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Os irmãos gêmeos Alexandre e Pedro Grendene imperam no setor de calçados. Alexandre controla o grupo que leva o nome da família, corporação que faturou R$ 326,5 milhões no primeiro trimestre deste ano e tem valor de mercado de R$ 2,5 bilhões. Pedro está à frente da Vulcabras, detentora da marca Reebok no Brasil e dona de uma receita de R$ 446 milhões. Na semana passada, Pedro deu um dos mais largos passos de sua carreira empresarial. Na quarta 11, ele anunciou a compra de 15% da Azaléia ? outra grandalhona do setor ? e imediatamente abriu conversações para arrematar o restante do capital da fabricante de sandálias, pertencente às famílias De Paula e Volkart. A concretização do negócio aconteceu em apenas dois dias. Inicialmente, essa negociação não significará a fusão dos três grupos. Mas, caso esse seja o caminho adotado pelo clã Grendene, surgirá um conglomerado de R$ 2,3 bilhões de faturamento. Somente a união de Vulcabras e Azaléia formará uma companhia com receita líquida de R$ 1,2 bilhão, apenas R$ 100 milhões atrás da líder, a São Paulo Alpargatas. O valor envolvido continua em sigilo, mas a compra da totalidade da Azaléia custaria R$ 130 milhões para a empresa de Pedro.

 

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ALEXANDRE (À DIREITA) E PEDRO: O clã Grendene está no comando de três gigantes calçadistas brasileiras

 

O dinheiro virá de uma linha especial para empresas do setor de calçados do BNDES e de recursos da própria Vulcabras. Aquisições se tornaram uma rotina para a Vulcabras. Há um mês, ela adquiriu a Indular Manufacturas, indústria argentina de calçados esportivos, por US$ 25 milhões.

Na compra da Azaléia, a atração pela área esportiva também teve um peso considerável. Embora as sandálias sejam o carro-chefe da empresa, sua marca esportiva, a Olympikus, ingressou em rota ascendente desde que o vôlei brasileiro, patrocinado por ela, passou a colecionar títulos e fãs entre os jovens brasileiros. Ela detém 10% do mercado de tênis e a Reebok, 40%. Porém, o contrato de 14 anos com a americana Reebok termina em 2012 e Pedro estaria se antecipando a uma eventual não-renovação de compromisso. Por 25 anos, a Vulcabras deteve o contrato com a Adidas, mas a empresa de material esportivo alemã não renovou o contrato e terceirizou sua produção no País. Especula-se que a Adidas queira fazer o mesmo com a Reebok, comprada em 2005 por R$ 8,9 bilhões. Assim, a Vulcabras teria cinco anos para deixar a Olympikus musculosa. Em tempo: 90% do faturamento da Vulcabras vem da Reebok. ?É um negócio que ajudará a Vulcabras a diversificar o portfólio de produtos?, diz Vera Abdo, diretora da MZ Financial Services, especializada em fusões e aquisições.

Há alguns anos a Azaléia mergulhou num cenário de instabilidade. No final de 2006, o ex-governador gaúcho Antônio Britto deixou a presidência da empresa. Desde então, Adelino Colombo, proprietário da Lojas Colombo, está à frente da fabricante de sandálias. Nos últimos tempos, a concorrência chinesa tem sido cruel para a Azaléia. Seu faturamento com exportações caiu 34%. Em 2006, duas de suas fábricas foram fechadas, no Sul e no Nordeste. Mesmo assim, no ano passado, o balanço revelou um lucro líquido de R$ 45,1 milhões. Não bastasse os chineses, os Grendene terão outra dor de cabeça pela frente. A CVM resolveu investigar a meteórica valorização das ações da Vulcabras dias antes do anúncio da aquisição. Pode ser um tropeço no meio do mais largo passo dos Grendene no setor calçadista.

 

US$ 1,2 BILHÃO é a receita líquida da união entre os grupos Vulcabras e Azaléia

 

US$ 2,3 BILHÕES é o faturamento que os irmãos Grendene terão do mercado de calçados