Colocar dinheiro na internet não parece ser uma boa idéia nos dias de hoje. Milhares e milhares de sites e portais saíram do ar, e os poucos sobreviventes ainda não encontraram o caminho do lucro. Pior ainda, se o investidor for de uma outra área, no caso da prestação de serviços. Mais complicado, às vésperas de uma troca de governo. O empresário Marcos Ribeiro Leite parece não ter dado muita bola para isso. Principal acionista do grupo CSU, um dos maiores prestadores de serviço do País, ele resolveu dar o pontapé inicial em um projeto adiado por mais de um ano: a criação da B2C System, cujo objetivo é fazer toda a operação de empresas de comércio eletrônico, do desenvolvimento e manutenção do conteúdo à entrega dos produtos vendidos na porta da casa do consumidor.

É bom dar um crédito para a ambição de Leite. Há exatos 10 anos, ele abandonou uma das vice-presidências do Credicard para criar a CardSystem, que passou a oferecer toda a administração de cartões de crédito para bancos e empresas. Leite tinha 32 anos, havia desenhado uma carreira relâmpago, e muitos previram o fracasso da iniciativa. Tratava-se, na ocasião, de um setor fechado. Pois, a partir dali, Leite criou um grupo de empresas que neste ano deverá faturar R$ 250 milhões, o dobro do registrado em 2001. Para 2003, a expansão prevista é de 40%. Com isso, a CSU tornou-se uma fonte na geração de empregos. Só em 2002, assinou a carteira de 600 novos empregados.

A B2C dará uma boa contribuição para ele manter esse ritmo de crescimento. A empresa foi idealizada há cerca de dois anos. O lançamento, previsto para janeiro de 2002, foi postergado devido à crise mundial detonada com os atentados de 11 de setembro. O que não assusta Leite são as perspectivas dos negócios na web. ?Não existe possibilidade do Brasil e da internet não acontecerem?, diz. A quebradeira no setor também não causa preocupação para ele. ?Houve uma grande consolidação desde o estouro da bolha, em março de 2000. Quem ficou não sai mais e precisará de mais eficiência em sua operação?, raciocina Leite. ?É isso que pretendemos oferecer.?

Em troca, Leite quer garantir mais diversificação em seus negócios. A CardSystem, responsável anos atrás pela totalidade do faturamento do grupo, hoje gera 50% das receitas. ?Queremos reduzir ainda mais esse percentual com o crescimento dos demais negócios?, afirma Leite. O ?nascimento? da B2C seguiu o mesmo roteiro de criação das outras empresas do grupo. Todas surgiram a partir de departamentos que cresceram até adquirir vida independente da companhia mãe. Quando a CardSystem foi criada, por exemplo. Na ocasião, só uma empresa fazia administração de cartões de crédito, a Credicard. A CardSystem passou a oferecer o mesmo serviço, mas com outro preço. Cobrava um valor fixo mensal por cada cartão emitido, enquanto a concorrente ficava com uma porcentagem das vendas. ?Os bancos queriam ter seus próprios cartões, mas se assustavam com a necessidade de montar uma estrutura para isso?, conta Leite. ?Nós oferecemos uma solução para isso.? Hoje, a CardSystem administra nove milhões de tarjetas de bancos como Santander, HSBC, BBV, entre outros.

Para atender esse povo, a CardSystem montou, ao longo do tempo, uma enorme estrutura de atendimento ao público, os call centers. E ali foi o berço da segunda empresa do grupo, a TeleSystem. A idéia surgiu praticamente de uma visita de cortesia de executivos da Embratel, que foram conhecer o call center da CardSystem. ?No final da visita, eles nos sugeriram entrar na concorrência?, diz Leite. ?Como já tínhamos tudo pronto, topamos.? A Embratel foi a primeira cliente da TeleSystem de uma carteira que conta com mais de duas dezenas de grandes e médias corporações. E assim continuou. Da área de análise de crédito dos clientes de cartões, surgiu a CSU Credit&Risk, que presta esse tipo de serviço para outras companhias. Depois foi a vez da Market System, especializada em programas de fidelidade e promoções, cuja origem foi a atividade de call center. ?Como já tínhamos uma base estabelecida, o investimento inicial é mais baixo?, diz Leite. No caso da B2C, ele desembolsará US$ 3 milhões. Se partisse do zero, seria necessário o triplo disso. Com a nova empresa, Leite parte para seu lance mais arriscado e pretende provar, como fez com o setor de cartões de crédito, que a internet pode sim dar dinheiro.