13/10/2004 - 7:00
Ele já foi um menino prodígio do mercado financeiro, ao presidir a Bolsa de Valores de São Paulo aos 32 anos de idade. Antes dos 40, fundou e elegeu-se primeiro presidente da Bolsa de Mercadorias & Futuros. Agora, aos 53, Eduardo da Rocha Azevedo acredita estar outra vez na vanguarda. Sua corretora, a Convenção, acaba de criar uma espécie de Grande Irmão das operações feitas pelo sistema viva-voz da BM&F. Trata-se de um software capaz de multiplicar o número de observadores de todas as etapas de uma operação financeira, daí a semelhança com a permanente observação sobre as pessoas na ficção de George Orwell. ?Não gostamos muito da idéia de que inventamos um sistema de segurança, mas é exatamente o que fizemos?, diz Rocha Azevedo. ?Ele dá mais transparência no acompanhamento das operações.?
Hoje, quando um grande banco repassa a uma corretora uma ordem de compra ou venda de algum ativo na BM&F, as retaguardas das mesas de operações podem ficar até 20 minutos sem saber o desfecho da determinação. Neste ínterim, apenas os operadores das mesas dominam a informação sobre o destino de, muitas vezes, milhões de reais em trânsito. É raro acontecer fraude por meio da manipulação de preços neste curto período, mas quando acontece impera a lei do silêncio, na qual punições são feitas sem alarde. De olho nos grandes bancos com posições na BM&F, o que a Convenção está oferecendo é a instalação de um software capaz de rastrear todas as etapas das operações ? entre a ordem do cliente e a validação pela Bolsa, passando pelas comunicações entre o operador do cliente, o intermediário da corretora e o operador que fica no chão do pregão. Interligado aos computadores da corretora, o software pode ser instalado em terminais estratégicos nas áreas de compliance e back office, de modo a que mais pessoas saibam o percurso das ordens do início ao fim.
O sistema já está sendo usado por alguns clientes da Convenção. ?Há muito interesse?, diz Marcelo Arbex, o homem que desenvolveu o sistema junto com a Trade Way. Ele virou sócio da corretora dois anos atrás, a convite do filho de Rocha Azevedo, Dudu. Foi um tempo em que o ex-presidente da Bolsa parecia alheio aos grandes negócios. Seu filho e de Arbex o motivaram outra vez. ?Voltei?, diz Rocha Azevedo, a quem todos no mundo das finanças conhecem pelo apelido de Coxa. ?Em breve, irei operar na Bolsa?. Será, então, o filho que à casa torna.