18/10/2006 - 7:00
A campanha do tucano Geraldo Alckmin sofreu um pequeno abalo na semana passada, quando o economista Yoshiaki Nakano, cotado para a Fazenda, se disse favorável ao controle de capitais. Foi preciso que um bombeiro viesse a público para desautorizar Nakano. O personagem em questão é João Carlos Meirelles, este sim, o verdadeiro guru de Alckmin.
Coordenador de campanha, autor do programa de governo tucano e 18 anos mais velho que o candidato, ele é mais que um conselheiro ? é quase um pai. Ex-secretário de Agricultura e de Ciência e Tecnologia de São Paulo, foi ele quem mais incentivou Alckmin a se lançar à Presidência. Talvez por isso, foi o único colaborador tucano a merecer um agradecimento especial de Alckmin após a passagem para o segundo turno. Hoje, com 40 milhões de votos e chances razoáveis de chegar à Presidência, Alckmin ouve cada vez mais o seu guru. Os dois se falam todos os dias e Meirelles tem tudo para ser o homem forte de um governo Alckmin ? o capitão do time, talvez. Otimista, ele transborda confiança. ?Não só estou convencido de que o Geraldo vence, como aposto que ele será melhor do que Juscelino Kubitschek?, disse Meirelles à DINHEIRO.
Essa sintonia mútua tem a ver com a origem e os valores que ambos compartilham. Embora tenha nascido em São Paulo, Meirelles foi criado em fazendas e é na essência um homem do interior, assim como Alckmin. É também um conservador, de hábitos espartanos, voltado para a vida familiar. Neto de pioneiros que desbravaram regiões de São Paulo para a lavoura cafeeira e filho de fazendeiros que abriram fronteiras na terra roxa do norte do Paraná, Meirelles manteve o espírito aventureiro no seu DNA. Nos anos 70, após uma breve carreira política interrompida pela ditadura militar, ele criou três municípios no norte de Mato Grosso: Juruena, Matupá e Cotriguaçu. São cidades cuja economia é voltada para a produção de grãos, em especial a soja. Engenheiro, ele se especializou em projetos de colonização agrícola e chegou a presidir uma associação de empresários da Amazônia. Trinta anos depois, essa experiência pessoal acabou migrando para o programa de governo do candidato tucano. ?JK teve o mérito de fazer o Brasil descobrir o seu interior?, diz Meirelles. ?Um dos eixos centrais do programa do Geraldo é a abertura de fronteiras para o desenvolvimento agroindustrial, levando infra-estrutura até essas regiões.?
Embora seja o principal confidente de Alckmin, Meirelles está longe de ser um cardeal do PSDB. Ele desembarcou no ninho tucano em 1998, a convite do ex-governador Mario Covas, de quem foi colega no curso de engenharia da Politécnica de São Paulo. Como secretário de Agricultura, deu ênfase ao conceito de agronegócio e as exportações paulistas saltaram de US$ 20 bilhões para US$ 38 bilhões. Na Ciência e Tecnologia, foi responsável pela implantação das Fatecs, escolas de ensino tecnológico, que são uma das bandeiras de Alckmin. Hoje, Meirelles garante que o PSDB que pode chegar ao Planalto em 2007 é diferente daquele que governou o Brasil durante oito anos. Em vez da ênfase monetarista imprimida pela turma da PUC do Rio de Janeiro, ele aposta que o ?covismo? finalmente chegará ao poder. ?É um projeto amadurecido e de desenvolvimentismo?, garante. Mas falta trazer Nakano de volta.