Os brutais ataques que vitimaram centenas e chocaram o mundo provocaram de imediato uma reação conjunta de chefes de estados reunidos na semana passada na Turquia para a reunião do G-20. O bloco atravessou de imediato a pauta, que normalmente é centrada em temas econômicos, para tratar de estratégias de reação ao terrorismo. Um dos alvos mais concretos é a tentativa de corte de recursos que bancam esses grupos extremistas. No caso do Estado Islâmico já foi identificado que parte da venda de petróleo do Oriente Médio está ajudando a financiar suas operações.

Isso ocorre porque o EI controla importantes territórios da Síria e do Iraque, de onde, segundo estimativas conservadoras, consegue retirar mais de US$ 50 milhões mensais com o comércio do combustível. Os EUA querem rastrear o circuito desse rentável negócio e assim estancar parte da fonte de sobrevivência dos “jihadistas”. É uma ofensiva complementar, menos belicosa, com alto poder de resposta. O dinheiro que alimenta os fanáticos é vital, principalmente no aliciamento de simpatizantes mundo afora. Além de servir para a compra de armamento pesado.

Outro foco de preocupação e atuação do G-20 passa a ser o do impacto econômico que esses ataques terroristas irão causar. De imediato, a difusão do medo está gerando prejuízos em cascata para o turismo. A França, que conta com uma significativa fatia de seu PIB concentrada na atividade, teme um refluxo significativo da receita do setor nos próximos meses e talvez anos – a depender da duração da ofensiva que pretende lançar contra os inimigos. O mesmo ocorre com a Europa em geral, mergulhada no mesmo quadro. Países como Suíça, Inglaterra e Espanha já receberam ameaças e seguem em constante apreensão e controle, o que afugenta visitantes.

Belgica, base de onde saíram vários dos fanáticos, não fica atrás. Rússia e EUA idem. No encontro do G-20 a conclusão foi de que o recrudescimento do terrorismo deve comprometer ainda mais os esforços para o crescimento global. O euro, que move o Mercado Comum, experimenta uma sutil depreciação frente ao dólar e as demais moedas. Caiu quase 1% na semana do atentado e entrou em observação pelos investidores. No campo das commodities, as transações com petróleo sentirão mais os efeitos. O quadro não é nada favorável.

As opções para a revitalização da economia em escala global estão se esgotando e países emergentes como o Brasil são os que mais sofrem nesse contexto por concentrar suas exportações em produtos não manufaturados. Não bastassem as dificuldades internas, os ventos que vem de fora não são nada animadores. Mesmo a receita da Olimpíada, a ser realizada ano que vem no Rio, está sob risco de revisão. O medo do terrorismo e suas seguidas ações reorientam os investimentos das nações para o combate sem trégua e funcionam como um freio nos gastos daqueles consumidores que interrompem sua rotina.

(Nota publicada na Edição 943 da Revista Dinheiro)