Uma disputa de proporções bíblicas vem sendo travada no setor mineral. De um lado do ringue aparece o Grupo Votorantim, conglomerado de R$ 14,9 bilhões comandado por Antônio Ermírio de Moraes. Do outro está o desconhecido Pedro Nazari, sócio da Brasóxidos Indústrias Químicas, sediada em Mauá (SP) e cujas receitas somam R$ 240 milhões. No centro dessa querela está o mercado de óxido de zinco, que movimenta cerca de R$ 2,5 bilhões. Pelos números envolvidos pode-se dizer que se trata de uma briga ao estilo Davi contra Golias. O inferno empresarial de Nazari começou em abril de 2002, quando a Companhia Mineira de Metais, controlada pela Votorantim, pagou US$ 192 milhões pela Companhia Paraibuna de Metais (CPM). A aquisição fez com que o clã dos Ermírio se tornasse o único fornecedor de zinco do Brasil. E, de lambuja, ficasse com 85% do mercado de óxido de zinco, usado na fabricação de pneus, azulejos e ração animal. A Brasóxidos tem apenas 10% desse segmento. ?Ficamos nas mãos deles na hora de comprar matéria-prima e ainda perdemos clientes porque eles adotaram uma política de descontos que não conseguimos acompanhar?, diz. Acuado pelas práticas comerciais da Votorantim, Nazari reagiu. Em abril de 2003 ele foi ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) denunciar a rival por abuso de poder econômico e concorrência desleal. ?Ou partia para a briga ou via a empresa construída em 20 anos de trabalho ser jogada no lixo?, desabafa Nazari. O processo deverá ser levado ao plenário do órgão até meados de junho. Procurados pela DINHEIRO, os executivos da Votorantim não quiseram se manifestar.

O empresário já conseguiu uma vitória. Em recente despacho, o Ministério Público Federal emitiu parecer recomendando o veto à compra da CPM ou então que a aprovação seja feita com ressalvas. Para manter a Brasóxidos funcionando, Nazari recorre a fornecedores de zinco no Peru, Argentina e México. Apesar de o produto ser isento de tarifa de importação, ele argumenta que a empresa não sobrevive nesse esquema por muito tempo. Isso porque ele não tem capital de giro para suportar a defasagem entre o pagamento da mercadoria (à vista) e a chegada do insumo na fábrica, 120 dias depois. O Cade aparece como a tábua de salvação da Brasóxidos. O processo, no qual a Nazari pede que a CPM seja obrigada a fornecer-lhe por idêntico valor cobrado dos clientes externos, está nas mãos do conselheiro Thompson Almeida Andrade. ?Ele já mostrou que é um homem que não aceita pressão dos poderosos, ao rejeitar a fusão da Nestlé com a Garoto?, argumenta o sócio-presidente da Brasóxidos. Como se vê, Nazari espera sair dessa disputa repetindo a trajetória do personagem bíblico, o pequeno Davi.

A FORÇA DE CADA UM
BRASÓXIDOS INDÚSTRIAS QUÍMICAS
Número de funcionários: 50
Número de empresas controladas: 1

Faturamento em 2003: R$ 240 milhões

Lucro de 2003: R$ 36 milhões

Investimento anual: R$ 200 mil

GRUPO VOTORANTIM
Número de funcionários: 28 mil
Número de empresas controladas: 11

Faturamento em 2003: R$ 14,9 bilhões

Lucro de 2003: R$ 3,4 bilhões

Investimento anual: R$ 3,13 bilhões