26/01/2001 - 8:00
“A queda brusca das bolsas não impedirá que a convergência domine a rede”
“Em 2010, 30% do comércio varejista será on-line, mas dominado pelas lojas tradicionais”
DINHEIRO ? Depois da crise da Nasdaq, para onde vai o mercado de Internet?
Roberto Vivo ? Em nossa opinião, ele vai para onde já estava indo antes da crise. A convergência, a união das diversas mídias, é o futuro da Internet. Essa perspectiva não mudou porque a bolsa eletrônica caiu bruscamente. As mudanças provocadas pela rede também não desaparecerão. Elas são as mais profundas já produzidas no mundo dos negócios, em função do número de empregos gerados, da agilidade, das transformações no relacionamento entre as pessoas e entre as empresas e seus consumidores.
DINHEIRO ? Isso quer dizer que os investidores terão de esperar, mais uma vez, para ver retorno na Internet? Desta vez, a espera será pela convergência?
Vivo ? De jeito nenhum. Este ano será o ano da rentabilidade, dos resultados. Os investidores não estão mais dispostos a esperar ou fazer novos aportes nesse mercado. Nós da Claxson, por exemplo, chegaremos ao equilíbrio financeiro no primeiro trimestre de 2002, na pior das hipóteses.
DINHEIRO ? O mercado de Internet já entrou em um período de maturidade?
Vivo ? As oscilações são normais em mercados jovens como os da Internet. No curto prazo eles são instáveis, mas a longo prazo tendem a se estabilizar e se adaptar à realidade de negócios. Mas isso também depende das empresas, pois elas devem ter business plans consistentes e adequados à realidade. O mercado, então, saberá reconhecer essas empresas.
DINHEIRO ? O que a convergência mudará na relação da empresa com o consumidor?
Vivo ? Com a convergência, pela primeira vez, teremos oportunidade de substituir o marketing de massa pelo marketing one to one, ou seja o marketing individualizado. Por exemplo: poderemos fazer uma oferta única para os grandes anunciantes de modo que eles atinjam um determinado segmento de mercado totalmente identificado em suas preferências, em suas necessidades e em seu perfil de consumo. Ou seja, no futuro, cada centavo do investimento de um anunciante terá um retorno sem precedentes. Isso dá um poder inédito inclusive para o consumidor.
DINHEIRO ? O que o consumidor ganhará?
Vivo ? A relação será mais eficiente, mais econômica, mais transparente, mais rápida e mais conveniente para ambos os lados, mais alternativa. Antes a relação era baseada no contato pessoal. Até agora, para comprar um trator, por exemplo, o consumidor tinha de percorrer todos os fabricantes para conhecer os modelos, conhecer os preços, etc. Hoje você vê pela Internet, envia e.mails com consultas, recebe informações e catálogos on-line e deixa para o contato pessoal apenas os detalhes mais cruciais, como o acerto final de preço e de prazos de pagamento. Em uma semana o negócio está fechado.
DINHEIRO ? Houve época em se falava da Internet como grande caminho para o consumidor, o chamado B2C. Depois foi a onda do B2B. O que será a Internet, enfim?
Vivo ? Será isso tudo e algo mais. O comércio eletrônico não vai parar de crescer, seja na relação com o consumidor, seja entre as empresas. Creio que, em 2010, cerca de 30% do comércio varejista será on-line. Uma porcentagem grande desse comércio será feita pelas empresas varejistas que já existem e vão buscar se adequar aos meios eletrônicos e à oportunidade de aumentar ou manter o volume de comércio de hoje, pois, caso contrário, estão destinadas a se estagnar ou a desaparecer. O comércio eletrônico será o diferencial no setor varejista. Quem estiver melhor colocado nessa área terá grandes vantagens sobre os concorrentes.
DINHEIRO ? O sr. acredita em empresas varejistas puramente eletrônicas?
Vivo ? Eu creio que elas tenham realmente viabilidade. Mas elas terão de funcionar com uma escala muito grande para tornar o custo da logística aceitável ou então atuar em nichos de mercado muito específicos. Sem dúvida, creio que há oportunidades. Mas tudo vai depender desse modelo de negócios e seguramente haverá muitas mortes no caminho até que as empresas entendam isso. Há quem olhe a Internet como uma revolução industrial, que provoca um efeito imediato e logo amadurece. Mas acho que é uma revolução permanente, que nunca terá uma configuração definitiva. A dinâmica da Nova Economia é a mudança constante. Então, não podemos, em momento nenhum, aceitar este ou aquele modelo como o definitivo. Precisamos estar sempre prontos para rever nossos conceitos e o que está sendo feito, mesmo que estejamos sendo bem-sucedidos.
DINHEIRO ? Há um predomínio dos grandes portais mundiais, como Yahoo, AOL, Terra Lycos. Existe espaço para portais regionais, como o El Sitio?
