A Santista Têxtil anda apaixonada por uma tal de nanotecnologia. É com essa ciência de miniaturização que a empresa pretende mergulhar de cabeça na última tendência do setor: a criação de fios inteligentes, capazes de carregar em seu interior partículas microscópicas contendo medicamentos, cremes hidratantes, vitaminas… Mas a concorrência já não tem esse tipo de fio? Sim, em tecidos sintéticos (náilon, poliéster e lycra). A diferença é que a brasileira Santista está adotando a tecnologia em uma fibra natural, o algodão, matéria-prima de seu carro-chefe, o denim, usado na confecção de jeans. Ao apostar na nanotecnologia e desenvolver produtos com maior valor agregado, a empresa também cria um antídoto ao avanço dos fabricantes asiáticos, que com o fim das cotas de importação de têxteis têm tudo para dominar o mercado mundial de commodities. ?A nanotecnologia é o desdobramento de um projeto que teve início há cinco anos, quando passamos a estudar e produzir tecidos modificados?, afirma Manoel Areias Neto, gerente corporativo de inovação da Santista Têxtil.

A primeira geração de tecidos modificados da Santista já colabora com cerca de 25% das vendas globais da companhia, de R$ 1,28 bilhão em 2004. São fios dotados de resinas capazes de, por exemplo, eliminar o odor resultante do suor, evitar a ação de raios ultra-violeta e até proteger do fogo. Mas há limitações mercadológicas. Uma delas é o custo elevado (cerca de 50% acima do valor cobrado pelo produto convencional). Existem ainda problemas estruturais, já que as substâncias inseridas no tecido resistem apenas a 20 lavagens. Isso restringiu sua utilização a fardas militares, uniformes de bombeiros, entre outros. Com a nanotecnologia, a Santista espera reduzir o preço e aumentar em cinco vezes a vida útil dos aditivos nas roupas.

A nova onda do tecido inteligente na Santista tem um quê de ?família Jetson? pois prevê a adição de microcápsulas nos fios que compõem o tecido. São justamente esses dispositivos que podem conter em seu interior elementos como creme hidratante, perfume, vitamina e até mesmo o princípio ativo de um determinado medicamento. A liberação da substância acontece no decorrer do dia por meio do contato da roupa com a pele. ?O campo de aplicação é ilimitado?, destaca Areias Neto. E a ambição da empresa não é pequena. ?Queremos aliar as vantagens dos sintéticos (secagem rápida, leveza e durabilidade; por exemplo) ao conforto proporcionado pelo algodão?, explica. Se der certo, a Santista conseguirá fazer uma verdadeira revolução na história da fibra natural. E, claro, forrar o cofre com milhares de reais. O parceiro nessa empreitada científica é a Escola Superior de Física da Universidade de São Paulo (USP), situada em São Carlos. O protocolo para viabilizar os experimentos foi assinado em 1º de julho e a empresa já liberou R$ 52,5 mil para equipar o laboratório. E não deve parar por aí. Nos últimos 10 anos, a Santista aplicou R$ 550 milhões em inovação, meio ambiente e tecnologia.

Mas enquanto olha para o futuro, a Santista não descuida do presente. A companhia está produzindo experimentalmente jeans com fios de prata. Trata-se da mesma tecnologia usada pela britânica Umbro nas camisas da seleção inglesa de futebol e no uniforme do Santos. Já foram selecionados moradores de São Paulo para vestir modelos feitos com esse denim, que tem ação bactericida e é isolante térmico. Como o preço é muito elevado, Areais Neto pensa em procurar grifes de jeans de luxo (Diesel e Miss Sixty, por exemplo). ?Só pode competir com os asiáticos quem investir em tecnologia. No preço eles são imbatíveis?, resume. Em outras palavras, quem quiser sobreviver no setor terá que vender algo mais do que tecido.