17/01/2014 - 21:00
Imagine uma aplicação financeira sofisticada que permita ao investidor conciliar o melhor da renda fixa com as oportunidades de ganho esporádicas do câmbio e das bolsas, tanto no Brasil quanto no Exterior. Esse tipo de aplicação, denominado Certificado de Operações Estruturadas (COE), foi regulamentado pelo Conselho Monetário Nacional em setembro passado e começou a valer no dia 6 de janeiro. Antes, essa aplicação era restrita a clientes de alta renda dos private banks, mas agora se tornou disponível para investidores com R$ 100 mil no bolso.
“Esse investimento permite conciliar o melhor de vários ativos”, diz Aline Sun, sócia da empresa de distribuição de produtos financeiros Guide Investimentos. Até então, para montar essas aplicações, os gestores tinham de realizar malabarismos e conciliar ativos distintos, como aplicações de renda fixa e derivativos de câmbio ou ações. Além da complexidade operacional, essa aplicação fazia com que o investidor tivesse um trabalho extra para acompanhar o comportamento de várias aplicações diferentes. Agora, a vida do investidor está mais simples. O COE permite que o gestor realize 31 combinações diferentes entre ativos financeiros.
Aline Sun, da Guide: “O COE é um tipo de investimento
que reúne o melhor de vários ativos”
É possível, por exemplo, investir R$ 1 milhão em um COE ligado ao preço da soja. Esse título proporciona ao investidor auferir os ganhos com uma eventual valorização da commodity, mas não afeta seu capital se as cotações caírem. “Uma das maiores vantagens do COE é sua flexibilidade”, diz Fabio Zenaro, gerente de novos produtos da Cetip. “Ele permite ao investidor obter os ganhos da renda variável sem correr
tantos riscos.” Os COE são a nova face de uma aplicação denominada nota estruturada. Montada individualmente pelos bancos, essa nota era um trabalho artesanal dos gestores de recursos. Sua aplicação mínima era de R$ 300 mil.
Ao reduzir a aplicação mínima, o COE deverá popularizar essas aplicações, sem tirar suas características de produto de nicho. No fim de novembro, o estoque de operações estruturadas em circulação era de R$ 8 bilhões, segundo a Cetip. Apenas no primeiro dia de vigência dos COE, foram emitidos R$ 22,2 milhões em títulos, de acordo com a Cetip. A maior parte dos recursos foi aplicada em operações de capital 100% protegido, que mesclaram ativos e derivativos de câmbio, índices de preços e índices de ações. Esses papéis serão emitidos pelos bancos, podem ser negociados também pelas corretoras de valores e serão registrados na Cetip ou na BM&FBovespa.
Sérgio Odilon, do BC: ”A mudança é boa para todos
os agentes envolvidos nas operações”
“A mudança é boa para todos: para o investidor, que tem maior controle, para o banco, que vai dispor de mais uma forma de captação, e, principalmente, para o regulador, que poderá acompanhar as transações”, diz Sérgio Odilon dos Santos, chefe do departamento de regulação financeira do Banco Central (BC). A fiscalização será rigorosa. Todas as transações e preços terão de ser informados ao BC, que manterá os registros por dez anos, seguindo a prática do mercado internacional. A tributação será a mesma utilizada para CDBs, com alíquota de Imposto de Renda que varia de 15% a 22% do ganho, dependendo do prazo da aplicação. Os executivos do mercado financeiro estão animados. Para Felipe Soárez, do Itaú BBA, a mudança deverá estimular o mercado, que ainda tem muito a crescer por aqui.
Segundo ele, as operações estruturadas representam 10% das captações bancárias em todo o mundo, algo em torno de US$ 2 trilhões, mas, no Brasil, sua participação não chega a 1%. “Isso mostra que há muito espaço para ocupar”, afirma Soárez. No entanto, os especialistas advertem que é preciso tomar os cuidados habituais com aplicações sofisticadas. “Toda operação estruturada envolve vários ativos e, por isso, é compatível com investidores de perfil agressivo”, diz Fábio Gallo, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Além de ter ciência dos riscos de mercado, Gallo alerta para outro tipo de precaução, de parte dos investidores. “Não é recomendável adquirir certificados que não estejam registrados na Cetip ou na BM&FBovespa”, diz Gallo.