O salão principal do Hotel Grand Hyatt, em São Paulo, ficará pequeno nesta segunda-feira 6. Presidentes de empresas como HP, Nestlé, IBM, Vivo, Colgate, Bradesco e Unibanco, entre outros 120 executivos, disputarão os melhores lugares para ver e ouvir com atenção o senhor Carlos Slim Helu. Querem saber como o empresário mexicano montou o Grupo Carso, um império com dezenas de companhias espalhadas por toda a América Latina e Estados Unidos. E como transformou uma modesta empresa familiar numa potência de US$ 20 bilhões, que navega com sucesso por setores tão distintos como telefonia, bancos e mineração, além do varejo e tabaco.

Na agenda de Slim haverá espaço ainda para jantares com políticos e a nata do empresariado brasileiro. São esperados encontros com Emílio Odebrecht e Pedro Moreira Salles, só para ficar em dois exemplos. Em seguida, o mexicano desembarca em Brasília para falar com o presidente Lula. Vai dizer que é a favor da formação de blocos econômicos na região ?para negociar em pé de igualdade com as superpotências? e provavelmente criticar o FMI, repetindo seu discurso em recente encontro com empresários no México. ?Desde que começamos a aplicar as regras impostas pelo Fundo Monetário Internacional, nós (mexicanos) tivemos duas décadas sem nenhum crescimento consistente?, disse, na ocasião. ?Está claro que esse modelo do FMI não serve para os países latino-americanos e que algo está profundamente errado.?

Conhecido por sua extrema discrição e pela aversão a aparições em público ? ele vive fugindo de fotos e entrevistas ?, Slim passou a dar as caras nos últimos tempos depois que delegou o comando de seu grupo aos três filhos, Patrício, Carlos Jr. e Marco Antonio. Sente-se agora mais à vontade para falar. Mas a visita ao Brasil vai muito além do papel de guru corporativo dando lições aos colegas empresários e do tradicional beija-mão ao presidente da República. Slim veio olhar o mercado. O dono da maior companhia telefônica móvel da América Latina, a América Móvil, com seus 37 milhões de clientes na região, apontou o Brasil como destino prioritário de recursos nos próximos anos. Recentemente ele montou a Claro, segunda empresa de celulares do País. Uma potência que reúne sete operadoras e nasceu com um carteira de 6,7 milhões de usuários. Também comprou a BCP São Paulo e agregou 1,7 milhão de clientes ao seu portfólio. Agora ele está de olho na telefonia fixa no Brasil. Na semana passada, as ações da Telemar deram um salto de 5,57% depois que esquentaram as especulações sobre a venda de parte da empresa ao grupo mexicano ? mais precisamente à operadora fixa Telmex. Os rumores também repicaram no México e o destaque no mercado de ações local foi justamente a companhia de Slim.

Negociação. Em conversas nas mesas de operações de bancos e corretoras, o que se ouve é a possibilidade de um cruzamento de participações que envolveria a BCP. A Telemar, que já havia entrado com os mexicanos no consórcio que adquiriu a BCP, ficaria com mais uma parte da operadora de São Paulo e daria em troca uma fatia de suas ações à Telmex. Outra versão que corre nos bastidores da telefonia sugere a Telmex comprando a parcela que o BNDES detém na Telemar (de 13%). É um bom negócio para o governo, que livra recursos do BNDES para outras áreas. Para a Telemar, que ainda tem ganhos de eficiência e produtividade para conquistar, a entrada da gigante Telmex seria um grande reforço. E os mexicanos iniciariam sua jornada da telefonia fixa com uma operadora com 15 milhões de assinantes e cobertura nacional. ?Estrategicamente e financeiramente a negociação faz todo o sentido?, avalia Fábio Zaffalon, analista sênior de Telecomunicações do Yankee Group. ?A Telmex tem dinheiro em caixa e nos últimos encontros com investidores mexicanos vem repetindo que pretende ter uma participação direta em operadoras fixas na América Latina, principalmente aquelas com grande cobertura.? Tanto o grupo de Slim quanto a Telemar não comentam os rumores. Além da espichar os olhos para a operadora brasileira, o empresário estuda o desenvolvimento de outro ambicioso projeto: uma empresa de telecomunicações que englobaria telefonia fixa, tevê a cabo e internet de alta velocidade.

Nos últimos três anos, Slim investiu mais de US$ 5,6 bilhões no Brasil na área de telecomunicações. Os recursos também se multiplicam em países vizinhos. A América Móvil é dona da PCS na Nicarágua, a terceira daquele mercado. Tem a Telgua, líder na Guatemala. A Comcel, primeira na Colômbia. No mês passado, o grupo mexicano comprou a argentina CTI, que acumulava dívidas de mais de US$ 1 bilhão. O papagaio foi renegociado com credores e só depois disto Slim entrou na jogada. Este é uma das características do empresário: comprar companhias em baixa e transformá-las em potências financeiras. ?Temos grande capacidade de levantar empresas?, afirma Alfonso Gallardo, executivo do grupo mexicano no Brasil. É exatamente isto que a América
Movil pretende fazer com a BCP. Numa estratégia de negociação muito bem arquitetada ? para ele, é claro ?, Slim e sua equipe ofereceram US$ 625 milhões pela BCP e não assumiram as dívidas (estimadas em US$ 1 bilhão). A pendência ficou com os antigos acionistas. São tacadas como essa que o transformaram no mais poderoso empresário da América Latina, dono de uma fortuna pessoal avaliada em US$ 11 bilhões.

A telefonia é apenas parte do conglomerado de Carlos Slim. Ele é dono de uma construtora, de uma corretora de valores, de hotéis, de 400 lojas de varejo no México, de mineradora, de indústria química, de companhias ferroviárias. Ele também fabrica material elétrico e autopeças. Recentemente, entrou para o mundo de Marlboro ao comprar ações da Philip Morris. E ainda divide com Bill Gates a criação do portal T1MSN, voltado para a comunidade hispânica. Aos 63 anos, Carlos Slim Helu acredita que chegou a hora de compartilhar todas essas experiências com os irmãos latinos. Nos encontros com os vizinhos, ele gosta de repetir um ensinamento de seu colega Warren Buffett: ?Há três tipos de homem de negócios: o empresário, o executivo e o investidor. Para ter sucesso é preciso ser os três ao mesmo tempo.? É isso que Slim vem dizer aos brasileiros.