05/03/2010 - 1:00
A mais espetacular história de crescimento ocorrida no sistema financeiro brasileiro nos últimos anos ainda não foi contada. E, se dependesse do homem que foi responsável pela façanha, o discreto banqueiro Edmundo Valadão, dificilmente seria. A história em questão é a do Banco Geração Futuro, fruto da união entre as corretoras Geração e Futuro, de Porto Alegre e do Rio de Janeiro.
Nos últimos anos, nenhum outro banco deu um salto tão grande. Desde 2002, a base de clientes e o patrimônio sob gestão cresceram mais de 4.200% ? hoje, são mais de 75 mil investidores e R$ 7 bilhões em carteira. Por trás desses números grandiosos, estava um empresário pragmático, tímido, focado nos negócios e que se foi, aos 68 anos.
No domingo 28 de fevereiro, Valadão, natural de Guaratinguetá, cidade no interior de São Paulo, não resistiu a um câncer na bexiga contra o qual lutava havia vários anos. Antes de partir, ele organizou a própria sucessão. As duas áreas que ele comandava, o comitê de gestão e a direção comercial, serão assumidas pelos executivos Afonso Arnhold e Joaquim Baião. E a parte administrativa seguirá com Amilton Barbelotti, sócio e concunhado de Valadão. ?O modelo de sucesso criado pelo Edmundo não vai mudar?, disse à DINHEIRO a diretora Ana Clara Rodrigues.
Cartão de visita: Edmundo Valadão gostava de investir sempre nas empresas em que conhecia bem o estilo de gestão
Três semanas antes de sua morte, Valadão recebeu a equipe da DINHEIRO para uma conversa informal. Ele relutava em conceder entrevistas. Mas falou sobre sua filosofia de investimentos. ?Sou um fundamentalista?, brincou. O que ele quis dizer é que investe em empresas que conhece ? e por muito tempo. Até porque Valadão começou no mercado financeiro como analista de investimentos, analisando cada detalhe dos balanços.
Entre as companhias escolhidas por ele constam nomes como Usiminas, Banco do Brasil, Taurus, Randon, Guararapes e Weg. Em algumas delas, de tanto comprar, a Geração acabou se transformando no maior acionista minoritário. E isso explica o segundo mandamento desenvolvido pelo banqueiro: comprar sempre. ?Como você nunca sabe se uma ação está barata ou cara, compre sempre?, dizia ele. ?No fim, seu preço médio será o preço justo.?
Foi assim, apostando sempre nas mesmas empresas, que ele criou o maior fundo de investimentos do Brasil, o Geração Futuro Programado, com 45 mil cotistas e R$ 962 milhões de patrimônio. ?Quem investe no nosso fundo, sabe o que compra?, dizia Valadão. E o banco Geração também permitia aportes pequenos, a partir de R$ 100.
O mais importante não era o tamanho da aplicação ? mas sim investir todo mês. ?O Edmundo será lembrado como quem mais contribuiu para a popularização do mercado de ações no Brasil?, disse à DINHEIRO o bilionário Lírio Parisotto, maior investidor individual brasileiro, que possui um fundo pessoal de R$ 2 bilhões e mantém uma sala própria dentro da Geração. ?Ele tinha a ideia de trazer todo mundo para o mercado de capitais?, confirma Barbelotti.
O crescimento do banco Geração não ocorreu sem acidentes de percurso. Nos últimos anos, Valadão abriu centenas de clubes de investimento. Em tese, os clubes, que pagam menos imposto do que os fundos, deveriam ser formados por pessoas com alguma afinidade, mas isso nem sempre ocorria.
?Como não existia um veículo específico para a popularização do mercado de capitais, ele criou um?, diz Barbelotti. Os clubes da Geração atraíram milhares de clientes, mas foram também o principal alvo da consulta pública que a Comissão de Valores Mobiliários abriu na semana passada. A intenção do xerife é colocar ordem no mercado e evitar vantagens tributárias indevidas. Para se proteger, a Geração já havia se antecipado, fazendo com que vários clubes migrassem para o fundo Geração Futuro Programado, hoje o maior do País.