01/05/2014 - 19:00
O empresário Leonardo Cid Ferreira, filho do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, dono do falido Banco Santos, desde o berço levava uma vida de luxo. Estudou nas melhores escolas do Brasil e da Suíça, fez faculdade de administração nos Estados Unidos e circulava nas altas rodas da sociedade de São Paulo. Em 2004, aos 23 anos, casou-se com Rebeca Abravanel, filha do apresentador Silvio Santos – de quem se divorciou há três anos. Figura recorrente nas colunas sociais, Leo, como é conhecido, à época dava seus primeiros passos no mercado financeiro, trabalhando no banco da família.
O jovem caminhava para seguir os passos do pai, quando sua vida tranquila e segura ruiu, como um castelo de cartas. No dia 4 de maio de 2005, o Banco Central determinou a liquidação do Santos, por conta de um rombo de mais de R$ 2 bilhões. De uma hora para outra, Edemar, um multimilionário com gostos refinados, apreciador dos mais finos vinhos e colecionador de arte, estava quebrado. As más notícias continuaram. A pior delas foi a condenação do pai, em primeira instância, a 21 anos de prisão, em 2006, por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Ele ainda recorre em liberdade.
A boa vida tinha terminado. Leonardo teve de trocar seu carro, uma BMW blindada, avaliada em R$ 320 mil, por um modelo bem mais em conta: uma Mitsubishi Pajero TR4 usada, pela qual pagou R$ 48 mil. Quem encontra, hoje, o filho de um dos personagens mais polêmicos do mercado financeiro nem imagina que, um dia, ele foi um playboy que mais cedo ou mais tarde herdaria uma fortuna. DINHEIRO encontrou Leonardo em um restaurante na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo. O empresário chegou a pé, de calça jeans e camisa branca. Nada de seguranças ou carro blindado. Durante a conversa, ele demonstrou diversas vezes que sua relação com o dinheiro mudou.
Em determinado momento, afirmou que hoje acha caro pagar R$ 200 em um jantar. Disse também que evita gastar com coisas supérfluas, para poder investir mais em seu negócio. Sobre o passado, diz que não guarda mágoas e que considera importantes as adversidades pelas quais passou. “Se me perguntam se eu gostaria de voltar e apagar o passado, digo que sim, porque trouxe muita dor para minha família”, afirma Leonardo. “Mas a verdade é que para mim foi bom passar por aquilo. Hoje sou mais feliz.” Leonardo hoje é dono da agência AD. Dialeto, especializada em marketing digital, um grão de areia se comparada ao extinto Santos.
A Dialeto faturou, no ano passado, R$ 12 milhões. A previsão é chegar a uma receita de R$ 18 milhões neste ano. A empresa tem 97 funcionários. Sua área de atuação principal é o varejo. Entre seus clientes estão grandes companhias do setor, como Marisa, Submarino e Ricardo Eletro. A empresa atua em um nicho que hoje responde por cerca de 12% da publicidade no País, a internet. “As empresas estão começando a perceber o valor do marketing digital”, afirma Leonardo. A AD. Dialeto é uma fusão de duas agências, a AD. Brazil, criada por Leonardo e pelo publicitário Sérgio Lima, com a Dialeto, fundada em 1998 pelo empresário Renato Abdo, que se especializou em redes sociais.
Além de Leonardo e Lima, figura como sócio o fundo de investimentos Ceiba. Para se tornar um empresário no ramo da publicidade, Leonardo tomou uma decisão difícil e radical: abandonar os negócios do pai. Ele conta que, na época da liquidação do banco, Edemar gostaria que o filho continuasse a seu lado, na tentativa de se recuperar. Correndo o risco de magoar a família, Leonardo decidiu sair de casa, sem olhar para trás. “Eu sabia que, se saísse, não poderia voltar,” diz. “Meu pai ficou chateado, mas entendeu. Hoje temos uma relação próxima e muito boa.” A mudança de ramo, no entanto, não foi tranquila.
“Quando você tem uma situação de estabilidade, é difícil deixar tudo para trás”, afirma Hélio Castro, sócio-diretor da consultoria Horton International, especializada em treinamento de executivos. “Mudar significa poder ser dono do seu destino. Mas é preciso fazer escolhas.” Com o Banco Santos fechado, não lhe restava alternativa senão procurar emprego. Mas, apesar de recebê-lo, nenhuma instituição financeira estava disposta a contratá-lo. Certa vez, em uma entrevista, o contratante abriu o jogo. “Ele me disse que nenhum banco contrataria alguém que chamasse tanta atenção”, diz Leonardo.
Leonardo acabou vendendo os últimos bens que possuía, um apartamento e o carro, e rumou para os Estados Unidos, onde fez pós-graduação na Regent University, na Virgínia. Para bancar os estudos, abriu dois pequenos negócios na internet, através dos quais vendia relógios e peças para aeromodelismo. Seu primeiro contato com o marketing digital se deu quando trabalhou na ONG americana Operation Blessing International, que presta assistência humanitária em regiões de desastres. Logo após seu retorno, ele se uniu a Lima para criar a AD. Brazil. “Não tivemos nenhum apoio financeiro”, diz Leonardo.
Nesse novo desafio, ele acredita que a figura de Edemar não atrapalhou – embora suspeite ter perdido ao menos um cliente por ser filho dele. Dos tempos de playboy, pouco restou. O casamento com Rebeca terminou em 2010. Sua esposa atual, Antonia Fonseca, não costuma frequentar as colunas sociais – apesar de o casamento dos dois, na Casa Fasano, em São Paulo, pago pela família da noiva, ter sido noticiado. Na verdade, daquela época, sobrou apenas uma grande sombra sobre sua família. Leonardo demonstra certo conformismo ao falar sobre Edemar. “Meu pai, até hoje, só faz uma coisa: cuidar dos assuntos do banco”, diz. De fato, o banqueiro falido segue lutando por direitos que alega ainda ter no Santos.
“Eu tenho um patrimônio grande dentro do banco, que me tomaram e que tem de ser devolvido”, afirmou Edemar, em entrevista à revista IstoÉ, em 2011. Depois de ser despejado de sua mansão no Morumbi, na capital paulista, em 2007, e de ver parte de sua coleção de arte e sua adega, com mais de 1,2 mil garrafas de vinho, irem a leilão, Edemar luta na Justiça contra o administrador da massa falida do banco, Vânio Aguiar. Segundo ele, Aguiar estaria negligenciando seus bens. Para Leonardo, no entanto, seria melhor enterrar o passado. “Conheço muita gente rica e afirmo com certeza: as pessoas ‘normais’ são mais felizes”, afirma. “Mesmo com menos dinheiro, saber que você é capaz de conquistar algo com seu próprio esforço dá muito mais segurança.