Luiz Moan, presidente da Anfavea: "Brasil ainda é o sétimo maior mercado de automóveis"

Luiz Moan, presidente da Anfavea: “Brasil ainda é o sétimo maior mercado de automóveis”

Na terça-feira 7, ao divulgar o desastroso balanço do setor automotivo no primeiro trimestre, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, fez uma análise dura e realista. Classificou de “extremamente difícil” o início do ano e previu que o segundo trimestre será “difícil”. Traduzido em números, o cenário “extremamente difícil” significa queda de 16,2% na produção e de 17,0% nas vendas de veículos, incluindo caminhões e ônibus. Por dedução, o cenário “difícil” no período de abril a junho pressupõe uma queda menor, com uma leve recuperação apenas a partir do segundo semestre.

Em resumo: o atual momento representa o fundo do poço para as montadoras. O contexto econômico no Brasil é adverso para qualquer setor. No caso da indústria automotiva, o quadro fica ainda mais desafiador se levarmos em consideração que houve uma antecipação de consumo nos últimos anos, impulsionada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e por uma oferta abundante de crédito barato. Os dois estímulos desapareceram no exato momento em que as famílias estão endividadas e, corretamente, priorizam arrumar as suas finanças domésticas.

Com notícias negativas brotando diariamente e um ajuste fiscal que, embora seja necessário, tem efeito recessivo, não há clima para o consumidor trocar de carro. “Há uma crise de confiança”, afirma Moan. Existe ainda um ingrediente fundamental para determinar o grau de (des) ânimo dos consumidores: o mercado de trabalho. As duas pesquisas do IBGE, com metodologia e abrangência diferentes, apontam elevação do desemprego. Na própria indústria automotiva, as demissões em massa estão acontecendo há 17 meses consecutivos, com perda acumulada de 18,7 mil vagas no setor, sem incluir as concessionárias e a indústria de autopeças.

“Com medo de perder o emprego, as pessoas adiam a troca do carro”, diz Orlando Merluzzi, sócio da MA8 Management Consulting Group. Com a experiência de quem atua no setor há mais de 30 anos, Merluzzi não tem dúvidas de que o mercado é cíclico. “O ideal nesse momento de crise seria implementar um ambicioso programa de renovação de frota”, diz o consultor. Apesar de todas as dificuldades – as montadoras e as concessionárias têm 360 mil carros prontos, estoque suficiente para 46 dias de vendas –, o mercado brasileiro continuará sendo atraente para qualquer multinacional.

Segundo a Anfavea, o Brasil tem a maior diversidade de marcas de veículos do mundo, o que torna a competição cada vez mais acirrada. Em tempos de crise, a concorrência se transforma em oportunidade de barganha para os consumidores e em desafio de rentabilidade para as montadoras. “É a hora de separar os homens dos meninos”, diz Merluzzi, que avalia que as marcas entrantes terão maior dificuldade nesse período turbulento. Se o setor encerrar o ano com queda de 13,2% nas vendas, como prevê a entidade patronal, ainda assim terão sido comercializados três milhões de veículos, o que deixará o Brasil entre os seis maiores mercados do mundo. Como se vê, o fundo do poço não é tão fundo assim.