A mais tradicional rede de supermercados do Rio Grande do Sul está entrando em São Paulo sem fazer ruído. Por enquanto, na esquina das avenidas Pompéia e Matarazzo, em Perdizes, bairro de classe média, o único barulho que se ouve é o de tratores e guindastes. Mas em breve a Companhia Zaffari vai inaugurar ali o Shopping Bourbon, o oitavo endereço do gênero e o primeiro fora do estado de origem, que terá como âncora um hipermercado de mesmo nome. Com o empreendimento, a empresa entra na capital paulista para atuar num segmento dominado pelas lojas especiais do Pão de Açúcar, justamente a bandeira mais poderosa do varejo. Isso porque o Zaffari atende as classes A e B, que buscam nas suas lojas sortimento variado, atendimento especial e ambiente confortável. ?O Zaffari não briga por preço, disputa um público mais abastado?, conta Nelson Barrizzelli, professor da USP.

O novo centro de compras foi arrematado em leilão pela empresa gaúcha em 1997. Depois de longa disputa com o conterrâneo Sonda, que atuava no local, a justiça deu ganho de causa ao Zaffari, em 2005. A empresa não revela o investimento no shopping, nem quando ele será inaugurado, mas promete um espaço com cinemas multiplex, teatro, praça de alimentação.

O Zaffari divide com o Sonae, recém adquirido pelo Wal-Mart, o mercado gaúcho. Ainda leva vantagem. Hoje, é o único entre os quatro grandes do setor que mantém gestão familiar e capital 100% nacional. A pergunta que se faz é: como ele vai resistir ao assédio do capital estrangeiro? No ano passado, a francesa Casino levou metade do Pão de Açúcar e o Wal-Mart comprou o Sonae. Com a estréia em São Paulo, o Zaffari entra na vitrine do mercado mais cobiçado do País, além de agregar valor à marca. E tem um monte de gente de olho na rede gaúcha. Pudera: ela tem a quarta maior receita do setor, com faturamento de R$ 1,3 bilhão, e emprega mais de oito mil pessoas. Sua receita por metro quadrado, de R$ 11,2 mil, é maior que o do Wal-Mart no Brasil. Detalhe: o Wal-Mart tem 149 lojas, contra 26 do Zaffari. Mas os interessados precisarão de habilidade para tirar a empresa dos Zaffari, que estão no negócio desde 1935. O principal obstáculo é a estrutura familiar. São dezenas de herdeiros diretos e outros tantos indiretos que nem sempre se entendem. ?Já assediaram muito o Zaffari, mas ele não deve ser vendido, está bem sólido?, diz Luiz Ratto, consultor de varejo.

A entrada da rede gaúcha em São Paulo divide opiniões. Barrizzelli acha possível a empresa conquistar os paulistas. ?Basta manter o foco no público mais abastado e abrir um número suficiente de lojas?, diz. Outros especialistas condenam a sua chegada. ?É como colocar um gatinho numa jaula de leões?, diz um consultor. ?Vão entrar numa guerra desnecessária?. Ou vão entrar mesmo na vitrine do varejo. Não haveria melhor forma de valorizar o negócio.

R$ 1,3 bilhões foi o faturamento da rede em 2004. Em suas lojas, a receita por metro quadrado é de R$ 11,2 mil, maior que a do Wal-Mart