Olá, pessoal! Tudo bem? O jogo econômico de 2020 já está em sua reta final. Não há mais tempo para evitar uma derrota acachapante – no máximo, dá para reduzir a goleada (retração do PIB) de -6% para -5% ou até um surpreendente -4%. Porém, no campeonato do ano que vem, o Brasil terá a oportunidade de recuperar parte deste placar vexaminoso, principalmente se houver uma vacina eficaz e em larga escala. O meu palpite atual é de uma vitória de + 3% a +3,5% em 2021, mas esse resultado pressupõe a superação de diversos obstáculos, sendo que o maior deles está ligado à preservação da renda da população.

Antes de abordar o grande desafio econômico de 2021, quero rapidamente mencionar alguns pontos preocupantes que deveriam ser bem cuidados pelas autoridades. Um deles é o ambiente político, que precisa se acalmar. No ano que vem, não haverá eleições, mas a insistência do presidente da República e de alguns governadores de antecipar a disputa de 2022 só atrapalha o clima político no Congresso Nacional, atrasando o avanço da necessária agenda de reformas (tributária, administrativa etc.).

Outro ponto relevante é a questão ambiental. A imagem do Brasil está ruim no Exterior, independentemente de as críticas serem justas ou não (deixemos essa polêmica para outro artigo). O fato é que investidores estrangeiros deixam de colocar dinheiro em países que, na visão deles, não respeitam o meio ambiente. Por falar em estrangeiros, gostaria de salientar aqui um enorme obstáculo fiscal. O Brasil vai encerrar 2020 com um rombo próximo de 1 trilhão de reais nas contas públicas. Se não cuidarmos das receitas e das despesas, os investidores internacionais não aceitarão rolar nossa dívida pública a juros baixos, sem falar no impacto negativo nas perspectivas inflacionárias.

Por fim, vamos abordar a questão da renda, que me parecer ser o grande desafio de 2021. É inegável que o Auxílio Emergencial salvou o Brasil de uma provável situação de caos social. As cinco parcelas de R$ 600 e as próximas quatro parcelas de R$ 300 representam cerca de R$ 280 bilhões no bolso de cerca de 67 milhões de brasileiros. O montante equivale a 4% do PIB. Dado que havia uma demanda reprimida e que o brasileiro não tem uma cultura de poupança, o resultado foi a explosão do consumo de itens básicos como alimentos e materiais de construção. Isso, por si só, evitou um tombo muito maior da economia.

Por trás dessa boa notícia, no entanto, há outra ruim. O Brasil não tem fôlego fiscal para continuar com essa distribuição de recursos. A parcela do “coronavoucher” já foi cortada pela metade e o grande desafio a que me refiro no título deste artigo é a transição do Auxílio Emergencial, que termina em 31 de dezembro, para o novo programa de renda mínima, que substituirá o Bolsa Família. A ideia da equipe econômica é que o “Renda Cidadã” seja maior que o Bolsa Família e menor que o Auxílio Emergencial, tanto em valor quanto em número de beneficiados.

Na prática, significará que dezenas de milhões de brasileiros informais deixarão de receber a ajuda do governo e precisarão viver do próprio esforço. Embora a economia já dê sinais de recuperação gradual, o mercado de trabalho não terá condições de absorver tanta gente no início do ano que vem. Haverá, naturalmente, uma queda na renda disponível da população mais carente, afetando negativamente o consumo. O grande desafio de 2021 é, portanto, como suavizar o tombo na renda, evitando que as expectativas de consumidores e empresários caiam no pessimismo. Afinal de contas, o Brasil tem tudo para crescer acima de 3% no ano que vem.