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Giuliano Donini, herdeiro e diretor: “Quando eu crescer, quero ser a LVMH “, referindo-se ao grupo francês dono de 50 marcas e vendas de US$ 18 bilhões anuais

 

 

Giuliano Donini não usa mais a barba que ostentava há um ano. Também guardou a camiseta e adotou visual mais fashion, com jaqueta descolada e jeans italiano. Os cabelos têm reflexos. Tudo para criar um look mais cosmopolita, ele diz. A mudança do garotão de 31 anos segue a megatransformação que ele vem imprimindo na empresa de sua família, a catarinense Marisol. Pode-se dizer que aquela pequena malharia de Jaraguá do Sul, fundada em 1964, não existe mais. Em seu lugar hoje há uma gigante têxtil que fatura R$ 500 milhões por ano, não pára de adquirir grifes famosas, invade os EUA e a Europa e acaba de deflagrar uma grande operação de varejo para concorrer com Renner e C&A e elevar as receitas para R$ 1 bilhão em 2010.

A Marisol é uma empresa em constante evolução. Nascida fábrica de chapéus, virou produtora de camisetas de massa e depois criou uma grife infantil de sucesso (Lilica Ripilica) que lhe abriu as portas do varejo. ?Nossa grande virada foi a abertura das lojas Lilica Ripilica, há seis anos?, diz Donini, que, em março de 2007, assumirá a presidência da companhia, atualmente ocupada por seu pai, Vicente. Ali começou a se desenhar o superprojeto da Marisol.

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Ataque no varejo: Rede One Store (acima) terá 1,2 mil lojas em dez anos. À direita, vitrine da marca Lilica Ripilica em Portugal

 

 

Indo direto ao ponto, a Marisol ? dona de marcas como Mineral, Pakalolo e Rosa Chá ? almeja ser um império internacional de moda. E o ponto central de sua estratégia é tornar-se uma gestora de marcas. O conceito é novo por aqui. No Brasil, apenas a também catarinense Menegotti ? dona da Colcci e da Sommer ? começou a fazer algo nesse sentido. No exterior, grandes conglomerados gerenciam marcas há tempos. Um dos exemplos mais conhecidos é a Limited (dona de Victoria?s Secret e Bath & Body Works). Com sete marcas no portifólio e 4 mil lojas espalhadas pelo mundo, a Limited fatura US$ 9 bilhões por ano. ?A diferença é que a Marisol e a Menegotti têm raízes industriais, e esses grupos americanos são basicamente formados por investidores?, explica a analista Luciane Robic, do IBModa. Donini não esconde os passos de quem vai seguir. ?Quando eu crescer, quero ser uma LVMH?, brinca, citando a potência francesa proprietária de Louis Vuitton, Givenchy, Kenzo, Fendi e outras 50 grifes, 1,7 mil lojas e receitas anuais de US$ 18 bilhões.

O empresário sabe que, por trás de uma carteira poderosa de marcas, é imprescindível ter prateleiras abundantes para colocar seus produtos ao alcance do consumidor. Por isso ele está criando uma rede de lojas ? batizada One Store. Não são lojas próprias e nem franquias. O conceito é diferente: pequenos lojistas multimarcas, enfraquecidos pela competição com grandes magazines e shopping centers, associam-se à rede One Store, que reformula o visual das lojas, oferece um plano de marketing forte e consegue preços melhores junto a fornecedores credenciados graças ao volume de pedidos feitos em conjunto. Em troca, as lojas se comprometem a comprar 50% de seu estoque da Marisol e desses fornecedores e pagam um percentual (não revelado) sobre a venda total do mês. ?O modelo é perfeito para a Marisol, porque ela não teria cacife de abrir uma rede própria tão abrangente e precisa de pontos de venda dispostos a valorizar suas marcas?, diz Alberto Serrentino, consultor de varejo e sócio da Gouvêa de Souza & MD. Três lojas One Store já foram inauguradas no interior de São Paulo e mais 37 serão abertas até dezembro. O plano prevê 1,2 mil até 2016.

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Vicente Donini, presidente: Ele deixará o cargo para o filho Giuliano em 2007

 

 

O tabuleiro de grifes da Marisol compreende atualmente marcas infantis (Lilica Ripilica, Tigor T. Tigre e Marisol), jovens (Pakalolo e Mineral) e adultas (Rosa Chá e Sais). São sete no total, e a empresa está faminta por mais. No ano passado, ela comprou a Pakalolo, ícone jovem na década de 80. Este ano, por estimados R$ 15 milhões, abocanhou a Rosa Chá, sinônimo de biquínis brasileiros no exterior. Foi uma boa jogada. Os especialistas dizem que não há moda no segmento infantil. Por outro lado, a categoria praia esbanja apelo fashion. Com a aquisição da Rosa Chá, portanto, Donini acredita ter trazido mais moda a uma empresa que pretende ser um império de moda. ?Além disso, com a Rosa Chá eu atendo as mães das meninas que são fãs de Lilica Ripilica, e tenho uma opção para continuar atendendo essas meninas depois que elas crescem?, diz o empresário. E há um terceiro aspecto: Lilica, forte na Europa, e Rosa Chá, forte nos EUA, são operacionalmente complementares. ?Nesse setor, o que mais conta é relacionamento. Agora ficou mais fácil vender Lilica aos parceiros internacionais que já trabalham com Rosa Chá e vice-versa?, diz Donini. Hoje, são 13 lojas Lilica lá fora (serão 19 até dezembro) e duas Rosa Chá, nos EUA e em Portugal. Mas o tabuleiro de marcas da Marisol ainda tem ?buracos? (leia o quadro no link “A estante da Marisol”). No momento, o apetite maior é por uma marca infantil para a classe média (algo na linha de Green e Petistil, não necessariamente estas) e uma marca jovem (como Zapping e Triton) para a moçada abonada.

O foco no varejo e na gestão de marcas pode dar a entender que a Marisol esteja se desfazendo de sua tradição industrial? Donini nega. Ele diz que a empresa produz 95% do que comercializa e que investirá R$ 37 milhões este ano em suas fábricas. ?Uma gestora de marcas brasileira tem na indústria seu grande diferencial. As marcas não têm força sozinhas para cuidar da parte industrial, da financeira e da distribuição. As indústrias têm?, explica Luciane Robic. Experiências como a da espanhola Zara, referência mundial em moda e varejo, apontam para um caminho diferente. ?A Zara começou como uma indústria que abastecia o varejo. Hoje, ela terceiriza quase toda a produção e se transformou numa varejista que tem indústria?, acrescenta Serrentino. Se a Marisol vai seguir esse rumo não se sabe, mas Donini certamente adora a comparação com as grandes.