30/07/2009 - 7:00
De tempos em tempos, ciclos de recessão e de prosperidade criam novas profissões, enquanto outras desaparecem. Na grande depressão dos anos 30, engenheiros americanos foram obrigados a trabalhar em minas de carvão para sobreviver. Era o retrato do colapso econômico. A crise atual está longe daquela realidade, mas já é possível observar o nascimento de novas atividades. Um exemplo recente vem da Espanha. O PIB daquele país despencou quase 4% no primeiro semestre, o desemprego se aproxima de 20% da população – mais do que o dobro da desocupação no Brasil – e a crise levou o país à pior recessão em mais de três décadas. Nesse ambiente, seria difícil encontrar alguma profissão que prosperasse.
Mas existe ali um ramo em franca expansão, protagonizada por jovens espanholas e imigrantes, inclusive brasileiras. São mulheres que perderam seus empregos e, no desespero, passaram a oferecer serviços domésticos, digamos, não convencionais. Elas lavam, passam e cozinham, mas também animam os patrões com suas minissaias insinuantes e exagerados decotes. E mais: tudo está previsto no contrato de trabalho – informal, é claro. E a moda pegou. No mês passado, foram oferecidos mais de 750 mil “combos eróticos” em anúncios de jornais, segundo reportagem da BBC Brasil. “A oferta tem sido maior que a demanda, mas é um setor que tem grande potencial de crescimento”, ironizou um grande jornal de Madri, em um artigo que analisava a economia do país.
Um fator que tem limitado um avanço ainda maior desse tipo de serviço é o grau de exigência dos patrões. “Procuro doméstica sensual, com boa aparência, morena e com traços latinos”, dizia um anúncio na seção de classificados de emprego de um jornal de Barcelona. Tal exigência custa caro. O preço médio do combo sensual é de R$ 50 a R$ 80 por hora (de 20 a 30 euros). Algumas dessas prestadoras de serviços admitem que aceitam manter relações com os contratantes pelo preço do pacote, outras dizem que exigem adicionais.
Por isso, não é de se estranhar que em um único dia da semana passada, 3.360 anúncios ofereciam propostas como “gostaria de conhecer moça que goste de se exibir enquanto realiza tarefas domésticas”. “Há gente se aproveitando das pessoas por causa da crise”, disse a presidente da ONG, Teresa López, em entrevista à BBC. Segundo a Associação Espanhola de Prostíbulos, o serviço seduz principalmente espanholas que jamais haviam exercido a prostituição. “Isso para nós é um fenômeno surgido da crise. Nos últimos 15 anos não tínhamos nem 5% de espanholas nisso. Elas já são 30%”, disse o diretor Roberto Doval.
O governo espanhol já admite que precisará intensificar a fiscalização e o combate a esse tipo de prática, mas reconhece que será uma difícil tarefa. Entre os espanhóis, as novas empregadas domésticas são chamadas de porno chachas. Além de chamar a atenção pelo inusitado serviço, elas ganharam espaço na mídia local pela criatividade. Afinal, podem ser as únicas a lucrar em um país em profunda crise.