Não é de hoje a paixão do brasileiro por carros velozes – quem nunca se sentiu o próprio Ayrton Senna ou um Nelson Piquet ao volante? –, mas aliar isso ao conforto extremo é fenômeno recente por estas praias. E é exatamente nesse mar que a Bentley quer nadar de braçada. Na última semana, o presidente da fabricante inglesa, Christophe Georges, fez passagem relâmpago pelo Brasil, trazendo em sua bagagem dois novos modelos para o portfólio comercial da marca: o Continental GT V8 e o GT Conversível. São os primeiros da tradicional montadora britânica com inspiração essencialmente esportiva. Os bólidos passam dos 300 km/h e têm acabamento de couro e madeira nobre a bordo, aliado a um biturbo de oito cilindros e 500 cavalos sob o capô. 

 

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Otimista: o presidente e COO da Bentley, Christophe Georges, acredita na força do mercado brasileiro

para absorver seus carros. No detalhe (foto abaixo), a logomarca da fábrica: a letra B alada,

criada nos anos 1930

 

É com esse binômio de luxo e potência que o executivo pretende seduzir ainda mais os brasileiros. “A perspectiva é de que vendamos entre cinco e dez modelos como esses até dezembro”, disse o executivo à Dinheiro. Pouco? Não, se pensarmos que a média comercial da montadora no País é de 20 carros por ano desde 2010, quando desembarcou oficialmente por aqui. E que, sobretudo, o valor dos novos GT parte de R$ 1,1 milhão. Não é para qualquer um. Em números globais, a montadora sediada em Crewe, a 300 km de Londres, vai bem, obrigada. Segundo dados da companhia, as vendas nos primeiros seis meses do ano aumentaram 9%, com 4.279 unidades emplacadas. Destas, 1.282 desembarcaram nas Américas. 

 

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Entre os BRICS, os chineses, com 817 veículos, e os russos, 110, foram os que mais levaram os carrões ingleses para a garagem, de janeiro a julho. À beira da pista de testes Velo Cittá, em Mogi-Guaçu (SP), onde os carros foram apresentados, Georges admite que o momento econômico brasileiro não é dos mais favoráveis. E o francês, de 46 anos, embora saiba que o filtro financeiro é o primeiro considerado na hora de se decidir a compra de um carro novo, tem claro, também, que questões de segurança e de status social influenciam. E, nesses dois quesitos, a Bentley se garante. O Continental GT V8 parece dois carros em um. Com uma tocada suave, seu motor trabalha com metade dos cilindros (quatro, em vez dos oito instalados) e quase não se ouve o ruído dos pistões e afins. 

 

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Para poucos: à direita, interior requintado do modelo conversível, campeão de vendas nos Estados Unidos.

À esquerda, o Coupé mostra seu design musculoso na pista de Mogi-Guaçu (SP)

 

Parece um sedã perfeito para passeios à beira-mar, para ver e ser visto. Porém, basta pisar sem dó no acelerador para o motor trabalhar cheio e se ouvir o ronco turbinado expelido pelos dois escapamentos traseiros. O giro sobe e o veículo dispara, com uma aceleração digna de carro esportivo (ver o quadro ao final da reportagem). O que pode frear, no entanto, o sucesso do modelo por aqui é o elevado IPI sobre os produtos importados. Para se ter uma ideia, enquanto aqui o novo V8 passa da casa do milhão de reais, nos Estados Unidos ele custa menos da metade (R$ 400 mil). Culpa dos impostos? “Sim, é claro!”, defende-se o francês. Ele alerta para o equívoco que esta política pode causar ao mercado de luxo nacional. “Ao cobrar tantas taxas, você empurra o consumidor a comprar em outro país, algo bem fácil hoje em dia”, diz. “Então, no que esta política ajuda o Brasil?” 

 

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