PENSE EM UMA EMPRESA familiar, gerida por um executivo de mercado, mas com um fundador que gosta de dar palpites no negócio. Nela, a operação é totalmente verticalizada. A terceirização é mínima. Para completar, a maior parte de suas vendas acontece no porta a porta, num mercado em que a mercadoria que fabrica pode ser achada facilmente em camelôs e lojas populares. Se uma operação como essa caísse nas mãos de qualquer consultoria em gestão, não sobraria pedra sobre pedra. Maior fabricante de lingeries do Brasil, a DeMillus segue a cartilha das anti-regras do mundo corporativo brasileiro. Diz que não mexe em time que está ganhando. Entre 2004 e 2008, o faturamento bruto terá pulado de R$ 173 milhões para mais de R$ 320 milhões ? alta de 85%. O total de revendedoras de produtos da marca, que obtém 70% de sua receita por meio da venda direta, saltou de 70 mil para 120 mil pessoas no mesmo período. ?Estamos bem como estamos. A meta é crescer 25% em 2008?, diz Abdalla Haddad, neto de imigrante sírios e presidente da empresa desde 2002.

A Marcyn, sua concorrente direta, tem 90 mil revendedoras e fatura bem menos, cerca de R$ 70 milhões ao ano. Vice-líder no segmento, a Duloren vende R$ 170 milhões anuais. Com 20% do mercado, a DeMillus faz o errado parecer certo.

Numa das unidades do grupo, na zona norte do Rio de Janeiro, a linha de produção e o escritório ?conversam? o tempo todo. Lá, a linha de frente da empresa pode acompanhar, em tempo real, o que acontece na fábrica. Isso agiliza a tomada de decisões. E coloca o presidente, literalmente, dentro da linha de overloques.

Numa das unidades do grupo, na zona norte do Rio de Janeiro, a linha de produção e o escritório ?conversam? o tempo todo. Lá, a linha de frente da empresa pode acompanhar, em tempo real, o que acontece na fábrica. Isso agiliza a tomada de decisões. E coloca o presidente, literalmente, dentro da linha de overloques.

O alto custo de manutenção dessa estrutura própria, na visão da companhia, é motivo de orgulho. ?Ganhamos em qualidade e a escala compensa esse gasto. Se isso aqui fosse uma ?fábrica- butique?, aí seria suicídio?, brinca Haddad. São 44 milhões de peças vendidas por ano (120 mil por dia), num mercado altamente informal.

Quem não desgruda os olhos de cada movimento da empresa é o seu fundador, o octagenário Nahum Manela, filho de poloneses e presidente do conselho de administração. O empresário não encarna o papel do criador-ricoaposentado, que acompanha só com o rabo de olho o que acontece nos corredores da indústria. Ele é apaixonado pelo negócio. ?Nas empresas familiares brasileiras, há uma relação de amor entre criador e criatura?, diz Eduardo Najjar, do núcleo de estudos de empresas familiares da ESPM.

Num cenário desse, em tempos de governança corporativa, entende- se quem satanize tal estrutura. ?Essas empresas acertam porque gastam muito em lançamentos com um agressivo marketing de guerrilha. Choque de gestão mesmo, só quando a fábrica pega fogo?, ironiza um representante setorial, referindo-se ao incêndio na Duloren, em 1997. Nos últimos cinco anos, esse setor mudou muito. Os donos do mercado, para se diferenciar dos produtos ?made in China?, tiveram que investir mais para explorar a categoria de itens com maior valor agregado. A Duloren lançou uma linha de lingeries eróticas no final de 2007. Na DeMillus, a estratégia foi semelhante, com o recente lançamento de sua coleção ?erótico-chique?. Quem compra a nova colônia da marca leva uma calcinha fio-dental por R$ 2,99. Se incluir nessa conta R$ 1, a cliente ganha uma liga para a perna. Tudo de muito bom gosto, jura a empresa.