O mercado cripto enfrenta dificuldades e temores dos investidores. Se por um lado a falta de regulamentação do setor permite que golpes como o caso do faraó dos bitcoins aconteça, o cenário macroeconômico pesa e as criptomoedas recuam no acumulado de 12 meses. Somente o bitcoin caiu 55% entre setembro de 2021 e setembro de 2022.

Até o mercado regulado no Brasil causou prejuízos para o investidor. Alguns dos principais ETFs de cripto tiveram forte queda. Foi o caso do ETF de Ethereum (ETHE11), que caiu 54,2%. Outro ativo, que é o mais negociado do segmento, o HASH11, tombou 58,4%. “Os criptoativos foram pressionados pelas altas da taxa de juros anunciadas pelo Banco Central Americano, o Federal Reserve”, disse o analista de criptomoedas da Acqua Vero, Guilherme Bento.

Ele se refere ao ciclo de alta de juros imposto pelo Fed, que se iniciou em março de 2022, quando a taxa foi de 0,25% ao ano em março para 3,25% ao na última reunião em setembro. “O aperto monetário causou uma fuga de capital desses ativos”, afirmou.

Com esse cenário de remuneração maior em juros e menores riscos na renda fixa, o mercado já regulado de cripto no Brasil não só causou prejuízos para os investidores como também registrou uma diminuição de 36,9% nas negociações, que foram de 14.721 em agosto de 2021 para 9.290 em agosto de 2022.

“A perspectiva negativa para as criptomoedas deve continuar. Uma parte do mercado acredita que o bitcoin vai continuar caindo e deve chegar próximo dos US$ 10 mil até o final do aperto monetário do Fed”, afirmou Bento.

Caso a tese se confirme, a principal criptomoeda do mercado ainda pode desabar 47,6%. Por isso, a recomendação para o investidor que não quiser correr o risco de perder esse dinheiro é ficar de fora. “O melhor para quem não quiser enfrentar esse cenário é ter uma exposição de no máximo 2% da carteira em criptoativos”, disse.

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“O melhor para quem não quiser enfrentar risco de perder até 47% do patrimônio é ter uma exposição de no máximo 2% da carteira em criptoativos” Guilherme Bento analista de criptomoedas da Acqua Vero.

REGULAÇÃO Além do mundo cripto estar contaminado de riscos de mercado, a imagem do setor é afetada por casos de pirâmides financeiras e de lavagem de dinheiro. Para tentar evitar esses problemas, o novo presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Pedro Nascimento, se reuniu na semana passada com o Ministério da Economia. A reunião causou uma expectativa de regulação no mercado.

“A CVM está atenta à questão. Há aspectos como regime informacional, previsibilidade e transparência do setor que merecem ser explorados. O público precisa ter informações disponíveis de forma clara e objetiva”, disse Nascimento. Em nota, a autarquia comentou que uma regulação definitiva do setor depende de aprovação de leis que tramitam no Congresso, visto que ainda não está definido se as criptomoedas ficarão sob os cuidados da CVM ou do Banco Central.

“A CVM está atenta à zona de competência da autarquia e, quando for o momento, trabalhará em uma regulação adequada naquilo que diz respeito ao mercado de capitais”, disse. A autarquia afirmou que está preparando um parecer de orientação que terá diretivas gerais sobre o tema. E que isso não se trata, pelo menos por enquanto, de uma regulação, tendo em vista que não há, atualmente, nenhuma previsão legal. De acordo com a CVM, o documento terá um caráter de recomendação e orientação ao mercado.

Empresas do setor possuem uma posição amigável sobre a regulamentação. A Binance comentou que está de acordo com essa possibilidade. “Apoiamos a regulamentação do setor, globalmente e também no Brasil, bem como irrestritamente o conceito de regulação, sobretudo no que diz respeito à coibição a crimes de lavagem de dinheiro e ilícitos financeiros”, disse a empresa.

Para o sócio-fundador do escritório de advocacia Champs Law, Guilherme Champs, caso a lei caminhe para uma regulamentação da CVM, o investidor pode ser muito beneficiado. “Os crimes como esquema de pirâmide diminuiriam, visto que as empresas que mexem com esses ativos teriam de cumprir exigências que dificultariam os golpes”, afirmou Guilherme Champs.

A regulação ainda parece algo distante no horizonte, principalmente pelo fato de a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) precisar da aprovação das leis que tramitam no Congresso Nacional para tomar atitudes mais definidas. A principal proposta, criada em 2015 e reformulada em 2021, está parada e sem previsão de votação.