31/07/2015 - 20:00
A agência de classificação de risco americana Standard & Poor’s (S&P) provocou um turbilhão no mercado financeiro na terça-feira 28, ao anunciar que havia colocado a classificação de risco dos títulos da dívida do Brasil em revisão com perspectiva negativa. Atualmente, o rating brasileiro para os papéis em dólar, que são os que interessam aos investidores estrangeiros, está em BBB-, menor nível do chamado grau de investimento.
Segundo a nota divulgada pela S&P, as investigações de corrupção entre “certas empresas e políticos” pesam cada vez mais sobre os cenários político e econômico do País. Ao comentar a decisão, Lisa Schineller, analista da S&P responsável por Brasil, disse que o Brasil tem crescido menos que outros países emergentes nos últimos anos e que isso é avaliado de perto pelas agências de classificação de risco.
A tradução para o português corrente é a seguinte: a turbulência política tornará cada vez mais difícil para o governo administrar a economia, e a crescente tendência do Congresso para aprovar gastos poderá exercer ainda mais pressão sobre as contas públicas.Com isso, pelo inflexível livro-texto das agências, aumenta o risco de o Brasil não ser capaz de honrar suas dívidas. Não será o único emergente nessa situação, diga-se. A Rússia, do presidente Vladimir Putin, perdeu seu grau de investimento no início do ano, e países como África do Sul, Turquia e Indonésia também estão nessa situação, devido à queda dos preços das commodities.
Os críticos afirmam, não sem razão, que as agências de classificação de risco são organizações povoadas de analistas que olham apenas os números e não têm nenhuma conexão com a realidade. No entanto, suas opiniões são consideradas por todos os investidores que movimentam o mercado brasileiro. Cabe, então, a pergunta: supondo-se que o Brasil perca o grau de investimento, o que pode ocorrer com seu dinheiro?
A resposta para essa questão divide-se em duas partes. No longo prazo, há poucos motivos para susto. “A possibilidade de perda do grau de investimento já entrou nas contas do mercado desde a semana passada, quando o governo anunciou a revisão, para baixo, da meta fiscal”, diz Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, de São Paulo. No curto prazo, a notícia pode provocar alguns sustos – levando, por exemplo, o dólar de volta para o nível “psicológico” de R$ 4,00 – mas, ainda assim, não há razão para pânico. O temor do rebaixamento é uma fuga dos investidores estrangeiros também deve ser colocado em perspectiva.
“Os juros dos países desenvolvidos estão ao redor de zero, mas no Brasil eles superam 14% ao ano, o que faz os gringos terem uma tolerância enorme em relação ao Brasil”, diz o diretor de um banco internacional que conversa diariamente com investidores estrangeiros. Dessa forma, diz ele, uma eventual turbulência deve ser encarada como uma oportunidade de compra de ações e venda de dólares, desde que o investidor não tenha pressa para embolsar os lucros.
Na dúvida, vale a pena conhecer a opinião de Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco. “Não acreditamos na perda do grau de investimento”, disse ele na quinta-feira 30, ao comentar o resultado do banco. “O Brasil tem reservas enormes em moeda forte e empresas saudáveis, o que proporciona dinamismo e capacidade de reação à economia.”