01/08/2012 - 21:00
O personagem Indiana Jones foi baseado no arqueólogo britânico Percy Fawcett, que no início do século 20 esteve na Amazônia para estudar sua população. Longe das telas, o empresário paulista Ulisses Sabará se transformou numa emulação contemporânea do desbravador que sumiu misteriosamente em 1925, quando liderava uma expedição em busca de uma civilização perdida na serra do Roncador, no Mato Grosso. Ao contrário de Fawcett, porém, Sabará se dedicou à busca de tesouros existentes na biodiversidade amazônica. Sua empresa, a Beraca, é a maior fornecedora de insumos extraídos de frutos da região para gigantes da indústria cosmética como Natura e L’Oréal. A empresa aposta no mercado de cosméticos orgânicos, que movimenta globalmente US$ 9 bilhões por ano.
Ulisses Sabará, da Beraca: ”Nosso trabalho com orgânicos para a indústria
cosmética só está começando”.
Hoje, metade de sua produção é exportada e seu faturamento saltou 33% para R$ 110 milhões, em 2011. A companhia atua também em nutrição animal e tratamento de água, mas é a divisão cosmética que mais cresce. A empresa foi fundada em 1956, em São Paulo, como uma distribuidora de produtos químicos, a Sabará Indústria e Comércio, e hoje está em mais de 40 países.. Em 1978, com a morte do fundador, Ubirajara Sabará, a companhia passou às mãos de seus filhos Ulisses e Marco Antônio. Foram tempos difíceis que quase provocaram o fechamento da companhia. A mudança de rumo surgiu com a sugestão de um colega de Ulisses, no final dos anos 1990, que o aconselhou a produzir óleo de jojoba, encontrado no México.
Hoje, o portfólio da Beraca chega a 30 ingredientes, como urucum, acerola, guaraná e açaí. O salto veio da parceria com a Natura, em 2000, quando Sabará foi convidado para participar da criação da linha Ekos. Na mesma época, ele comprou uma pequena empresa incubada na Universidade Federal do Pará, cujo principal produto era o óleo das sementes da andiroba. Para processá-lo, a Beraca começou a construir a fábrica de Ananindeua, na Grande Belém, com investimento de US$ 15 milhões. Na mesma época, houve a mudança de nome para Beraca, extraído de uma passagem da Bíblia. “A história do Rei Josafá, que venceu três exércitos com a ajuda de Deus, se passa no Vale de Beraca que, em hebraico, significa bênção”, diz Sabará.
Hoje, a empresa adquire produtos de 186 comunidades de agricultores do Pará, Amazonas, Maranhão, Amapá, Piauí, Acre, Roraima e Minas Gerais. Com seu renascimento, a Beraca resolveu marcar presença em feiras internacionais. Como o mercado europeu de cosméticos já estava interessado nas linhas orgânicas, a recepção não poderia ter sido melhor. Logo vieram os acordos. A francesa Yves Rocher foi a primeira cliente estrangeira. A L’Oréal veio em 2006 com a utilização do extrato de açaí, na linha Matrix-Biloage, de condicionadores e xampus. A parceria se estendeu para outras três marcas da L’Oréal, como Kiehl’s, Kérastase e Garnier Fructis. “Quarenta por cento de nossas matérias primas são de origem natural”, diz Blaise Didillon, diretor de Pesquisa & Inovação da L’Oréal.
Com o apoio de clientes do porte da Natura e da L’Oréal, a companhia decolou. “A Beraca é uma referência quando se pensa em insumos orgânicos para cosméticos”, afirma Ming Liu, coordenador da Organics Brasil. Esse tipo de avaliação, não exime a empresa de dissabores. A companhia, assim como a L’Oréal, está entre as 35 empresas autuadas pelo Ibama por infração do patrimônio genético. A Beraca foi acusada de não repartir os benefícios de seu trabalho com a indústria nacional e multada em R$ 11 milhões. A companhia afirma que não desrespeitou a lei porque não modificou a genética dos produtos. O cerco é um indicador de que o setor, a partir da experiência pioneira de desbravadores como Sabará, está criando musculatura e assumindo um significado econômico que exige o controle das autoridades.