30/06/2001 - 7:00
Assombrada durante décadas por corrupção, dívidas e calotes, a centenária Caixa Econômica Federal passa por mais uma reformulação. Emílio Carazzai, 52 anos, paranaense de Cornélio Procópio, é o encarregado dela. Em dois anos e meio no cargo, ele tirou do armário da instituição R$ 40 bilhões em esqueletos, profissionalizou o fundo de pensão dos funcionários, vendeu a seguradora e livrou-se de R$ 26,7 bilhões em títulos podres. Agora, defende propostas polêmicas, como isenções de CPMF e redução das taxas de juros.
DINHEIRO ? Qual é o novo perfil da Caixa?
Emílio Carazzai ? Ser um banco popular. E fortalecer a atuação junto ao governo. A CEF é o principal braço do Executivo para políticas públicas e isso será ampliado. Retiramos a Caixa do segmento de grandes empresas, e agora ela vai operar apenas com as micro, pequenas e médias.
DINHEIRO ? Com o saneamento da Caixa, como fica o balanço do primeiro semestre?
Carazzai ? Nossos ativos eram da ordem de R$ 130 bilhões. Ficaremos com algo acima de R$ 90 bilhões.
DINHEIRO ? A Caixa perderá para o Bradesco o segundo lugar no ranking dos bancos. Conseguirá retomar a antiga posição?
Carazzai ? Temos 3,8 milhões de correntistas, 2 milhões de mutuários e 15,8 milhões de poupadores. Queremos expandir esses números. Esperamos chegar a 5 milhões de contas e conceder mais de um milhão de cheques especiais.
DINHEIRO ? Dá para fazer política pública e dar lucro?
Carazzai ? Queremos dar novo tratamento aos subsídios
para a população de baixa renda. Não queremos acabar com os benefícios, porque alguns programas só existem porque recebem subsídios. Mas a ajuda tem quer ser clara e explícita, além de aprovada pelo Congresso.
DINHEIRO ? Qual é o subsídio necessário para manter os financiamentos habitacionais em 2002?
Carazzai ? Para repetir o orçamento de 2000, quando liberamos R$ 2 bilhões em financiamentos novos com recursos próprios, precisaríamos de R$ 200 milhões.
DINHEIRO ? O governo pode mudar as taxas de juros aos mutuários para reduzir o nível do subsídio?
Carazzai ? Sou favorável a alterar as taxas para a classe média que utiliza o FGTS. Não acho que famílias com renda mensal acima de R$ 3 mil devam ser favorecidas com taxas de 8% ao ano. Poderiam perfeitamente ser de 12%. Aumentar além disso, no entanto, seria errado ? juros altos, no longo prazo, levam à inadimplência.
DINHEIRO ? Como se opera financiamento habitacional com taxa básica de juros a 18,25% ao ano?
Carazzai ? É difícil. Mas, pessoalmente, acredito que essa alta de juros é temporária. Para o crédito habitacional, com 14% ao ano a situação melhora muito. Para que decole, o ideal são 12%.
DINHEIRO ? O novo modelo de financiamento de habitação, que previa a negociação de títulos imobiliários, não foi bem recebido no mercado.
Carazzai ? Verdade. Para que o modelo dê certo precisamos de um sistema tributário menos hostil às operações de securitização. Com quatro incidências de CPMF, como hoje, não dá e ponto final. Além disso, se você tem a garantia do financiamento atrelada ao imóvel mas não consegue recuperá-lo, é evidente que o capital não vai procurar esse tipo de investimento.
DINHEIRO ? Qual é a expectativa de crescimento das loterias?
Carazzai ? Elas cresceram muito nos últimos anos, mas o que mais cresceu foram serviços parabancários. Hoje, 50% das contas no País são pagas em loterias. Mas queremos ir mais longe e, até o final do ano, atingir todas as cidades brasileiras com o correspondente bancário. Com a rede lotérica, a Caixa está em 3.500 municípios. Se tudo der certo, em dezembro teremos pelo menos um ponto de atendimento em cada um dos 5.561 municípios.
DINHEIRO ? Vocês temem a concorrência dos Correios, com o Banco Postal?
Carazzai ? Acho que o tráfego das lotéricas sempre será maior. O ideal para os Correios é alugar o canal de serviços, permitindo seu uso por bancos comerciais. Mas, na minha opinião, esse serviço não deve evoluir para um banco propriamente dito. Todos os modelos internacionais nesse sentido são alvo de críticas severas.
DINHEIRO ? A privatização das empresas de saneamento, parada há três anos, será retomada quando?
Carazzai ? Depende da aprovação do marco regulatório do setor. Sem isso, não há privatização. Investidores estratégicos não assumem compromissos de longo prazo sem uma lei clara. Há
mais de duas dezenas de investidores interessados nas
empresas de saneamento.
DINHEIRO ? Qual é a situação dessas empresas hoje?
Carazzai ? Algumas, como a Sabesp, Sanepar, Caesb e Embasa, poderiam se capitalizar com algumas poucas providências. Mas há empresas totalmente descapitalizadas, que gastam mais de 90% do faturamento com pessoal.
DINHEIRO ? O governo criou uma nova empresa para cobrar os créditos em atraso da Caixa, a Emgea, já apelidada de ?Podrebrás?. Qual é a garantia de que terá sucesso, já que a Caixa fracassou?
Carazzai ? Ela terá 100% de sua energia voltada para a
cobrança. Como empresa não-financeira, ela tem mais
flexibilidade que um banco e pode montar operações de
realização de ativos bem mais flexíveis.