Vivo ? Claro que há espaço, mas provavelmente temos de entender que empresas como América On Line e Yahoo têm seus mercados centrais nos Estados Unidos e as empresas regionais, na maioria dos casos, têm êxito nos mercados de origem. O motivo é a identificação maior que gera um foco de negócios mais adequado, maior compreensão da cultura local e conhecimento do usuário. A Nova Economia traz enormes oportunidades para empresas novas, tanto dentro como fora dos Estados Unidos. No caso de Internet, há um sem-número de empresas que são bem-sucedidas, outras que se debatem em dificuldades e algumas que já naufragaram. Isso de forma nenhuma desacredita o fundamento da Nova Economia. Só prova o que temos falado há muito tempo: o futuro da Nova Economia, ou parte do futuro, está em sua relação com a Velha Economia. Não é que uma morre e a outra nasce. As empresas da Nova Economia que não encontrarem essa relação com a Velha terão um futuro mais difícil. O outro lado também é verdadeiro. As empresas da Velha Economia que não adotarem critérios e ferramentas da Nova Economia tampouco terão futuro. Enfim, o futuro no mundo dos negócios está justamente na simbiose entre esses dois mundos, o da Velha e o da Nova Economia. É um caminho de duas direções. E uma empresa líder como a America On Line demonstrou isso ao se fundir com a Time Warner; numa escala menor, numa busca da convergência, El Sitio em julho de 1999 deu prioridade aos sócios estratégicos como Hicks Muse e grupo Cisneros, em vez de sócios puramente financeiros. E agora nós resolvemos nos unir mais fortemente a esses sócios criando a Claxson. Isso mostra um caminho capaz de potencializar os meios de comunicação, a partir da convergência.
DINHEIRO ? Qual será a configuração desse mercado?
Vivo ? Eu vejo alguns grandes jogadores regionais convivendo com os grandes portais mundiais. Creio que a globalização é uma característica da Nova Economia e não vale apenas para as grandes empresas internacionais, mas também para as companhias locais. Creio também que haverá grandes alianças nesse mercado, a exemplo do que aconteceu com o Terra e a Lycos, com a união de empresas latino-americanas com concorrentes dos Estados Unidos e da Europa. Isso faz parte da lógica empresarial da Nova Economia. Haverá também uma série de empresas de nichos que poderão ser igualmente bem-sucedidas e continuar crescendo e atingir uma audiência que vai viabilizar seus negócios. Mas, em nossa visão, a forma de potencializar os negócios na área de Internet passa necessariamente pela convergência.
DINHEIRO ? Qual a vantagem competitiva que o sr. vê nas empresas regionais, na concorrência com os grandes portais?
Vivo ? As vantagens são a cultura e o conhecimento do mercado e poder entender melhor as preferências do usuário. Isso é importantíssimo em um primeiro momento, mas depois da consolidação é necessário criar outras vantagens competitivas. Nesse ponto, mais uma vez, vou insistir na importância e necessidade da convergência, pois é a melhor maneira de aproveitar todo o potencial do marketing interativo e marketing direto que a Internet tem e combiná-lo com a televisão paga, a televisão aberta e o rádio para conhecer com maior precisão a audiência de um conteúdo.
DINHEIRO ? O que El Sitio está fazendo para se adequar a esse cenário?
Vivo ? Creio que nós, com a criação da Claxson, estamos liderando o processo de convergência e uma vez mais tomando uma posição de vanguarda, ao mostrar que temos um caminho de lucratividade muito claro e definido. Assim, creio que temos um modelo de negócios que nos levará à rentabilidade sem necessidade de novos aportes de capital.
DINHEIRO ? O que levou o mercado a essa euforia e ao quase desespero em seguida?
Vivo ? Creio que era tão evidente o potencial de geração de riqueza pela Internet qu os investidores se entusiasmaram excessivamente. Além disso, a possibilidade de investir está tão democratizada que um investidor, sem maiores assessorias, pode escolher uma empresa e comprar suas ações. Foi uma combinação de especulação com entusiasmo, além do momento de crescimento da economia americana.
DINHEIRO ? Como o grupo Cisneros tem participação na AOL Latin America e na Claxson, há possibilidade de união entre as duas empresas?
Vivo ? A Aola e a Claxson são duas empresas com modelos de negócios totalmente diferentes. Por isso não são totalmente concorrentes. O que há de comum é a participação do grupo Cisneros nas duas empresas e a venda de conteúdo da Claxson para a Aola. Não há nada além disso.
DINHEIRO ? Como o sr. vê a atuação de El Sitio em Brasil?
Vivo ? Estamos muito contente com a presença de O Site no Brasil, pois em função do investimento realizado, o Site conquistou uma presença muito importante. O Brasil é também uma oportunidade fundamental para a Claxson no Brasil, pois trata-se de um mercado maior na América Latina e queremos continuar crescendo no Brasil.
DINHEIRO ? Quem em sua opinião é a empresa-modelo em Internet?
Vivo ? A AOL é a empresa modelo em função da fusão com a Time Warner. Esse é o modelo de convergência que consideramos correto e permitirá o sucesso das empresas de Internet no futuro.
DINHEIRO ? Qual é o principal concorrente na América Latina?
Vivo ? Não temos concorrentes diretos, pois a Claxson é a pioneira em convergência nesse mercado.