04/04/2014 - 21:00
O gosto por vinhos finos e o contato íntimo com integrantes das altas rodas da política e dos negócios globais são duas características da personalidade e do estilo de vida do barão belga Albert Frère, 88 anos. Nas últimas semanas, seu nome ganhou as páginas da imprensa econômica e política brasileira graças à polêmica gerada com a transação entre a sua Astra Oil e a Petrobras, envolvendo uma refinaria situada em Pasadena, no Texas, Estados Unidos, celebrada na segunda metade da década passada. O negócio, considerado por muitos lesivo aos cofres da estatal brasileira, que teria desembolsado US$ 1,2 bilhão por um ativo que Frère havia comprado por módicos US$ 42 milhões, não foi a única tacada espetacular do barão.
Talento precoce: aos 17 anos, Frère assumiu o negócio de sucata da família,
que transformou em um império com ativos avaliados em ? 12,7 bilhões
O homem mais rico da Bélgica é dono de uma fortuna de US$ 5 bilhões, o que o coloca na 295ª posição da lista global da Forbes. Foi graças ao apurado faro que, ainda adolescente, aos 17 anos, teve de abandonar os estudos para assumir a pequena empresa familiar, de compra e venda de sucata, após a morte do pai, e se firmou no mundo dos negócios. Workaholic assumido, Frère resume em poucas palavras sua paixão por tudo que faz: “Só pararei de trabalhar quando morrer”. O resultado dessa postura pode ser visto no balanço do Groupe Bruxelles Lambert, a holding que administra seus negócios e na qual atua como CEO.
Levando-se em conta o balanço do primeiro semestre de 2013, os negócios seguem de vento em popa. No período, o barão controlava ativos avaliados em € 12,7 bilhões e possuía em caixa € 2,04 bilhões. Desde 1943, o empresário vem colecionando mais vitórias do que fracassos. Graças, em boa medida, a uma pitada da sorte. Nos anos 1970, quando o governo belga decidiu nacionalizar o setor siderúrgico, o empreendedor era dono de metade das indústrias de aço do país. Foi nesse ponto que Frères mudou de patamar e passou a ser reconhecido como um jogador global, dedicando-se a administrar participações em empresas consolidadas.
Tacada de mestre: lucro de US$ 1,2 bilhão com a venda de refinaria à Petrobras
tornou o empresário famoso no Brasil
Espalhou seus tentáculos por França, Canadá, Suíça e Alemanha, participando ativamente da consolidação de diversos setores, como os de seguros, bancário e de mídia. Uma de suas mais célebres jogadas aconteceu em 2008, quando foi o artífice do processo de fusão da Suez, de energia, com a Gaz de France, dando origem à gigante GDF Suez. Frère detém hoje uma participação de 2,4% do controle da companhia, com receitas globais de quase € 90 bilhões. Parte dessa bolada é obtida no Brasil, onde a companhia atua na construção da Usina de Jirau, em Rondônia, ao lado da japonesa Mitsui e da estatal Eletrobras.
Também fazem parte do portfólio verde-amarelo da GDF Suez a Elektro, distribuidora de energia do interior de São Paulo, além da Tractebel, a maior geradora privada de energia do País. O setor de infraestrutura e a área de energia são apontados como as meninas dos olhos do bilionário. Assim com o megainvestidor americano Warren Buffett, Frère segue à risca o mandamento das escolas mais conservadoras. Antes de entrar em algum negócio, ele analisa minuciosamente o potencial de retorno no médio e longo prazo. Foi com isso em mente que ele decidiu apostar na petrolífera Total. Ao que parece, não se arrependeu. A empresa está entre as parcerias da Petrobras no campo de Libra, um dos mais importantes do Pré-Sal.
Outra que faz parte do portfólio de seu grupo é a Lafarge, uma das maiores cimenteiras do mundo e na qual possui 27% das ações com direito a voto. A timidez diante dos holofotes – Frère raramente conversa com jornalistas – não o impede de transitar com desenvoltura pelos salões da aristocracia europeia. Foi nessas andanças que ele se tornou um dos melhores amigos de reis e rainhas, além de empresários do porte do multibilionário francês Bernard Arnault, com o qual divide o controle da vinícola Château Cheval Blanc. O título de barão foi concedido pelo rei Albert II, pelos serviços prestados à economia do país.