Há uma novidade na economia mundial, ruim para países sempre às voltas com o Fundo Monetário Internacional. No último fim de semana, autoridades de 182 países foram a Washington participar da reunião anual do FMI. Conheceram o novo diretor-gerente da instituição, o espanhol Rodrigo Rato, e viram um homem disposto a jogar duro. ?O FMI precisa começar a dizer não aos que pedem socorro?, foi logo avisando Rato. ?Essa perspectiva iria fortalecer o incentivo para a implementação de políticas consistentes, evitando a necessidade de apoio do FMI.? Foi o primeiro sinal de alerta. Representante do Brasil na reunião, o ministro da Fazenda Antônio Palocci chegou a Washington anunciando que tentaria mudar os critérios do FMI para o cálculo do superávit primário, com retirada dos investimentos em infra-estrutura da contabilidade. Foi ignorado. Seu pleito sequer entrou na pauta. ?Não é um interesse do Brasil, mas de muitos países?, desconversou o ministro.

?O Brasil está pedindo demais?, sentenciou à DINHEIRO o economista John Williamson, idealizador do Consenso de Washington. ?O governo deveria primeiro reduzir a dívida pública para se achar no direito de pedir.? Neste momento, o governo Lula enfrenta um paradoxo. Por quase dois anos, o ministro Palocci converteu-se no mais fiel seguidor da cartilha de arrocho do FMI. Há um mês, resolveu aumentar por conta própria o superávit primário de 4,25% para 4,5% do PIB, represando R$ 4,2 bilhões em investimentos públicos. A banca aplaudiu e o risco-Brasil vem caindo. Mas na semana passada, descobriu-se que até mesmo o FMI agora está cobrando que o governo pise menos no freio e mais no acelerador da economia. ?Antes de aumentar o superávit primário, o Brasil deveria ter levado em conta vários fatores?, disse à DINHEIRO o diretor-adjunto do FMI para o Brasil, Charles Collin. ?É positivo também pensar na necessidade de realizar investimentos para crescer.?

O Brasil apresentou ainda um segundo pleito a esse novo FMI ? a criação de uma linha de crédito preventiva, espécie de cheque especial a ser utilizado em caso de turbulências internacionais futuras. Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, vem buscando respaldo político para a idéia. ?A discussão está em andamento, mas não será resolvida a curto prazo?, diz Meirelles. ?O fundo está permeável a esse pedido do Brasil?, atesta Brad Setser, da Universidade de Oxford, consultor do FMI e do Tesouro americano. Ao retornar a Brasília, a equipe econômica voltou a cogitar a hipótese de renovar mais uma vez o acordo com o FMI, que vence em março de 2005. Há um ano, quando assinaram o atual acordo, Palocci e Meirelles prometeram que seria a última vez que o Brasil apelaria ao Fundo. A rigor, as contas estão em ordem. As reservas líquidas devem chegar à confortável cifra de US$ 50 bilhões em dezembro. Por que então continuar andando de muletas? A resposta cabe a Palocci e Meirelles.

US$ 50 bilhões é o volume previsto de reservas do BC ao fim de 2004