01/08/2012 - 21:00
Maio não foi um bom mês para a economia brasileira. A produção industrial e as vendas no comércio caíram em relação ao mês anterior, os estoques de carros se acumularam nos pátios das montadoras e a curva de inadimplência ainda apontava para cima. O IBC-Br, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central, considerado uma prévia do PIB, também teve variação negativa. O cenário que se formava, então, parecia complicado. E era. Mas a boa notícia é que maio já passou e falar dele é olhar pelo retrovisor. Os números de junho estão começando a ser divulgados e é recomendável esperar por julho para ver se eles se mantêm.
Mas já cresce, entre economistas, empresários e governo a sensação de que o chamado mês das noivas foi o fundo do poço. Ou seja, as coisas já começaram a melhorar em junho, sob os auspícios de São João. A impressão generalizada de que o pior já passou começou a ser confirmada no meio da semana passada. O indicador de inadimplência – um dos que mais preocupavam o governo, pelo efeito sistêmico, e a indústria, pela redução de consumidores disponíveis no mercado – deu sinais de melhora. Os pagamentos em atraso no financiamento de veículos caíram, em junho, pela primeira vez desde dezembro de 2010. O crédito também voltou a subir e chegou a R$ 2,16 trilhões, o equivalente a 50,6% do PIB.
Há um ano, o volume de crédito no mercado representava 46,1% do PIB. Ou seja, mais gente está tomando dinheiro, e os que já têm financiamento estão conseguindo pagar seus carnês em dia. Melhor ainda: as taxas de juros caíram para o menor nível desde o início do Plano Real. Sempre otimista, o ministro Guido Mantega acredita que as medidas tomadas pelo governo para estimular o consumo estão apenas começando a surtir efeito, e que elas garantirão uma boa recuperação da economia neste segundo semestre. Mantega avalia que o PIB brasileiro estará crescendo na casa dos 4% na virada do ano – e mantém a previsão de 3% para este ano.
A projeção para 2012 pode ser otimista demais para o mercado, que aposta numa alta de apenas 1,9%, segundo o boletim Focus, elaborado pelo BC com previsões dos economistas do setor privado. Mas a projeção do governo de uma expansão em torno de 4% em 2013, coincide com a dos analistas do mercado. O emprego, que tem sido a âncora do mercado interno, continua dando sinais de força. O Caged, que registra os empregos com carteira assinada, mostra a criação de mais de um milhão de vagas no primeiro semestre deste ano. A geração de postos de trabalho entrou num ritmo mais lento, mas a manutenção do índice de desemprego num nível inferior a 6%, com elevação da massa salarial, mostra que as vagas criadas são suficientes.
Marcelo de Ávila, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acredita que a melhora na renda familiar reduziu a pressão dos jovens no mercado de trabalho. Com pais, mães e irmãos mais velhos trabalhando, eles podem se manter por mais tempo na escola, preparando-se para um futuro melhor. Mas quem não mostrou sinais de melhora no mês de junho foi a indústria. A sondagem da CNI revela que a produção teve o quarto recuo em seis meses, enquanto o nível de estoque continua elevado e o desemprego, nesse setor, aumentou. Mas aí o problema é outro. No segundo semestre de 2012 a economia deve voltar a ir bem, enquanto a indústria, tudo indica, permanecerá inspirando cuidados.