Esta é uma história clássica, mas sempre rara, de empreendedorismo. Nos anos 1980 uma criança de família humilde começa a trabalhar na floricultura embaixo de sua casa, a pedido da mãe, para “sair da rua”. Ganhando gosto pela profissão, cresce e se torna um bem-sucedido criador de arranjos. Com o sucesso, decide empreender, abre a própria floricultura e acaba se tornando dono do maior marketplace do setor no País. Resumida assim, a jornada de Clóvis Souza é um bom argumento para o roteiro de um filme sobre um self-made man à brasileira. Dono da Giuliana Flores, hoje Souza tem 200 funcionários, dez quiosques em shoppings e duas megafloriculturas espalhados por São Paulo. Mas sua joia é o marketplace que já ajudou muita gente a presentear alguém querido de última hora — talvez até você. Mantendo a humildade que o fez iniciar na carreira, traça os planos da empresa que nasceu no mundo físico, cresceu no on-line e agora busca uma espécie de volta às origens, multiplicando as lojas de rua. “A única coisa que eu sei fazer na vida é vender flor e fazer arranjo de flor”, disse Souza.

Dos 10 aos 16 anos, ele trabalhou na mesma floricultura. Iniciou varrendo o chão e limpando flores. Com o primeiro salário, equivalente hoje entre R$ 400 e R$ 500, comprou uma pizza de muçarela no Grupo Sérgio — famosa rede popular de pizzarias em São Paulo entre os anos 1970 e 1980. Encantado com a independência que o trabalho proporcionou, se manteve na profissão e foi construindo seu espaço. Comprou uma bicicleta Caloi 10 metálica e um carro, uma Variant 72. Trabalhar para ele sempre foi sinônimo de crescimento. Após sair do primeiro emprego, seguiu de forma autônoma fazendo arranjos em floriculturas e logo já ganhava mais do que a mãe e padrasto juntos. Entre os 19 e os 20 anos, aproveitando uma oportunidade, alugou uma casa e abriu sua própria floricultura em São Caetano do Sul, cidade da região metropolitana de São Paulo. Isso foi em 1990.

Para a nova empreitada teve a ajuda da família da então namorada, que emprestou o nome para a empresa. Souza diz que não foi uma homenagem direta, mas sim uma admiração pela grafia não convencional e pela origem italiana. A ex-sogra entrou com sócia. Assim nasceu a Giuliana Flores, com 32m2 e letreiros neon, há poucos mais de três décadas.

Como em toda história de sucesso, o começo teve seus desafios. Com pouca verba para renovar o espaço, ele fez mais que arranjos e ajudou a colocar a loja em pé. Sem conhecimento prévio em administração, marketing ou tecnologia, todo o espaço conquistado foi com base “na faculdade da vida”. Hoje a mesma loja tem 600m2 e integra o conjunto de pontos físicos da floricultura, que encontrou o sucesso on-line bem cedo.

Em 2000, e-commerce era um conceito que engatinhava e não estava nos planos do empresário. Pelo menos não com esse nome. Para poder mostrar todos os seus produtos, ele passava de estabelecimento em estabelecimento com catálogos, aqueles impressos mesmo. Para facilitar, baratear os custos e mostrar todas as possibilidades, ele decidiu criar uma versão on-line. Dessa iniciativa surgiu a semente que faria germinar o site de vendas da Giuliana Flores. Atualmente, ele é um marketplace de presente, e vende mais de 9 mil SKUs (diferentes itens). “Tudo relacionado a presentear é o que a gente vem fazendo”, disse. “Hoje isso já representa mais de 50% do nosso negócio e eu nem coloco a mão, só faço a intermediação.”

Mesmo com o sucesso on-line que tornou a floricultura de São Caetano do Sul conhecida em todo o Brasil, o modelo físico nunca saiu dos planos e da operação da empresa. A loja matriz se manteve no mesmo endereço e cresceu. Uma nova unidade de 300m² foi inaugurada em Santo André, cidade vizinha a São Caetano, e mais uma é planejada na Mooca, bairro de São Paulo. Nos shoppings, após a pandemia, dez quiosques sobrevivem. Mas, de acordo com Souza, o plano é migrar do modelo e investir nas grandes lojas de rua para oferecer mais opções e ganhar proximidade com o cliente. “Temos de estar em todas as plataformas”, disse.

Admirador do Silvio Santos pela longevidade e conexão com a empresa que criou, Souza também mantém os negócios em família. Entre seus funcionários estão dois irmãos e uma irmã, um sobrinho e até a mãe, que está sempre nas lojas físicas. “Até os meus 80 e poucos anos quero estar aqui.” Vendendo flores, fazendo arranjos e inovando na arte de presentear.