A decisão do Banco do Brasil de reduzir em até 34% suas tarifas, anunciada na segunda-feira 8, caiu como uma bomba sobre as ações dos bancos. O BB vai isentar os novos clientes das tarifas de cadastro de R$ 30. Pacotes de serviços que atualmente custam R$ 49,90 terão seus preços reduzidos para R$ 38. Como resultado, suas ações desabaram, e arrastaram os papéis de outras instituições financeiras. A queda acumulada do BB no mês, até a terça-feira 9, superou 8%, baixa seguida pela concorrência (veja quadro ao final da reportagem). “Acabou o negócio bancário baseado no spread”, afirmou na semana passada o presidente do BB, Aldemir Bendine, em referência à margem de ganho do setor. 

 

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Segundo ele, os movimentos do BB visam a atrair novos clientes, algo iniciado em maio com o pacote Bom pra Todos e reforçado agora com a decisão de cortar tarifas. Depois da redução de mais de cinco pontos percentuais da taxa Selic, iniciada em agosto do ano passado, e da pressão de Brasília pelo corte dos juros nos empréstimos e nos cartões de crédito, a decisão do BB – a ser seguida pela Caixa Econômica Federal – foi vista como mais um movimento para forçar a competição no setor. Com os gigantes estatais praticando tarifas mais baixas, raciocina o mercado, os concorrentes privados não teriam alternativa exceto segui-los, algo mortal para os resultados. 

 

“O Brasil foi o último almoço grátis no mundo para os bancos”, disse a presidenta Dilma Rousseff em uma entrevista concedida ao jornal inglês Financial Times no início de outubro. Alexandre Abreu, vice-presidente de negócios e varejo do BB, declarou, ao anunciar o corte, que os resultados não devem ser afetados. O mercado não se convenceu, e há boas razões para a desconfiança. À primeira vista, os números fazem muita diferença. Os resultados consolidados das quatro grandes instituições financeiras listadas em bolsa – Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander – mostram que, nos 12 meses encerrados em junho de 2012, as receitas com tarifas equivalem a até 57,5% do dinheiro ganho ao emprestar dinheiro. 

 

Nesse período, o BB faturou R$ 16,9 bilhões com tarifas, ou 49,8% dos R$ 34,9 bilhões ganhos com crédito. Não por acaso, os analistas estão pessimistas. “A crescente agressividade dos bancos estatais vem colocando em dúvida a rentabilidade patrimonial do setor bancário brasileiro”, escreveram Maria Gordon e Richard Flax, da americana Pimco Securities, maior administradora de fundos do mundo. Jorg Friedemann, da americana Merrill Lynch, reiterou sua recomendação negativa para as ações do BB. Por aqui, as preocupações são semelhantes. Um relatório de Regina Longo Sanchez, da Itaú Corretora, avalia que no pior cenário, a receita de serviços do BB poderia cair em até R$ 400 milhões, sem considerar possíveis ganhos de volume como consequência das tarifas mais baixas. 

 

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Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil

 

Há razão para tanto pessimismo? Embora a redução das tarifas possa ser considerada um divisor de águas, alguns especialistas acreditam que a reação foi exagerada. O primeiro argumento é totalmente numérico. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Banco Central (BC) em meados de setembro, depois de manterem inalteradas suas tabelas em 2010 e 2011, os grandes bancos – o BB entre eles – reajustaram suas tarifas neste ano. O preço de alguns itens corriqueiros,como o fornecimento de extratos avançou 49,5%, ao passo que serviços mais especializados, como a compra e a venda de moeda estrangeira por meio de cartões pré-pagos ficaram 191% mais caros. 

 

Não é possível calcular um reajuste médio, mas aumentos menores foram de 6,6%, acima, portanto, da inflação de 3,8% no período. Outro ponto a considerar é que, pelo menos no primeiro momento, a decisão dos gigantes estatais poderá encontrar pouca disposição para ser seguida pelo setor privado. Procurados, Bradesco, Santander e HSBC informaram estar avaliando o que fazer com suas tarifas, mas descartaram a hipótese de qualquer mudança no curto prazo. O Itaú Unibanco foi além, e informou que sequer avalia uma alteração em seus preços. No entanto, o argumento decisivo para mitigar o pessimismo é que é preciso calcular o impacto da decisão sobre a última linha dos balanços antes de se concluir que o almoço dos bancos brasileiros vai ficar mais caro e indigesto. 

 

“A análise de que o corte de tarifas vai afetar linearmente os resultados é apressada”, diz Aloísio Lemos, analista de bancos da corretora Ágora, ligada ao banco Bradesco. “Os bancos podem ganhar menos com cada transação, mas é possível que eles realizem mais transações que hoje são feitas por outros meios.” Lemos usa como exemplo a movimentação eletrônica de dinheiro entre bancos, a Transferência Eletrônica Disponível, ou TED. Seu custo para o cliente é de R$ 8, em média, o que estimula o uso de cheques ou dinheiro em espécie. “Preços menores farão mais clientes optar por esse serviço, compensando a baixa nas tarifas”, diz ele.

 

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