02/11/2005 - 8:00
O economista Armínio Fraga já experimentou todos os tipos de sensações que a atividade de homem público pode proporcionar. Quando assumiu a presidência do Banco Central, em 1999, foi visto como uma raposa no meio do galinheiro, devido aos anos em que trabalhou com o megainvestidor George Soros. Depois, foi alçado a salvador da pátria, ao controlar a escalada do dólar, no início de sua gestão. Como a montanha-russa que norteia o mercado financeiro, voltou a ser criticado por não reduzir a taxa básica de juros, prejudicando o setor produtivo brasileiro. Agora, três anos depois de deixar o governo, Fraga prova outro tipo de vivência: a do empresário e empreendedor. Hoje, Armínio comanda a administradora de fundos Gávea, com aplicações estimadas em US$ 500 milhões, tem participação na editora Nova Fronteira e inaugurou a marca de café Rubro. Agora, arrisca uma aposta no setor hoteleiro. Fraga é um dos sócios da Fazenda da Lagoa, hotel na região de Una, a 40 km de Ilhéus, no litoral Sul da Bahia, com inauguração prevista para novembro. Trata-se de uma glamurosa hospedagem com 14 bangalôs e diárias de R$ 1 mil. Tudo isso em uma área própria de 6 milhões de m² de mata virgem. ?É possível empreender preservando a natureza?, diz Fraga.
Os idealizadores e sócios de Fraga no projeto são o empresário Arthur Bahia, amigo de longa data, e a artista plástica Mucki Skowronski. O local foi escolhido à dedo pelo casal depois de terem passado um réveillon na região. ?Ficamos apaixonados pela paisagem e decidimos comprar a fazenda?, diz Mucki. O investimento no hotel não é revelado, mas, a julgar pelo que foi feito, é alto. Os proprietários levaram toda a infra-estrutura da cidade grande sem agredir o meio-ambiente. Contrataram o paisagista Eduardo Lins para manter as características da mata virgem e tiveram de puxar 17 km de eletricidade. A propriedade reúne lagoa, rio e 6 km de praia privada. Não há uma construção sequer em um raio de 15 km. Além da exuberante paisagem, cada bangalô, com 140 m², tem cama tamanho gigante, televisão, DVD e a decoração, assinada por Mucki, esbanja charme. Há ainda acesso à internet, biblioteca, spa, piscina com raia semi-olímpica e passeios organizados pela região. O menu, com pratos contemporâneos, ficou sob os cuidados do chef francês Marc Le Dantec.
O litoral Sul da Bahia é, atualmente, a região com uma das maiores concentrações de hotéis de charme do País. Ali, nas proximidades, em Itacaré, estão, por exemplo, o Txai e o Itacaré Eco Resort. ?É o local da Bahia que atrai o maior número de turistas com alto poder aquisitivo?, diz Claudio Taboada, presidente da Bahiatursa, o órgão que representa o turismo no Estado. Outro fator que favorece o empreendimento é o crescimento da indústria do turismo. De acordo com dados da Embratur, 3,3 milhões de turistas estrangeiros desembarcaram no Brasil, com um crescimento de 15,4% em relação ao mesmo período de 2004. ?O Nordeste brasileiro é um destino atraente para os europeus?, diz Edward Mazzei, diretor da consultoria Trade Hotelaria. ?Além do mais, o real está barato?. A investida, portanto, se dá no local e no momento certos. Em se tratando de Armínio Fraga, habituado a acertar suas apostas, não é surpresa.