28/01/2009 - 8:00
EM MARÇO DE 2006, A DIREÇÃO mundial da Philips reuniu 200 executivos de seu alto escalão num hotel em Nova Délhi (Índia). A agenda do encontro era composta de apenas um item, apresentado de um jeito quase desafiador: como transformar a área de equipamentos médicos no principal ingrediente para o crescimento global da corporação holandesa? Na semana passada, a filial brasileira deu uma resposta, digamos, mais contundente à matriz ao se tornar a primeira fabricante de raio X digital do País. O equipamento, batizado de DR-2D, foi desenvolvido integralmente por técnicos locais e seu preço é 40% menor que os similares. Atributo suficiente para que a máquina tenha competitividade mundial. A começar pelo continente latino-americano. Para isso a Philips ingressou com pedidos de homologação do produto junto aos órgãos que regulam o setor no Chile, Colômbia, Argentina e México. Também foram enviados exemplares do aparelho para as filiais da Índia e da China. O lançamento do DR-2D significa ainda mais. Com ele, a subsidiária brasileira entra definitivamente na estratégia que a corporação desenhou para seu futuro: tornarse menos dependente dos aparelhos eletrônicos e de produtos de iluminação, que respondem por 60% de suas receitas, migrando para itens com maior valor agregado. Tanto que Daurio Speranzini Júnior, vice-presidente da Philips para o setor de cuidados com a saúde para a América Latina, já tem uma lista de equipamentos que pretende fabricar por aqui. Exemplo: monitores para avaliação de sinais vitais, usados em Unidades de Terapia Intensiva. “Assim, esperamos atingir a meta e fechar 2015 com receitas no patamar de um bilhão de euros (R$ 3,03 bilhões)”, destaca o executivo.
Para alcançar esse objetivo, ele desenhou um plano baseado em dois pilares: aquisição de empresas do setor e investimento em pesquisa e desenvolvimento. Desde 2007 já foram gastos cerca de US$ 300 milhões nessa empreitada. A verba inclui a compra da mineira VMI Serviços Médicos e da paulista Dixtal Biomédica e Tecnologia. Speranzini Júnior diz que penou para conseguir aprovar o orçamento. “Foram inúmeras reuniões para mostrar a viabilidade do meu projeto. Havia dúvidas, inclusive, se conseguiríamos digerir as aquisições”, recorda o executivo. A escolha do segmento de raio X deveu-se à constatação de um fenômeno, no mínimo, curioso. Nada menos que 97% dos aparelhos em uso no Brasil são do tipo analógico. Para revelar as imagens é preciso usar aditivos químicos e esperar até seis minutos. O DR-2D faz o mesmo trabalho em apenas dez segundos. Graças a um software embutido na máquina, é possível enviar as imagens, via internet, para um computador. Isso garante agilidade para partilhar um diagnóstico e redução de custos.
R$ 7,3 BILHÕES é quanto somam as vendas de insumos médicos por ano no Brasil, setor que cresceu 21% no período 2005-2007
E é exatamente esse apelo que Speranzini Júnior pretende usar na hora de vender o equipamento. Segundo ele, o alvo são as cerca de 15 mil clínicas e os inúmeros hospitais de médio e pequeno portes existentes no País. A área médica, ao contrário, é um campo vasto especialmente nas nações emergentes, devido ao progressivo aumento da expectativa de vida das populações desses países. No caso específico do Brasil, a venda de insumos hospitalares cresce de forma contínua. Avançou 21,7% no período 2005-2007 – de acordo com a Abimo, associação que congrega as empresas do setor -, atingindo o patamar de R$ 7,3 bilhões. Desse total, R$ 1,2 bilhão se refere a equipamentos. E é em parte nessa bolada que Speranzini Júnior está de olho.