobre o seriado americano cuja história se desenvolve em torno dos sobreviventes de avião que cai em uma ilha perdida no Pacífico Sul. Traduz como essa série televisiva, temperada com uma fórmula insuperável de mistério, teorias conspiratórias e acontecimentos sobrenaturais, tornou-se mais do que um fenômeno, virou religião. Produzida pela rede americana ABC, do conglomerado Walt Disney, Lost arrebatou milhões de fãs ao redor do mundo e hoje é uma máquina de fazer dinheiro que fatura, apenas com a venda de DVDs, cerca de US$ 100 milhões por ano. Nos Estados Unidos, a audiência média atinge 18 milhões de pessoas, na Inglaterra, oito milhões, e no Brasil são mais de dez milhões. ?Dá para medir o sucesso de um programa pela quantidade de pirataria que surge em torno dele?, diz Marcos Rosset, presidente da Walt Disney Brasil, a distribuidora da série. ?Não temos dados precisos, mas Lost é o mais pirateado.? Será ainda mais copiado com a estréia do ator Rodrigo Santoro na terceira temporada em exibição nos Estados Unidos.

 

Além de uma trama muito bem elaborada, o sucesso da série se esconde atrás de um movimento que está transformando a indústria da televisão da mesma forma como modificou o mercado fonográfico: a onda dos downloads. A internet tornou-se uma ferramenta usada tanto para o bem como, na visão dos executivos, para o mal. Ela fez com que a geração do iPod voltasse a ver a televisão com outros olhos. Hoje, é possível baixar os episódios americanos no dia seguinte de sua exibição. Eles são disponibilizados na rede em sites como o iTunes, da Apple, por US$ 1,99, ou são compartilhados gratuitamente em comunidades virtuais. Para quem não domina o idioma inglês e baixou o episódio original, já existem sites que oferecem as legendas em português para que elas sejam aplicadas à imagem. O site www.lostbrasil.com, por exemplo, faz isso. Depois de exibidos nos Estados Unidos, uma equipe de dez aficionados traduz os diálogos e disponibiliza no site. Depois, é só usar um programa para sincronizar as falas com as imagens. Há quem considere isso crime, pirataria. Acontece, porém, que aguça a cobiça de quem é fã. Afinal, enquanto o canal AXN passa a segunda temporada no Brasil, a ABC já mostra a terceira no exterior. ?Estamos estudando vender episódios simultâneos?, diz Rosset. Enquanto isso não acontece, a internet é, sim, um canal para os aficionados. ?Baixo na internet e depois compro os DVDs para colecionar?, diz Bruno Saraiva, diretor da Holemaker, fabricante de máquinas para manutenção de ferrovias. O diretor de criação da AgênciaClick, Ricardo Figueira, também segue a linha do ?lostmaníaco?. ?Já passei um fim de semana inteiro assistindo a 19 episódios?, diz. ?Só não posso ver a série sem a minha mulher, senão dá briga.?

US$ 100 milhões é o faturamento estimado com a venda dos DVDs em todo o mundo.

O que faz os adeptos colarem na frente da televisão são, principalmente, os mistérios da ilha, os efeitos especiais transportados das megaproduções cinematográficas da Disney para a televisão e a complexidade de cada personagem. ?Lost estimula teorias e debates, exercita a imaginação e põe em evidência questões filosóficas, religiosas e sociológicas?, diz Carlos Alexandre Monteiro, autor do blog Lost in lost. Ursos polares surgem na mata tropical, pessoas são seqüestradas por habitantes invisíveis e os personagens revelam os seus temores e personalidades na forma mais nua e crua. Os fãs constroem várias teses para explicar os fenômenos. Alguns dizem que a ilha é, na verdade, o purgatório. Outros vão mais longe afirmando que extra-terrestres estão no comando. Tudo isso não passa de especulação e serve, em favor da produtora, para criar seguidores incontestáveis. De acordo com a Disney, as vendas dos pacotes com sete DVDs a um preço médio de R$ 150 alcançam 60 mil unidades por ano. De carona nessa febre, a produtora pretende trazer subprodutos da série. ?Em breve, poderemos licenciar Lost no Brasil?, diz Rosset.