20/06/2012 - 21:00
As eleições gregas marcadas para o domingo 17 serão lembradas como um ponto de inflexão na história não só da país, mas de toda a Europa. O cenário político não poderia ser mais desolador às vésperas do pleito. A poucas horas do início da votação, nenhum analista arriscava-se a dizer com certeza se algum partido conseguiria obter a maioria de 151 assentos no Legislativo. Prova da indefinição, na quinta-feira 14, a bolsa de Atenas havia subido 10%. A alta não foi sustentada por um fato concreto, mas por boatos sobre pesquisas de intenção de votos. A mera perspectiva de que os números a ser divulgados mostrariam um recuo dos partidos radicais estimulou o mercado.
As ações do setor bancário subiram, em média, 24%. Tanta volatilidade é justificável. Os candidatos ao Parlamento discutem se a Grécia deve manter ou não os vínculos com o mercado financeiro internacional. Ou seja, o país berço da democracia debate uma questão que saiu, há décadas, da agenda de qualquer país que pretenda ser relevante. Se fossem transformados em um filme, os acontecimentos gregos recentes lembrariam as últimas décadas da história brasileira – desde que a projeção fosse realizada de trás para a frente. Na Grécia, as vantagens do euro foram dissipadas no consumo e na especulação imobiliária.
As benesses do crescimento econômico acelerado e da abertura do mercado aos vizinhos europeus provaram ser insustentáveis devido às fraudes nas contas públicas, à incapacidade de o governo arrecadar impostos e à ausência de um projeto político e social. Hoje não há consenso em quem deve pagar a conta. Exatamente o inverso do que ocorreu no Brasil. Por aqui, a redemocratização encontrou uma terra arrasada na política e na economia. Tudo teve de ser reconstruído com uma boa dose de sacrifício. Sucessivos planos econômicos mirabolantes buscaram, inutilmente, debelar a inflação com passes de mágica e ensinaram a dura lição de que não há milagres.
A sociedade brasileira concordou em sacrificar por um longo tempo o crescimento da economia e abrir mão da qualidade dos serviços públicos para pagar o ajuste nas contas do governo que se tornou fundamental para garantir a estabilidade. O progresso foi lento, mas irreversível. Atualmente, o Brasil comemora juros próximos de seu mínimo histórico, apesar de ainda estarem entre os mais altos do mundo. O País viu o Fundo Monetário Internacional tornar-se devedor após décadas cobrando faturas atrasadas, e assistiu aos investimentos internacionais tornarem-se mais concretos e menos especulativos.
A sociedade pode reclamar de um crescimento abaixo do que seria desejável, mas é inimaginavél pensar em mudar as regras do jogo para apressar esse passo. O apreço por uma moeda estável e por uma economia previsível tornou-se tão forte que garantiu a continuidade de uma política econômica, por duas décadas e quatro presidentes. Governo e oposição alternaram-se no poder, mas os pilares da política econômica não mudaram. Por isso, a sociedade brasileira pode orgulhar-se do que conquistou. Embora seja preciso evitar as tentações da heterodoxia econômica, é um alívio saber que hoje, por aqui, as tragédias gregas só existem no teatro.