27/07/2004 - 7:00
Seria o sonho de qualquer empresário. Que tal quitar o investimento na elaboração de um produto já em seu… oitavo dia de vendas? Pois foi o que a Sony Pictures contabilizou com esse fenômeno chamado Homem-Aranha 2, exemplo típico do que Hollywood vem chamando de ?indústria da continuação?. A nova superprodução traz a segunda aventura nas telas do personagem criado pelos gibis da Marvel em 1962. Foram gastos US$ 200 milhões no filme, cifra já alcançada (faturamento bruto) nos primeiros oito dias de exibição nas 4.152 salas norte-americanas ? sua estréia mundial ocorreu dia 30 de junho. E detalhe: esse valor nem considera a receita obtida em outros países ? mais de US$ 114 milhões ?, como o Brasil, onde foi assistido por mais de um milhão de espectadores somente na primeira semana.
Na mesma velocidade dos punhos e dos lança-teias do Aranha, a caixa registradora da Sony arregimenta, apenas 21 dias após o lançamento, mais de US$ 400 milhões de faturamento nas bilheterias. ?O primeiro filme havia feito sucesso (US$ 820 milhões desde maio de 2002). Mas essa continuação vai arrebentar?, comemora o produtor Avi Arad, CEO da Marvel e arquiteto da estratégia de marketing do aracnídeo que envolve novos filmes e um mutirão de licenças para videogames, brinquedos e jogos. Tanto que os próximos episódios já têm datas: o Aranha 3 estréia em maio de 2007 e o quarto, em 2009. A continuação virou febre em Hollywood.
Como o segmento de entretenimento no mundo deve crescer 6,3% ao ano até 2008, contra 5,7% do resto da economia, segundo levantamento da consultoria PricewaterhouseCoopers, que não se estranhe essa nova fase do cinema. É cada vez mais latente na indústria cinematográfica norte-americana os projetos ?Franchise?, conforme eles designam, onde o roteiro da primeira edição contempla uma porção de pistas para o nascimento da segunda, da terceira… Mesmo cineastas considerados cult aderiram à prática, como Quentin Tarantino, que vai lançar Kill Bill 2 em outubro próximo, apenas seis meses após o primeiro. O fenômeno é diferente das continuações produzidas no passado, caso de 007, Tubarão e O Poderoso Chefão. Esses filmes nasciam com prerrogativas de edições futuras, mas só prosseguiram em virtude dos êxitos das iniciais. É diferente de Matrix, onde algumas questões levantadas na estréia só foram respondidas em Matrix Reloaded. Em Batman, os produtores interferiram no personagem, deixando-o menos sombrio ? saiu o mal-encarado Michael Keaton e entrou o galã Val Kilmer ?, a partir do segundo episódio. Precisavam vender mais brinquedos. O homem-morcego segue rumo à quinta aparição nas telas. Outro fenômeno de bilheterias, a saga de Harry Potter foi dividida pela escritora J. K. Rowling em seis livros. Ela já escreveu cinco, e os três primeiros foram parar nas telas. Detalhe: J. K. tem contrato assinado com Hollywood desde o terceiro livro. Uma filosofia que gera situações esdrúxulas, como a que aconteceu nas filmagens de O Senhor dos Anéis. Os produtores gravaram de uma tacada só cenas suficientes para editar os três filmes, exemplo típico de ?economia de escala? na contratação do elenco e da equipe técnica. No caso de Homem-Aranha, os produtores acertaram em US$ 17 milhões o cachê do ator Tobey Maguire para três filmes. Mas em razão do sucesso do primeiro, as costas de Maguire ?começaram a doer? durante as gravações do segundo, o que lhe rendeu a renegociação do salário, em valores não divulgados.
Se a indústria da continuação mantém as bilheterias em alta, também serve para faturar em outras frentes. Licenciado em oito plataformas de games (PlayStation, Windows, Nintendo, entre outros), os produtores do Aranha também se incumbiram de desenvolver uma estratégia de subprodutos para chegar às prateleiras antes da estréia nos cinemas. E não só nos EUA. A Grow, líder no segmento de jogos de tabuleiro no Brasil, recebeu a sinopse do Aranha 2 em dezembro de 2003. ?Tempo suficiente para produzir o jogo?, explica Gustavo Arruda, gerente de produto. Já a Gulliver, que tem a licença de importação de brinquedos, começou a importação em maio. ?Vamos vender 200 mil bonecos até o final do ano?, garante Paulo Benzatti, gerente de Vendas. A empresa faturou R$ 28 milhões em 2003 e espera ampliar para R$ 35 milhões sua receita neste ano. ?A linha Marvel é responsável por 30% de nossas vendas?, comemora o executivo da Gulliver. E não é pra menos. Uma das invenções do CEO da Marvel tornou-se um must aqui no Brasil: é a luva do Homem-Aranha que borrifa espuma, lança dardos e jatos de água. Custa R$ 150.