O Clube de Golfe de Brasília transformou-se em escritório diplomático. Foi lá, entre uma tacada e outra, que os brasileiros negociaram com o embaixador da Coréia do Sul, Kwang Tong Kim, um acordo sanitário que escancarou o mercado coreano para a carne e os grãos do Brasil. O resultado do jogo ninguém lembra, mas o crescimento de 60% nas exportações no primeiro semestre de 2003 está sendo comemorado. O próximo lance: em outubro, desembarca no País uma missão agrícola da Alemanha. O campo de golfe está cheio de lobistas das agroindústrias, ávidos por embocar bolas ao lado dos alemães. Um dos fundadores do clube, Roberto Bassus, dono de uma agência de turismo na capital, compartilha o green com estrangeiros e fecha pacotes internacionais de viagens. Também tem sido lá o local escolhido para costurar a fusão Varig-TAM. Um caso memorável ocorreu semanas atrás. Juarez Cançado, dono da maior fornecedora do País de softwares para bancos, a ATP, fez questão de assinar no campo um contrato de
US$ 250 milhões. ?Pedi que os diretores do banco viessem até o bar, no buraco 9,5?, conta Cançado.

As embaixadas promovem torneios com o pretexto de atrair empresários. ?Na informalidade, os contatos sociais evoluem para negócios?, conta Sir Roger Bone, embaixador da Grã-Bretanha. A embaixadora Donna Hrinak, dos EUA, pode ser encontrada às terças e sextas de taco na mão ? mas seus seguranças estão a postos para evitar os lobistas. Localizado a três minutos de carro do Palácio do Planalto, o pulmão verde do poder tem 18 buracos distribuídos em 60 hectares. Foi projetado há 37 anos pelo arquiteto americano Robert Trent Jones, considerado o Picasso dos campos de golfe. O clube é apreciado como um dos melhores do País. Compete em qualidade e glamour com o Golf Club, de São Paulo, e o Gávea, no Rio. ?Já joguei com golfistas que vieram aqui só para conhecer o campo?, diz Guilhermo Piernes, presidente da Confederação Regional de Golfe. Pelos seus declives brotam contos de Cinderela e conspirações atrozes. Sob sua bela paisagem, feita de grama e sombras, um adido alemão se apaixonou por sua caddie (auxiliar que carrega os tacos para os jogadores) e a levou para além-mar. O cenário, diga-se, é convidativo. É a natureza no apogeu. A Associação Brasileira de Reflorestadores traça, agora, um projeto semelhante ao que Dom Pedro II fez com a floresta da Tijuca, no Rio. Eles estão substituindo os pinheiros, árvore predileta dos golfistas, por 7 mil mudas genuinamente brasileiras. Boa parte é de espécies em extinção, como o mogno, o jatobá e o ipê.